Thursday, January 14, 2021
Caricaturas Crónicas: «Raphaelismo – II» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 20/3/1988
Seria uma
grande injustiça esquecer as várias dezenas de caricaturistas que, com mais ou
menos arte, também foram o testemunho dos tempos de Fontes, que criaram esses
milhares de pequenas obras, a massa donde se destacam as obras-primas.
«É ver o que
se faz desde os tempos e “O Patriota” até aos nossos dias, em que Bordallo
conseguiu um nome enorme. A nossa caricatura tem andado atada à política, em torno
dela vivendo e dela se sustentando, a tal ponto que mais parece ter sido
promovida pelo grande Fontes o Acto Adicional da Carta. E mais tarde, quando o
seu historiador procurar a mais bela figura da sua primeira idade, com grande
pasmo achará, em vez de Raphael Bordallo, o Partido Progressista.
/…/ Esta
maneira de ser do artista em que nos acostumamos a ver o mestre da caricatura
portuguesa, tanta influência tem exercido que não há maneira de o público
encarar uma figura que não pergunte quem é, se o prolixo desenhador lhe não
escreveu na saia a legenda elucidativa: A Opinião». (Veiga Simões, in “A Águia” de 1912)
Seria uma grande injustiça esquecer as várias dezenas
de caricaturistas que, com mais ou menos arte, também foram o testemunho dos
tempos de Fontes, que criaram esses milhares de pequenas obras, a massa donde
se destacam as obras-primas.
Nessa massa existem aqueles de que apenas ficou o
nome, como assinatura de obras esquecidas, outros, que não pertencendo ao
grande livro da “História da Arte, são merecedores de uma referência especial.
Essa referência é por vezes condicionada pelos dados biográficos que chegaram
até nós, já que a maioria perdeu-se na memória frágil dos homens, em vivências
nunca impressas. Por todos estes motivos, e condicionantes, eis alguns dos
rafaelistas a não esquecer:
José de
Almeida e Silva – Um viseense que
trabalho no «Maria da Fonte» (1885/86), no «Charivari (1886/1890) e na
«Cavaqueira Política» (1888). É possuidor de um desenho académico, mas forte,
destacando-se no humor pelo seu domínio do traço, que o levará posteriormente
para a pintura, numa carreira de pintor premiado, dentro do academismo. Viria a
falecer em 1945. (Posteriormente à publicação deste artigo, foi publicada a
obra «Almeida e Silva, Pintor», pelo Museu Grão-Vasco de Viseu em 1996).
Francisco
Teixeira – Natural de Mirandela, onde
nasceu em 1865, é um artista «sem mestre». Emigrante para Lisboa, para estudar
medicina, perder-se-ia na boémia da cidade e da imprensa. Como a maioria, para
além das influências e experiencias do dia-a-dia, em que o seu espirito,
inteligência orientavam o experimentalismo, seria o convívio com os melhores
artistas da época que lhe orientaria o seu estilo de traço negro, geralmente
sem meias tintas. A sua obra surge pela primeira vez em «O Século – Suplemento
Humorístico» (1899 / 1907), complementando-se em «A Comédia Portuguesa» (1902),
«Novidades» (1905/7), «Paródia» (1907), «Tiro e Sport» (1910), tendo sido também director da «Ilustração
Portuguesa» entre 1907 e 1911, data do seu falecimento.
A par do trabalho para os periódicos, o seu traço
satírico ilustrou diversos livros; fez pintura, experimentou a cenografia no
Teatro de Mirandela e Teatro do Principe Real de Lisboa. Teve também
colaboração em jornais brasileiros.
Era um homem de espirito e sociedade, ligado ao
desporto, sobretudo à equitação, e de franco convívio no meio artístico, que
fomentou em tertúlias. Morreu em 1911.
Simões
Júnior, António de Oliveira – Era um
portuense, despachante da Alfandega do Porto, que saiu do anonimato da sua
profissão, pela mordacidade do traço antimonárquico, e anticlerical que impôs
na caricatura portuguesa do fim do século.
Nascido em 1875, foi um autodidacta que entrou na
caricatura através do estilo rafaelista. Adoçado depois pelo gosto decorativo
de um Julião Machado, criando um estilo bojudo e agradável, por vezes raiando a
“art-nouveau” (que na altura Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro também explorava
de vez em quando). Contrapondo-se a essa docilidade de estilo, a sua sátira era
directa e incisiva, principalmente no referente à Igreja, em que ficaram
celebres os trabalhos sobre «Os Serões nos Conventos», no jornal «A Algazarra»
(1900/02).
Iniciou a carreira caricatura em 1895 no «Charivari»,
passando posteriormente pelo «Branco e Negro», «Os Pontos», «Ilustração
Moderna», «Jornal de Notícias» e «O Pagode».
Apesar de ter morrido novo, em 1903 com 28 anos,
deixou uma vasta obra.