Saturday, February 06, 2021
Caricaturas Crónicas: «Francisco Pacheco – uma breve vida Teatral» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 20/5/1989
Saber tudo é o desejo de qualquer especialista, mas nem sempre isso é possível neste mundo, que nos submerge de informações. O caricaturista Aniceto Carmona por várias vezes me tinha chamado a atenção para as caricaturas que decoravam o cine-teatro Politeama, e qu eram assinadas por um desconhecido meu, um tal Pacheco.
Graças ao apoio do Aniceto Carmona, aqui fica a
redescoberta de um autista de grande qualidade, que não teve tempo de se impor
categoricamente na história da arte, pois morreu com apenas 25 anos.
Francisco Pacheco é algarvio, natural de Lagos, onde
nasceu em 1923. Diz-se que, desde tenra idade, o seu espírito satírico farpeou
amigos e professores, no seu mundo limitado. Como quase todos os mancebos, o
horizonte de convivência e de oportunidades foi rasgado com a mobilização para
o serviço militar. Pacheco veio para Lisboa, sendo colocado nos Serviços de
Cartografia do Exército.
Aproveitando as potencialidades que Lisboa lhe dava,
inscrve-se no curso nocturno da Sociedade de Belas Artes e procura
introduzir-se no mundo da imprensa, com as suas caricaturasm possuidoras já de
um traço firme e pessoal.
Estava-se no início dos anos quarenta, e os seus
trabalhos podem-se descobrir na imprensa não diária, como é o caso de
«Filmagem, Mosquito-Magazine», «Vida Mundial Ilustrada», «Século Ilustrado»,
«Universo», «Animatógrafo, «Bomba»…. Paralelamente, fez caricaturas para livros
de fim de Curso, «postais-brinde» para as caixas de bombons da “Favorita”,
programas do cinema Politeama…
As suas colaborações, tanto nos periódicos como nas
actividades paralelas, iam-se especializando no mundo do cinema e do teatro.
Amarelhe, o mestre da caricatura teatral ainda era vivo, mas encontrava-se já
doente e a retirar-se do meio. Pacheco aproveitou esse espaço aberto, entrando
em força com um novo alento gráfico no mundo teatral pela mão do empresário
Piero Bernardon, para quem fez anúncios, cartazes…
Desenhador na linha de Amarelhe, com influências do
modernismo sintético e das correntes caricaturais hollywoodescas que entretanto
se publicavam na imprensa internacional, ele desenvolverá a caricatura
policroma como uma «invasão» da caricatura-charge no retrato, na galeria das
artes maiores. São exemplo disso os vinte quadros que decoravam o Politeama com
«astros» da época.
Pacheco impôs-se rapidamente no meio artístico e,
passados cinco anos de ter chegado a Lisboa, já era um dos caricaturistas mais bem pagos e requisitados. Os convites
vinham de todos os lados, e um, vindo de Lourenço Marques, cativou-o, por ser
bastante rentável, aliado a interesses familiares já lá radicados. Partiu então
no verão de 1947 para as terras africanas.
O artista, que sofria dos pulmões, não suportou a
mudança climática, caindo enfermo, e em Outubro de 1948 morre Pacheco, com
apenas 25 anos de idade, mas deixando já em herança uma obra significativa.