Sunday, November 15, 2020
«Recordar a “Parada da Paródia”» por Osvaldo Macedo de Sousa (in “JL – Jornal de Artes e Letras” de 4/4/1989)
Recordar é uma caracteristica do homem, podendo ser tambám uma fatalidade, como é o caso do português, mormente virado oara o passado saudosista, em vez de para o futuro.
Foi com saudade, mas não fatalismo, antes humorismo,que se reuniu na Parada, a Paródia. Ou seja, aqueles «moidps» que que há cerca de trinta anos lançaram uma pedrada (possível) no charco da comodidade, através da irreverência humoristica, voltaram a encontrar-se para contarem os cabelos brancos, as calvas, as anedotas da vida.
O que foi a «Parada da Paródia»? Deslizavam, na passividade, os anos cinquenta, com totasl decadencia do «Sempre Fixe», com um «Ridículos» de subserviencia no “gag” frio e insipido. O humor, que era cada vez mais insensivel ao «Picapau», que não conseguia manter a «Cara Alegre», e muito menso o «Mundo Ri(r)», era então a eterna repetição das doze anedotas-chave, aquelas que já vêm escritas na Bíblia.
Entretanto, um General sem medo levantou hostes, despertou espíritos e provavelmente nessa onda de irreverência se pode fazer alinhar a «Parada da Paródia», que apesar de ser dirigida pelos mesmos que já tinham feito o «Picapau» e o «Cara Alegre», tem uma outra inserção no humorismo português, reunindo a nata dos criadores dos inícios dos naos 60, como João Martins, Adolfo Feldlander, Vitor Ribeiro, Arruda… , houve artistas que logo a seguir enveredaram por caminhos como as artes gráficas e a publicidade, num alheamento do humor, como Túlio Coelho, Antunes… e outros que se mantiberam fiéis à sua amante como o Zé Manel, o Manuel Vieira, o Miranda, o Cid, o Agostinho, e ainda hoje são forças vivas da sátira, da caricatura.
A «Parada da Paródia» foi um jornal breve (cerca de 150 números em dois anos) que acabou por equívoco económico (estava a dar dinheiro, mas os proprietários não sabiam). Contudo, apesar da sua efemeridade foi aquilo que já referi – um novo alento no humor do Estado Novo, que era cada vez mais velho, e acima de tudo foi o lançamento de uma nova geração da Parada, visto todos terem ido à tropa (salvo os refractários, por via política), uma geração que veio ocupar um vazio latente com o desaparecimento dnos grandes humoristas do passado.
Este jantar-reunião serviu para artistas (alguns não se viam há dezenas de anos) reverem o que foram e o que são, e também para anunciar projectos possiveis a breve prazo, como eventualmente um Museu (porém, sobre este assunto ainda não se pode adiantar mais nada). Compareceram António Gomes de Almeida (o director de «A Parada»), assim como José e Ruy Andrade (proprietários e Parodiantes de Lisboa), Magalhães dos Santos, Maria João Duarte, Augusto Cid, Vitor Milheirão, Zé Manel, Vasco, Antunes, Túlio Coelho, Manuel Vieira e eu.
Gomes de Almeida recordou «A Parada» como uma «estalada dada na cara do público» que não estava habituado a este tipo de humor, muito rotinado num humor à antiga, e que foi bastante bem surpreendido por um jornal que tinha vida, graça. Tinha vida para o exterior e para dentro, pois cada número era uma festa vivida por todos como uma paródia».
PORTO DE MÓS É EM OUTUBRO
Aproveitando a ocasião, foi anunciado o regulamento e as datas do próximo Salão Nacional de Caricatura – Porto de Mós /89. Assim ficou dito que o Salão se realiza em Outubro, porém os artistas deverão enviar os seus trabalhos para a Câmara Municipal de Porto de Mós (2480) até 15 de Maio proximo.
O Salão terá três sub-salões, ou seja, uma Mostra de Humor Internacional, como homenagem a mestres e estilos, sendo este ano a Grâ-Bretanha homenageada; um III Salão de Caricatura dirigido aos profissionais que publicaram trabalhos durante o ano de 1988 e finalmente um II Salão Livre, aberto a todos os artistas plásticos que desejem participar em desenho, pintura, cartaz, fotografia, escultura, cerâmica de âmbito humorístico. Para além do tema livre, há prémios específicos para temáticas como “Caricatura”, “Humor e o Ambiente”, “Humor e os Descobrimentos”.