Friday, December 04, 2020

«Revista de Livros – “Álbum de Caras” de António, Lisboa / 1985, Edições Jornal Expresso» por Osvaldo Macedo de Sousa in Diário de Notícias de 29/12/1985)

«Que vê caras, não vê corações», diz o povo e tem razão. Também o caricaturista não vê corações, nem é cardiologista, mas vê caras e outras coisas. Vê com mais perspicácia que os outros, vê o mundo e os Homens com maior profundidade, vê através de um filtro, não de raio X, nem «raios te parta», mas de objectividade. A caricatura, apesar de ser uma obra com duas assinaturas, a do autor como estilo, e a do caricaturado como identificação, é também a visão subjectiva (humanizada ou satirizada) de toda uma sociedade, e como tal objectiva, dentro de uma visão-verdade, instigada pelos acontecimentos e vida que rodeiam o ser visado.

O livro, de que falamos, chama-se «Álbum de Caras», e está na cara que é um álbum de retratos caricaturais. Dentro da linha de uma tradição, poderia ter-se chamado álbum de Glórias porque, não só é uma glória entrar na lista dos caricaturáveis por António, como é a recompilação das caras que mais se têm distinguido, tanto no campo nacional como internacional, nos meios colunáveis da política.

António Antunes é o autor, o mesmo que nos deu uns «Suspensórios» para proteger a nacionalidade, o mesmo que deu «cartas políticas» antes das eleições, sabendo de antemão que o «joker» lhe iria estragar o baralho com um quinte naipe, e que agora nos apresenta um álbum de espelhos com o reflexo satírico da sua pena, reflexos de caras deformadas, dizem uns, verídicas dizem outros, já que nunca se sabe de que lado do espelho é que está a deformação.

Nascido no fulgor da democracia, António impôs-se no mundo do cartoonismo e da caricatura com o seu traço de miniaturista, conjugando o barroquismo com a expressão sintética, impôs-se numa arte nem sempre reconhecida pelos pensadores da subjectividade das formas, cores e infra-estruturas, mas reconhecido pelo grande público, como arte de comunicação.

Um álbum de caras para se possuir.


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