Saturday, March 06, 2021
Caricaturas crónicas: «Jomal – a descoberta da dimensão simples» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 15/7/1990
A historia é feita de pequenos nadas, é construída pela multitude de intervenientes, e , na caricatura, como em todas as artes, nem só os génios, os mestres, os profissionais contam.
A descoberta, é
uma das principais recompensas do historiador. É mesmo uma meta por vezes
difícil de atingir, mas noutras, a adesão de terceiros, que lhe fazem chegar
apontamentos, croquis de histórias, anedotas, fragmentos que, associados entre
si, facilitam o conseguir atingir os objectivos.
É o que tem acontecido, nesta minha pesquisa para
estas crónicas, neste reunir gota a gota a história da caricatura. Infelizmente
é um mundo onde as obras se foram perdendo pelas redacções, pelas tipografias,
em que muita das vezes os indivíduos / artistas não passam de assinaturas
(reconhecíveis ou irreconhecíveis) nos desenhos, sem rosto, sem histórias de
vida associadas e reconhecidas do grande público, apenas nomes simples nas
paginas dos jornais e nas tesourarias dos periódicos. Ainda hoje, em que há uma
estrutura mais solida de burocracia administrativa, é difícil encontrar
referências sobre muitos deles nos próprios jornais onde trabalhavam e tinham
cumplicidades jornalísticas. Em contrapartida, amigos e familiares de alguns
desses artistas têm-me contactado (ao contrário de outras que se recusam falar
do passado e dos entes desaparecidos), proporcionando informações importantes,
base destes textos.
A história é feita destes pequenos nadas, é construída
pela multitude de intervenientes e, na caricatura, como em todas as artes, nem
só os génios, os mestres, os profissionais contam. É o que tem acontecido
nestas crónicas onde procuro descobrir os múltiplos traços e autores do nosso
humorismo gráfico.
Hoje descobri um novo nome – Jomal. Um artista que se
dispersou por múltiplos géneros criativos, incluindo naturalmente o humor.
Jomal é João José de Magalhães Alves, natural de Tomar, onde nasceu a 31 de
Março de 1919. A fotografia e o desenho é uma herança que tem antecedentes na
família, razão pela qual não é de estranahr essa sua obsessão infantil e
juvenil de criar jornais para o pequeno círculo familiar, como «O Pequenino»
(quando tinha 9 anos), seguindo-se «O Bébe», «A Penha», «Ver. Barquinha», «A
Voz do Estudante»…
Como não podia deixar de ser, a preocupação
fundamental foi a sobrevivência, a procura de uma profissão estável,
tornando-se funcionário público. Nas horas vagas, a criatividade descomprimia a
burocracia, trabalhando para a publicidade (em agencias, revistas, criando
panos de boca para teatros e cinema…), escrevendo (contos, artigos), fazendo
ilustrações em jornais como «Gazeta do Sul», «Região de Leiria», «Cidade de
Tomar», «Jornal do Entroncamento», «Comércio do Porto»…), fazendo fotografia… A
fotografia deu-lhe, inclusive, diversos prémios em exposições nacionais e
internacionais.
A fotografia foi a grande rival do desenho, porém,
este soube estar presente em momentos importantes, como ilustração e desenho
humorístico. Os jornais onde o humor/caricatura tiveram maior presença foram o
«Jornal Português de economia & Finanças» e «Boletim dos Pecuários».
Porém, destaca-se na sua criação plástica o desenho em
relevo, ou seja «os trabalhos manuais», como ele refere. «Eu procurava criar
coisas com originalidade, e assim surgiu o desenho tridimensional».
Isso aconteceu nos anos cinquenta / sessenta, e agora
que a reforma lhe dá mais tempo disponível, as artes estão de novo a invadir-lhe
o quotidiano, através da pintura, da caricatura simples, e da redescoberta do
humor tridimensional co cujos trabalhos participou nos Salões Nacionais de
Caricatura.
PS: Jomal é pai do grande artista Carlos Corujo
“Zingaro”.