Wednesday, February 17, 2021

Caricaturas Crónicas: «Caricaturistas da República – Alonso / Rocha Vieira» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 8/10/1989

Cada época, cada ciclo da História portuguesa teve sempre os seus humoristas, os seus caricaturistas. A I República, naturalmente, não poderia escapar á regra.

 

Cada época tem um factor, que se impõe como imagem simbólica do tempo, e não há dúvida que hoje, quando se fala na I República, a ideia de arte é o modertnismo, a sua luta (falhada) para modificar o pensamento, a sociedade portuguesa.

Também é verdade que esses momentos, apresentados pela historia como fundamentais símbolos da época, passaram muitas vezes despercebidos dos seus contemporâneos, dando maior valor a elementos, hoje esquecidos ou minorados.

Christiano Cruz, Almada Negreiros, Emmérico Nunes, Jorge Barradas… são os nomes que notabilizamos mas, Gastão de Lys, Rodrigues Castañe, João Maria, Silva Monteiro, Sanches de Castro e Joaquim Guerreiro são artistas que mais dominaram o comentário quotidiano à república, com maior repercussão no pensamento do momento, com especial relevo para os artistas Alonso e Rocha Vieira, que se impuseram pelo seu traço e popularidade.

ALONSO – Alonso é o pseudónimo de Joaquim Guilherme Santos Silva, um lisboeta nascido em 1871, que foi mestre na Escola de António Arroio, decorador, ilustrador, banda desenhista, caricaturista e pintor.

Dizem os que o conheceram, que foi na caricatura onde o seu temperamento artístico se definiu com maior força. Possuía uma rara capacidade de narrativa e humor, num traço redondo, decorativo, entre alegorias, metáforas de irreverência irónica. O seu estilo está na transição entre o rafaelismo final (com influencias arte nova) e o modernismo, e não fosse a rtápida evolução dos estilos nesse período, ele poderia ter-se imposto como um vanguardista.

Assim não aconteceu, e a sua própria personalidade não permitiu um maior contacto com o meio artístico.-humorístico. Viveu modestamente e modestos são os seus dados biográficos. Apenas ficou a sua vasta obra, como registo fundamental do fim do regime e inicio de outro, em jornais como «Passatempo» (1900/4), «O Arauto» (1901/2), «A Paródia» (1905), «Os Ridículos» (1905/29), «O Thalassa» (1913/15), «Almanaque Ilustrado de o Zé» (1915), «’Renovação» (1915/20), «A Batalha» (1925), «Os Grotescos», «O Espectro»….

O seu período mais importante é o da República, pela sua força de intervenç~ºao e comentário do dia-a-dia da política nacional. Com o amolecimento da república, com a implantação de outros valores políticos, o seu espírito critico interiorizou-se, dedicando um maior empenhamento ao ensino e a outras artes de menor intervenção politica como a pintura (onde sobressai o seu rincon vivencial de Sintra). Morreria em 1948.

ROCHA VIEIRA – Alfredo Carlos da Rocha Vieira nasceu em 1883, e cresceria sob a influência de Raphael, com baptismo de «fogo» num descendente da ultima publicação daquele mestre, na «Paródia – Comédia Portuguesa», em 1907.

Foram uns primeiros passos modestos, que vieram a tomar firmeza a partir de 1912, com uma colaboração intensiva no «Século - Suplemento Ilustrado». Apesar de o «Século» ter outros artistas de relevo e de maior importância histórica, Rocha Vieira transformou-se na imagem gráfica daquele jornal.

Ele foi não só a imagem, como o núcleo de tertúlia dentro do próprio jornal, onde acarinhava, aconselhava os jovens, dava oportunidades de publicação… era o humor na República.

Os seus trabalhos não ficaram limitados ao «Século», podendo encontrar-se também no «Sports Ilustrado», «A Batalha», «A Renovação», «Europa», «Espectro», «ABC a Rir», «Sempre Fixe», «Diário de Notícias»… Fez não só cartoons como caricaturas e banda desenhada, com um pleno domínio da narrativa e do humor. O estilo gráfico é que nem sempre acompanhou a qualidade de intervenção. Morreria em 1947.


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