Monday, April 20, 2020
PALOMO UM CHILENO COM ALMA CARIOCA por EDIEL RIBEIRO
"A marcha militar está para a música assim
como Pinochet está para a Democracia." (Palomo)
Rio de Janeiro - Em 1994, fui convidado - eu e
um monte de cartunistas - para desfilar na Ala dos Cartunistas da Escola de Samba Acadêmicos da
Rocinha.
A Escola, com o enredo “Humor Pra Dar e
Vender”, fazia uma homenagem ao humor e aos humoristas.
O samba, ainda lembro, tinha um refrão
forte que dizia: “sou carioca/sou sacana como o quê/ tá sobrando no barraco/
humor pra dar e vender.”
Por problemas etílicos, acabei não
desfilando, mas, em um dos ensaios, conheci, através do Ziraldo, o cartunista
Palomo, um dos meus ídolos.
José Palomo Fuentes é um dos mais
consagrados cartunistas latino-americano, chileno, adorava o carnaval carioca.
Volta e meia visitava o Brasil, para participar da folia.
Colaborou com “O Pasquim” no auge do
semanário. Boêmio e bem humorado, era amigo do Henfil, Ziraldo e Jaguar com
quem frequentava o Bar do Marcô, em Santa Tereza.
“Henfil, um dos mais impressionantes
cartunistas brasileiros, costumava dizer que o humor é como o vinho. E assim
como as videiras e galhos, combinados com o clima, a luz solar e a água, dão de
um clarete a um vinho tinto espesso e denso, da mesma maneira que cada
sociedade elabora o humor com o qual processa sua experiência de vida social”,
disse.
Morando no México onde se exilou desde
que Augusto Pinochet chegou ao poder e instaurou a Ditadura Militar Chilena
(1973-1990), a agonia de Palomo começou no início de setembro de 1973, quando
voltava para casa, depois de um dia de trabalho. Palomo foi avisado por um de
seus vizinhos, um exilado brasileiro, que a polícia estava em sua casa
esperando para prendê-lo.
O cartunista se refugiou na embaixada
mexicana onde pretendia ficar até a tempestade diminuir. Tinha um
encontro marcado com o poeta, cantor e compositor Victor Jara, com quem
celebraria o lançamento de seu álbum “Canto por Travessura”, ilustrado por ele.
Mas, foi avisado pelo embaixador
que o amigo tinha sido detido e levado para o Estádio Nacional, de
Santiago, onde fora torturado e assassinado, como aconteceu com muitas pessoas
que nunca mais foram vistas.
A carreira de Palomo como cartunista
começou no Chile, em 1963, aos 20 anos. Trabalhou nos
jornais “Clarín”, “El Mercurio”, “El Siglo”, “La Quinta Rueda”, “El Peneca”,
“El Pingüino” e “La Chiva”, entre outros.
No México, onde chegou como exilado
político, em 73, foi co-fundador dos jornais “Unomásuno”, “La Jornada” e
“Reforma”. Além disso, colaborou em “El Dia”, “El Economista” e “El Universal”.
Os trabalhos mais conhecidos de Palomo é
a tira “O Quarto Reich”, publicada no jornal “Unomásuno”, onde retratou, ao
longo da década de 1970, as ditaduras que assolaram a América Latina e a
história infantil “Matías e o Bolo de Morango”, consideradas duas jóias de
humor universal.
A obra de Palomo é reconhecida por sua
universalidade, por sua capacidade crítica e por seu humor implacável e
terrivelmente politizado.
“Quando vejo fotos de soldados chilenos
queimando livros, acho que esses pobres desgraçados nunca imaginaram o que
teria acontecido se, em vez de queimá-los, eles os tivessem lido. De vez em quando
eu desenho meu terrorista favorito, uma sombra que, furtivamente, joga uma
cópia de Don Quixote ou Treasure Island em um quartel”, disse.
"Para mim, desenhar nunca foi um
trabalho, sempre fiz o que gosto: desenhar. Então, eu nunca trabalhei na minha
vida", contou.