Sunday, October 11, 2020

VIRGULA E PONTO… FINAL Por Osvaldo Macedo de Sousa e desenhos de António Ferreira dos Santos

 Hoje, andando a vasculhar os meus textos do passado descobri este projecto inacabado. Foi uma das ideias do Arquitecto António Ferreira dos Santos que queria publicar um livro só com gags de pontos e virgulas e pediu-me um texto inspirador para ele desenvolver a matéria e que depois serviria como prefácio. Ele ainda conseguiu criar quase duas dezenas de cartoons, mas depois esmoreceu e o projecto ficou na gaveta. Aqui publico o meu texto e os desenhos dele.

VIRGULA E PONTO… FINAL 

Por: Osvaldo Macedo de Sousa

    Pôr os pontos no sítio é fácil, o pior é dar lugar às vírgulas. É uma questão de respiração, de oxigénio, de interpretações.

O mundo parece andar com uma grande crise de interpretação, demasiados pontos de vista, demasiados políticos a darem pontos sem nó. É uma grande falha de pontuação não só dos intérpretes, como dos comunicadores. Há muita falta de pontos de articulação, apesar do superavit de pontos negros.





Já houve crises políticas por causa de uma vírgula, mas o éden delas são mesmo os Tribunais, já que elas são excelsas malabares no circo das leis. De vírgula em vírgula saltam os pássaros da oratória e da fantasia, para desprimor da verdade. A culpa, naturalmente, não é das vírgulas, mas de quem as usa, sem um ponto de justiça.

Da tribuna, a virgula tem muito para exprimir, para rebater, para pôr os “pontos nos iis”. Apesar de os “pontos” parecerem mais importantes, quem fala, quem dá as cartas, na realidade, são as vírgulas. O ponto para ter continuidade, necessita de se emparelhar com outro, fazendo dois pontos, o que, em parte, é também uma interrupção no diálogo, para abrir uma nova onda de pensamento. E, finalmente, quando um terceiro ponto se lhes junta, então tudo fica em suspenso, é um fim sem fim. Mas sempre é melhor isto que um ponto negro, inestético, uma mancha no cadastro.

O ponto não é nevrálgico, tem ainda muitos pontos de crescimento para andar, porque não tem verdadeiramente maturidade social. Pode ser fim de frase, fim de parágrafo, mas anda sempre à procura de aliados para manter o seu ego bem firme. Para além da sociabilização com outros pontos (de observação), procura pontos de situação, pontos de contacto, para não falar de pontos de rebuçado, ponto caramelo, pontos de cristalização… Noutros campos, anda a ponto cruz, de cozer ou de tricotar. O ponto de equilíbrio é difícil de se encontrar porque o congelamento ou o descongelamento depende das matérias: não há verdadeiramente um ponto fixo. Tudo muda, tudo se transforma, e muitos estudiosos afirmam que a vírgula é, na verdade um ponto de não retorno, porque continua. Dizem que a vírgula é o ponto de evolução, ou seja, uma adaptação à inteligência humana que tem sempre algo mais para dizer. Não é o simples picar o ponto, é trabalhar mesmo para a comunidade.




A relação entre o ponto e vírgula não tem sido fácil ao longo dos séculos. Tem dependido de muitas interpretações sócio políticas. O mais usual é falar-se de “ponto e vírgula”, mas para mim não é a visão mais adequada, já que o ponto em princípio é conclusivo, enquanto a vírgula tem um rabinho de continuidade, há uma projecção de futuro. Não se pode dizer fim e continuemos. Apesar de, para quem acredite na vida pós-mortem, haver algum sentido naquela expressão. É como um ponto de exclamação, apesar da vida parecer mais um ponto de interrogação.

Já no “Vírgula e Ponto” cria uma frase com princípio, meio e fim. Dá uma construção bem idealizada com um final que tanto pode ser trágico ou feliz.

De pontos de vista felizes é o que todos nós necessitamos. Houve jornais satíricos que quiseram pôr os “pontos nos iis”, outros apenas “Pontos”, e claro que há sempre alguém com “pontos e vírgulas”, mas nós aqui queremos dar vírgulas com pontos de humor do princípio ao fim.

O Humor, tal como as vírgulas não é uma pontuação fácil, dependendo do oxigénio de cada um. Alguns aguentam algo mais profundo, outros têm que ser breves e imediatos para entrarem na expressão. Certamente que não se poderá esperar muito de simples vírgulas palradeiras perante pontos calados, mas sempre dá para vermos até que ponto vai a imaginação. E ponto final.
















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