Friday, January 15, 2021

Caricaturas Crónicas: «Jorge Cid e Saavedra Machado, dois rapahelsitas» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Noticias de 19/4/1988

A escola, em artes, é uma consequência natural por gosto estético, por atracção  a um estio-época. Os grandes mestres criaram discípulos, escolas, mas também houve aqueles que pelas condições de um período, pelas particularidades da sua arte, ou por muitas outras razões, foram seres solitários, originais, únicos.

Tambem na caricatura existem escolas, estilos e épocas. Contudo houve grandes mestres como um Christiano Cruz , um Celso Hermínio, um Stuart, um João Abel Manta… que nunca fizeram escola. Se nos anos 30/40 do sécilo vinte, a caricatura sintese foi moda, liderada pelo jornal »Sempre Fixe» e tendo como mestres Teixeira Cabral, Tom, Carlos Botelho, Julio de Sousa… no século dezanove Raphael Bordallo Pinheiro foi o artista que melhor impôs o seu estilo na época, acabando por ser também quem imporia o seu estilo em toda a evolução da caricatura portuguesa.

A sua influencia, academizada porque tranformada em estilo fácil para atingir os objectivos satiricos de uma forma mais directa, impos-se mesmo naqueles que tinham uma personalidade satirica forte, naqueles que tentavam vriar um estilo próprio, original. É o caso de Jorge Cid e Saavedra Machado que apesar de fomentarem um traço próprio, não deixam de ser referências à escola raphaelista.

Jorge Cid é um caricaturista, que sem o ser numa entrega total de profissional, é possuidor de um traço e de uma obra que o distingue no seu tempo.

A sua real profissão foi a medicina, e nasceu em Lisboa em 1877. Ainda jovem, iniciou a sua colaboração caricatural nos periódicos ao lado do mestre Raphael, no «António Maria» (1897), já possuidor de um desenho limpo, um raphaelismo  com forte personalidade humorística. Ainda nesse século colaborou em «O Século – Suplemento Humorístico» sob o pseudónimo de Gustavo Doré Filho.

De novo ao lado dos Bordallos, colaborou em «A Paródia», prosseguindo na segunda série da »Comédia Portuguesa»… isto durante os anos de estudo na Escola Médico-Cirurgica de Lisboa, aonde concluiu o curso em 1904. Devido a esta dupla ligação: humor /medicina, foi um dos principais promotores do evento e publicação da «fanzine» «Millenário de Hipócrates», ua crítica humorística às comemorações centenárias realizadas naquela escola em 1899, assim como do suplemento »Parótica» inserido n «Paródia» em 1900.

De 1909 a 1910 manteve no «Primeiro de Janeiro» uma secçãp de «Bilhetes Postais Ilustrasdos», colaboração nos «Serões» em 1911, na «Atlantida» em 1916/17 e no «Sempre Fixe» em 1927/8. A caricatura aparecia e desaparecia da imprensa consoante o tempo disponível deixado pela medicina, que o absorvia por vezes totalmente.

Esta, levou-o a França, integrado no CEP – Corpo Expedicionário Português, como Comandante da formação da Cruz Vermelha que se deslocou para a frente da Flandres durante a Primeira Grande Guerra, terminando a guerra com a patente de Major. A medicina levou-o tambem para o professorado e Inspector de Sanidade Escolar na Casa Pia de Lisboa, assim como a escrever alguns livros sobre a especialidade.

A sua faceta de  de home, das artes (caricaturista e ilustrador de vários livros) fez com que assumisse o cargo de Conservador do Museu Sacro e do Tesouro da Capela de São João Baptista na Igreja de São Roque da Misericordia de Lisboa.

Jorge Cid viria a falecer em Dezembro de 1935.

 

João Saavedra Machado é outro dos artistas que fazem a caricatura como um trabalho subsidiário à vida profissional, contudo, ao contrário de Jorge Cid, esta estava totalmente embrenhada nas artes plásticas.

Natural de Lisboa, onde nascem em Outubro de 1889, estudou desenho com Condeixa, Luciano Freire, Nunes Junior e anatomia artistica com o Dr. Henrique Vilhena. Diplomado em Desenho pela Escola de Belas Artes de Lisboa, em 1906, foi nomeado desenhador-conservador do Museu Etnográfico da Belém em 1913, e preparador-desenhador do Museu de anatomia da Faculdade de Medicina, em 1920. Desta forma, hoje pode-se encontrar naquelas casas um excelente espólio documental artístico e cientifico.

Iniciou-s no humor e caricatura, em 1906 ma «Paródia – Comédia Portuguesa», o herdeiro do último jornal de Raphael, e dirigido pelo seu filho Manuel Gustavo. Passaria pela «Semana Ilustrada» onde criou a série «Glórias de Portugal», pelo «Século», «Alma Nova», «O Espectro», «O Novo Algarve», «Sempre Fixe», «Revista Ilustrada Portuguesa»… Desenhador de traço fácil, académico por formação, raphaelista por gosto humorístico, ironista por genero de critica.

Escreveu vários trabalhos subsidiários sobre arte e antropologia. Viria a morrer em 1950.


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