Sunday, January 24, 2021

Caricaturas Crónicas: «Pedro Palma, o «cartoon» ilustrativo» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 28/8/1988

 A revolução de Abril abriu as portas a muita coisa, entre elas à liberdade de expressão, do humor, à criatividade. Nesses anos quentes surgiram muitos artistas, muitos cartoons… que se foram esbatendo com o arrefecimento da força de intervenção. A maioria, abandonou este género pouco depois, enquanto outros impuseram-se como os herdeiros daquela profusão de liberdades, de criatividades de humores dispares.

Esse é o caso de (João) Pedro Palma, um artista natural de Serpa, onde nasceu a 3 de Agosto de 1959. Com 15 anos viveu a revolução, e aos 16 anos começou a publicar: «Nesses tempos o “Mundo de Aventuras” tinha umas páginas dedicadas aos jovens, e aí comecei a publicar as primeiras coisas, já humorísticas».

Esta abordagem do humor foi fruto de uma paixão gráfica, «foi uma admiração muito grande pelo David Levine que originou tudo isto. A verdade é que o que se fazia em Portugal, nunca me tinha atraído. Por exemplo, gosto imenso do Stuart, só que aquilo sempre foi muito simples. Ora, como eu tinha um acesso fácil ao que vinha de fora, lia muito a imprensa francesa e americana, foi através dela que me eduquei visualmente, foi ela que me influenciou. Actualmente procuro libertar-me de tudo isso».

As artes gráficas, na vida de Pedro Palma iniciaram-se, como profissional, na mesma altura e com três vertentes distintas – a publicidade, ilustração infantil e cartoon.  Foi em 1979, com 20 anos, que começa a trabalhar em agências de publicidade, que começa a publicar no «Tempo», passando posteriormente pelo «Diário de Notícias», «RTP / Último Jornal», «Bisnau»… Entretanto faz uma incursão por França, conquistando um lugar no «Jeune Afrique» e «Figaro Magazine»… prosseguindo na «Grande Reportagem» e finalmente «no «Expresso», onde trabalha em exclusividade.

Como muitos outros cartoonistas, a sua vida divide-se essencialmente entre a publicidade e o cartoon. «Na publicidade esforço-me por transmitir uma mensagem séria, e não humorística. Quando isso acontece, é mais por influência exterior. Em terrenos de publicidade temo-nos que abstrair do que sabemos, e cingirmo-nos ao produto. No entanto gosto, e procuro, sempre que possível, dar uma pitada de política».

«No cartoon considero-me como um jornalista, e tenho pena que em Portugal não nos considerem assim. Não responsabilizo este estado de coisas apenas aos jornais, porque há muita falta de profissionalismo, não existe unidade de classe».

«A minha visão de cartoonista é ridicularizar as situações, sempre pelo lado negativo, nunca tendo a preocupação de fazer humor, de procurar a gargalhada. Só que também não é a simples ilustração política, o que por vezes tenho feito. Nos jornais nem sempre faço o que quero, mas o que a redacção resolve em reunião. Prefiro o cartoon de opinião, porque o cartoon ilustrativo perde a força ao estar dividido entre o desenho e o texto. O cartoon sem legendas é aquele que tem mais força e impacto».

Na verdade, nos últimos anos, a sua obra tem-se restringido ao cartoon ilustrativo, o que n~ºao o impede de particularmente trabalhar o cartoon e a caricatura liberta das pressões de redacção, nomeadamente em experiências a óleo, para melhor domínio das técnicas, do traço, do estilo gráfico que quer desenvolver. «O meu objectivo é aperfeiçoar-me aqui, e partir para os Estados Unidos, onde é possível viver só do cartoon. Quando estive em França vi que havia hipóteses»…

 

PS: Posteriormente abandonaria o cartoon para se dedicar à pintura e à foto reportagem. Viria a falecer a 28/8/2017 em São Pedro de Sintra.


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