Tuesday, December 15, 2020

Caricaturas Crónicas: «Manuel de Macedo, o realismo pitoresco» por Osvaldo Macedo de Sousa (in Diário de Notícias de 27/7/1986)

Pintor da comédia dos costumes, Macedo entendeu o realismo como visão satírica, como realismo da actualidade, visão popular mas erudita, visão paralela à de Nogueira da Silva, só que numa outra evolução estética mais conseguida.

 

«Espirito eminentemente moderno - definiu-o Ramalho Ortigão – todo penetrado dos processos críticos das novas escolas literárias e artísticas, amante fiel da realidade, estudando incessantemente o modelo e a vida, possuindo a consciência plena do fim social da arte». (in «Farpas» vol. XII). Falava de Manuel Maria de Macedo Pereira Coutinho Vasques da Cunha Portugal e Menezes, um nobre na arte realista do costumbrismo, um cronista em humor pitoresco conhecido nas artes por Manuel de Macedo (1846-1915).

Oriundo de uma família nobre, filho de um Par do Reino, teve oportunidade de conviver durante a infância com estrangeiros, de cultura superior, de receber lições de artistas em passagem pelo nosso país, ou seja, um ambiente raro de cultura e arte. Trabalharia também com o Mestre Annunciação, durante ano e meio.

Entretanto, por morte do pai, e como filho segundo, viu-se na necessidade de trabalhar para sobreviver, apesar do apoio de seu irmão mais velho, também ele futuro Par do Reino.

Em 1858 está no Porto, e aí permanece dois anos em total integração com a colónia inglesa. Conhece e estuda com o escocês Alfredo Guilherme Howel, desenhador e aguarelista que o orienta desde logo, para o estudo dos costumes, para a visão do povo na sua realidade vivencial. Um gosto fomentado por essa colónia, que foi o seu primeiro público admirador.

Após estes primeiros trabalhos, passará magistralmente pela cenografia, em trabalhos realizados em Coimbra e Lisboa. Nesta última cidade, onde se fixou definitivamente, o seu campo de actividades artísticas abriu-se com a gravura, a ilustração, a caricatura e a crítica.

«Em 1872 houve uma tentativa em favor da publicação ilustrada e, a convite do gravador Pedroso, fez Manuel de Macedo alguns ensaios d’ilustração; popularizando-se a gravura, o nosso artista lançou-se abertamente n’este género de trabalho. /…/ Typos populares d’uma rigorosa naturalidade, animados d’intensa vida e d’uma scintillante veia humorística, que os torna congéneres dos typos do imortal Gavarni» (Artur Ribeiro, in «Artistas Contemporâneos»).

Tendo-se iniciado pela realismo  costumbrista de influência inglesa, entrava na gravura pelo realismo pitoresco-humorístico de influencia francesa. Seria também, esta cultura que o inspiraria na fundação de revistas de crítica literária e artística como «Artes e Letras» (1872), «Occidente» (1878).

Manuel de Macedo acabaria por ser também professor de desenho no Instituto Industral de Lisboa, publicando como complemento alguns livros de vulgarização artística e técnica, das artes do desenho.

Para além da crítica de arte, ou crónicas, como ele chamou (assinadas, por vezes, com pseudónimos de «Spectador» ou «Pin-sel», seria o primeiro conservador do Museu Nacional de Belas-Artes, fundado em 1884.

Pinto da comédia dos costumes, Macedo entendeu o realismo como visão satírica, como realismo da actualidade, visão popular mas erudita, visão paralela à de Nogueira da Silva, só que numa outra evolução estética mais conseguida.

«O sr. Macedo é talvez – escreveu Andrade Ferreira em 1872 – o nosso artista que possui mais conhecimentos teóricos. Poucos como ele, falam tão bem a linguagem de atelier e entram mais facilmente na parte técnica da arte.

/…/ Abraçou com encarecimento os princípios da proclamada escola realista» (in «Artes e Letras».

Erudito eminente, seria companheiro de tertúlia de Manuel Maria Bordallo Pinheiro, apoiando-o na sua tentativa de realismo, na sua campanha de crítica às artes portuguesas e sua dinamização, trabalhando com ele a gravura, e orientando ambos o gosto de um jovem, que também ele começaria por ser costumbrista, realista, antes de ser o fundador do período de ouro da caricatura oitocentista portuguesa, falo claro de Raphael Bordallo Pinheiro.


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