Friday, April 10, 2020
O MULTITALENTOSO MARIANO por EDIEL RIBEIRO
Mariano - Arte: Willian
“A santíssima trindade da caricatura
brasileira é formada por quatro cartunistas: Nássara, o espantoso; Chico, o
virtuoso; Loredano, o tortuoso e Mariano, o raivoso.” (Jaguar)
RIO
DE JANEIRO - Outro
dia, escrevi aqui n´O Folha de
Minas (MG) e no “O Dia” (RJ), sobre a “Muda
Brasil Tancredo Jazz Band”, uma banda composta só por cartunistas; formada por
Chico, Paulo Caruso, Reinaldo, Luis Fernando Veríssimo, Aroeira e Cláudio Paiva.
Esqueci do Mariano.
Ele
me ligou: “Ediel, eu também tocava nessa banda!”, reclamou.
Tocava
sim. Era o clarinetista.
Mariano
é multitalentoso. Fez e faz tantas coisas que é impossível lembrar de todas
elas.
Essa
semana, fez mais uma coisa que nunca tinha feito: 70 anos.
Faz
aniversário no mesmo mês em que “O Pasquim” fez 50 anos. A história do Mariano,
por sinal, se confunde com a do semanário carioca. Estão juntos desde a
criação.
Quando
Mariano chegou ao “O Pasquim”, aos 20 anos, o jornaleco ainda engatinhava. Era
um bebê. O cartunista ficou até o fim. Só não é mais antigo que o Jaguar, que
ficou para apagar a luz.
Mas
Mariano fechou a porta, depois que a luz apagou.
Mariano
é natural do Espírito Santo (ES) e carioca por adoção. Chegou ao Rio no início
dos anos 70.
Por
incentivo de colegas da faculdade, em 1971 mandou seu primeiro desenho para “O
Pasquim”. A publicação foi o início de sua promissora carreira de cartunista,
chargista e ilustrador.
Publicou
nos jornais “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “Última Hora”, “O Pasquim”,
“Opinião”, “Movimento”, “O Nacional” “Terceiro Mundo”, “Cartoon”, “Jornal do
País” e “Jornal da Ciência”.
Foi
um dos pioneiros na criação de charges animadas para telejornais nas TVs
"Manchete" (1998) e “Bandeirantes" (1990).
Único
cartunista a vencer o Salão de Humor de Piracicaba nas três principais
categorias: charge (1982), caricatura (1984) e cartum (1988) . Foi premiado em
diversos outros salões de humor, no Brasil e no exterior.
Jaguar
é enfático: “Quando eu ainda tinha saco para ser jurado de concurso de
caricatura, dar o prêmio para o Mariano já estava virando rotina. Era só bater
o olho no desenho dele e não tinha pra mais ninguém”.
Mais
Mariano não é bom só no desenho, escreve também muito bem. Tem dois livros
publicados: “Abre-te Sésamos”, de 1981 e “Até aí Morreu Neves”, de 1985.
Outra
coisa: criou e mantém até hoje o site “Charge On Line”, no ar desde 1996
como a principal referência do humor gráfico na internet.
Arte: Mariano
Além
de cartunista e chargista, Mariano também manda bem na ilustração. Uma
caricatura que fez para ilustrar uma matéria sobre o sucesso que o filme “Vai
Trabalhar Vagabundo” vinha fazendo na França, rendeu elogios do ator Hugo
Carvana que chegou a pedir ao Jaguar o original da caricatura do menino.
Além
das charges que Mariano levava prontas para o jornal, sempre pegava uma
ilustração para fazer. De preferência, às das crônicas do Aldir Blanc.
Até
que um dia, o próprio Aldir pediu para que Mariano passasse a ilustrar todas as
suas crônicas. A parceria durou vários anos e rendeu dois livros: “Rua dos
Artistas e Arredores” e “Porta de Tinturaria”.
O
jornal de Ipanema foi uma verdadeira escola para o garoto. Com Jaguar conheceu,
através da New Yorker e dos livros de Siné, Sempé, Wolinski, Steinberg a
história da caricatura no Mundo.
Com
Fortuna aprendeu a só entregar a charge para o editor no último minuto: “Assim,
não dá tempo para ele fazer nenhuma alteração no seu trabalho”, dizia o mestre.
Com
Millôr aprendeu ética, integridade, civilidade e cordialidade.
Henfil
e sua luta pela aprovação da Lei de Direitos autorais, lhe ensinaram a
lutar por seus direitos.
Se
apaixonou pela simplicidade, economia e minimalismo visionário do traço
do Nássara.
Com
Fausto Wolff e sua incorruptível ideologia, fez um curso completo de caráter.
Com
Ziraldo aprendeu a ser generoso; com Redi, a modéstia e com os colegas do
“baixo clero do traço” Nani, Agner, Calicut, Lapi, Guidacci, Duayer, Reinaldo e
outros, a amizade e companheirismo.