Friday, April 10, 2020
LOREDANO : 'MINHA CACHAÇA É A IMPRENSA' por EDIEL RIBEIRO
Jaguar é fã do cartunista Steinberg. No início da carreira,
“chupava” descaradamente o romeno.
Como não tinha grana para comprar as
revistas estrangeiras, fez amizade com o gerente de uma livraria chamada
“América & China”, que ficava na rua do Ouvidor que o deixava admirar os
desenhos de Steinberg, publicados na revista “The New
Yorker”.
Era tão fã que não admitia que um
cartunista não conhecesse Saul Steinberg, segundo ele, o
"Picasso do desenho de humor”.
Cássio Loredano - Divulgação
Um dia, Cássio Loredano, então um rapaz
com vinte e poucos anos, recém chegado de São Paulo, que desenhava para o
jornal “Opinião” - em um prédio vizinho - foi conhecê-lo na redação do “O
Pasquim”, em Copacabana.
“Você não conhece Steinberg!??”,
indignou-se. “Toma! Leia esses livros!”
Loredano leu tudo que pode de Steinberg.
Mas leu também Hermenegildo Sabat, Luis Trimano, e J. Carlos. Copiou os mestres
até encontrar o próprio caminho. "No início, era uma poluição
violentíssima. Mas, com o tempo, você vai limpando, vai encontrando a essência
da fisionomias", conta.
Loredano Cássio Silva Filho, nasceu no
bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro (RJ), em 1948. Seu pai era um
oficial da Cavalaria e sua mãe uma dona de casa, cearense, filha de um
abolicionista que libertou os escravos do Ceará, antes mesmo de 1888. Seu pai
estava de passagem pelo Rio, e Loredano acabou nascendo no Hospital do
Exército. passou a infância entre os Estados do Paraná, Minas Gerais, Rio
Grande do Sul e São Paulo.
Em São Paulo, ainda adolescente,
deixou a casa dos pais e seguiu para Santo André, na Grande São Paulo.
Começou em 1968, no “Diário do Grande
ABC”, em Santo André, que tinha acabado de virar diário. Entre 1968 e 1969,
atuou como revisor, repórter, diagramador, redator, secretário gráfico, secretário
de redação e caricaturista.
Nelson Rodrigues - Por Loredano
Na capital, trabalhou como repórter na
sucursal paulista do jornal O Globo (RJ) onde conheceu, por intermédio de
Elifas Andreato, o caricaturista argentino Luís Trimano, ilustrador do Jornal
da Tarde (SP).
Mudou-se, em 1972, para o Rio de
Janeiro, e, a convite de Raimundo Pereira (um dos donos do jornal) assumiu o
cargo de ilustrador no recém-fundado semanário “Opinião”. Sem verba para
fotografia, a direção decidiu que o jornal seria todo desenhado.
Dono de um estilo único na criação de
caricaturas, seu traço forte, preciso e dinâmico, impressiona pela captação de
gestos e impressões.
Nas palavras de Millôr Fernandes, “filho
de um oficial de cavalaria, Loredano desde cedo se sentiu obrigado a desmontar
o ser humano”.
No Rio, colaborou, eventualmente, com o
“Jornal dos Economistas”, ‘O Pasquim”, “O Globo”, “Jornal do Brasil” e com as
revistas “Veja” e “Piauí”.
Morou na Alemanha, França, Itália e
Espanha, colaborando para grandes periódicos como: “Frankfurter
Allgemeine Zeitung”, “Die Zeit”, “La Repubblica”, “Il Globo”, “Libération”,
“Magazine Littéraire” e “El País”.
No retorno ao País, em 1994, fixou-se
novamente em São Paulo, trabalhando para os jornais “O Estado de São Paulo” e
“Gazeta Mercantil”.
Pesquisador, Loredano escreveu livros
sobre os cartunistas J. Carlos, Nássara, Guevara, Figueroa e Luis Trimano.
Avesso aos avanços tecnológicos, até
hoje ele afirma não saber trabalhar em computadores. "O original é nanquim
e papel, um negócio anacrônico mesmo."
Loredano, hoje com 72 anos, divide o
apartamento na Rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, com a mulher, Rosana Lobo,
as filhas e cerca de 4.000 livros.