Thursday, February 18, 2021

Caricaturas Crónicas: «Rui Pimentel – um caricaturista em ascensão» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 19/11/1989

 Rui Pimentel acaba de ser consagrado pelo júri do Salão Nacional de Caricatura, ao outorgar-lhe o Grande Prémio do III S.N.C. e o Prémio de Caricatura de Imprensa, referentes aos trabalhos publicados em 1988 na Imprensa portuguesa.

Quando há uns três anos reapareceu na cena humorística, poucos especialistas do meio apostavam nele, pois surgia com um traço fraco e um humor nem sempre certeiro; porém, em breve se impôs, ascendendo rapidamente ao grupo de mestres da actualidade.

Ele próprio tem consciência das suas fraquezas: «Quando comecei a trabalhar em “O Jornal” sentia-me perro, não estava a dar o melhor. Na verdade, a prática é a melhor escola, e assim se vai progredindo, o que se reflecte no próprio dia-a-dia, em que o primeiro desenho é pior que o segundo, como se fosse necessário um aquecimento. Mesmo a imaginação é uma coisa que se exercita. Com o continuar do trabalho, surgem sempre mais ideias. É o tal caso de um tanto por cento de imaginação e um tanto de transpiração».

Quando surgiu a caricatura no lápis do Rui Pimentel? «Quando era miúdi já desenhava, e tentava fazer caricatura. Talvez tenha começado mais a sério por volta de 1969 / 70. Nessa altura estava a estudar em Zurique (Suiça por a mão é suiça – Rui Flünser Pimentel), onde tirei o curso de Arquitectura. Comecei a trabalhar em jornais da associação de estudantes do Politécnico de Zurique. Foi esse o meu início».

«Quando regressei a Portugal, em 75, comecei a trabalhar em vários jornais. Publiquei umas pequenas coisas no «Expresso» e no «República», após o que se seguiu a «Voz do Povo» e o «Tal & Qual». Depois, parei um certo tempo, até começar esta minha colaboração mais assídua com “O Jornal”».

As suas principais influências vêm dos caricaturistas Mulatier, Ricord e Morchoisne, ou seja, uma procura do hiper-realismo levado à deformação exagerada. Um trabalho que, apesar da evolução manifesta no preto e branco, encontrou um campo ideal na cor, onde o Rui atinge mais facilmente o apuro técnico e humorístico. Isto não o impede de continuar a procurar uma maior evolução: «Gostaria de melhorar as técnicas, as formas de intervenção. Não me apetece entrar no estilo parado, mas evoluir, retroceder, avançando sem enquistar, sem me aburguesar no traço».

Esta evolução está também ligada à filosofia humorística, inerente aos seus cartoons, principalmente comparando os trabalhos pós-25 de Abril e da actualidade: «Agora há um amadurecimento, que também está ligado aos ambientes políticos, onde não há tanto radicalismo. Muitos ideais foram-se quebrando com a idade, a experiência, reflexão, sem contudo perder a acutilância de espirito. Hoje, não tenho tantas certezas como no 25 de Abril».

Rui confessa-se como uma pessoa insegura, que necessita do apoio, das críticas, das ideias e conversas com os amigos, com a mulher, necessita dos prémios para o incentivarem neste difícil trabalho que é o humor e a caricatura política. Porém, este não é o seu único trabalho, visto exercer a sua actividade de arquitecto, em franca actividade.

Paralelamente, faz escultura caricatural, ou seja, desenho a três dimensões através do papel maché, ou pasta de madeira, assim como gostaria de tentar o cinema, a cerâmica, a pintura, num afogar da sua tendência à dispersão. «Mas prefiro ser isto, caricaturista e arquitecto, a ser mau noutra arte. Sinto-me realizado naquelas duas artes, como também me sentiria se fizesse só caricatura».


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