Sunday, November 15, 2020
«Um Arquivo por descobrir…» por Osvaldo Macedo de Sousa (in «JL – Jornal de Artes e Letras» in 18/4/1989)
A caracteristica mais comum ao nosso património cultural, é a delapidação e assim tem acontecido com o arquivo do Teatro de São Carlos.
Segundo uma cronologia feita pelo arquivista João Azevedo, aquele Arquivo nasceu logo à data da inauguração do Teatro, ao herdar as partituras das companhias líricas do Teatro da Rua dos Condes. Depois, foi a simples acumulação da vida regular de um teatro, porém, já em 1883 Fonseca Benevides (primeiro historiador deste teatro) se queixava de desorganização e penúria do arquivo. Em 1942, é doado ao teatro o espólio de libretos pretencentes ao Tenente José Vitorino Ribeiro.
A partir de meados deste século, o arquivo, após uma breve arrumação da casa, volta à estagnação e é sujeito aos mais diversos saques.
Hoje, graças ao trabalho de João Azevedo, algo mudou. Já existe um arquivo organizado, reunido no mesmo local, uma Sala de Leitua com capacidade para seis utentes e dotada de ficheirio actualizado.
João Azevedo foi contratado em Novembro de 1986. E tinha como curriculum, para além de um curso de piano e de arquivista, a organização das Bibliotecas Musicais da Sé de Lisboa, do Convento de Mafra (com catálogo publicado), do Fundo de Manuscritos Musicais da Livraria dos Condes de Redondo (catálogo no prelo), assim como publicou uma «Tablatura para Guitarra Barroca».
OMS – Qual é aprincipal riqueza deste arquivo?
João Azevedo – Todo o seu espólio é valioso, porque através dele se pode fazer a história da ópera em Portugal, seja através dos Libretos, Partituras…
OMS – Em números, como se traduz este arquivo?
J.A. – Bem, apesar do estado adiantado do inventariio, ainda há dados que não estão totalmente confirmados. Assim posso dizer que temos cerca de 600 partituras manuscritas de ópera, ballets e Oratórios, cerca de 1.000 partituras impressas, 1433 Libretos (se´cs XVII, XVIII, XIX), um arquivo iconográfico, fotográdfico, vuideográfico, fonográfico…
OMS – A maior parte deste espólio em papel provém do século XIX, para além de livros que vêm dos Teatro Reais… Ou seja, como é que este material resistiu até hoje?
J.A. – Perdeu-se muita coisa e o estado de conservação de muitos dos documentos é caótico, seria portanto fundamental criar um departamento de restauro, o mais depressa possivel.
OMS – Creio que para além de todo este trabalho, um dos seus trabalhos é a Sala de Leitura, pois é a primeira que este teatro teve, e é o coração, a vida de um arquivo como história vivida. Estou certo?
J.A. – Posso dizer que tem tido uma boa adesão do público. De junho de 88 até Março de 89 houve 522 pedidos de consulta, assim como 245 requisições dos Serviços do Teatro, para além de 18 respostas por escrito a pedidos vindos do estrangeiro, e 7 de pedidos nacionais.
OMS – Hoje já se pode ter uma visão mais correcta da historia do Teatro e da Ópera em Portugal?
J.A. – A descoberta em qualquer arquivo é sempre importante, e este está recheado de elementos desconhecidos, e importantes.
OMS – Qual o futuro? Há verbas para aquisições, para restauros, recuperação de peças extraviadas?
J.A. – O futuro é prosseguir o trabalho… dar assistencia ao publico interessado.