Friday, April 10, 2020
GONZALO CÁRCAMO, ENTRE TRAÇOS E CORES por EDIEL RIBEIRO
Um dia, conversando com Jaguar, ele me falou sobre um caricaturista chileno que morava em São Paulo.
Disse
que o artista, chamado Gonzalo Cárcamo, veio parar no Brasil aos 16 anos,
fugindo do regime de Pinochet e estava de malas prontas para voltar ao Chile
porque não conseguia emprego por aqui.
“Uma
puta sacanagem”, disse ele.
Escrevi
para ele. É, naquela época - pasmem - as pessoas escreviam cartas! Era 1986,
tempos de pré-internet. Eu estava editando um jornal de humor chamado
“Cartoon”, e ofereci a ele espaço no jornaleco para ele publicar seu
trabalho.
Alguns
dias depois, ele me respondeu. Me enviou uma carta muito bonita e generosa,
escrita à lápis. Elogiou a iniciativa de criarmos um jornal de humor e enviou
diversas caricaturas, que publiquei em duas páginas, na edição de número 4.
Gonzalo
Ivar Cárcamo Luna, ou simplesmente Cárcamo, nasceu em 8 de fevereiro de 1954,
na zona rural, próximo a Los Angeles, uma pequena cidade ao Sul do Chile.
Filho
de um rude camponês e de uma dona de casa sensível e doce; apreciadora de artes
e leitora de livros. Cárcamo deu os primeiros passos numa casa humilde, mas cheia
de quadros nas paredes pintados pela tia Tetey.
Em
casa, a tia pintora assinava a Seleções
Resder´s Digest que trazia estampada na capa lindas aquarelas.
Com modestos recursos técnicos ele as copiava. O esforço era imenso.
Em
1974, iniciou o curso de arquitetura na Universidade
Técnica Del Estado, no Chile, mas, apaixonado pelo traço de Oscar
Niemeyer, em 1976 decide concluir o curso de arquitetura no Brasil.
“No
Chile há excelentes cartunistas como Palomo e Guillo, mas, com a ditadura
militar, não havia como viver de desenho de humor por lá. As ditaduras não têm
boa relação com a arte e muito menos com a democracia", afirmava.
Em
São Paulo, iniciou a carreira de caricaturista publicando no jornal “Bagatela”,
uma espécie de pasquim, publicado por dois amigos e encartado no jornal
“Diário do Grande ABC”, em Santo André.
REPRODUÇÃO
Em
seguida, viaja para a Espanha para estudar pintura. Lá, colaborou com o jornal “El País” , levado por
Cássio Loredano, que conhecera no “Diário”, em Santo André.
Em
1988, retorna ao Brasil e vai morar em Salvador, onde passa a publicar no
“Jornal da Bahia”. Por lá, as coisas não iam bem e após dez anos no Brasil,
Carcamo resolve voltar para o Chile.
Foi
aí que ele deu de cara com um exemplar d´ “O Pasquim” que, na época, vinha
encartado no “Jornal da Bahia” e resolveu escrever para o semanário carioca.
Jaguar,
impressionado com a arte do chileno, publicou duas páginas com os trabalhos do
caricaturista, com um texto pedindo que dessem uma ajuda para que o rapaz não
voltasse a cair nas garras do ditador Pinochet.
"Isso
de publicar na imprensa devo ao Jaguar. Foi ele que publicou minhas
caricaturas no Pasquim, em 1986. Guardo profunda gratidão e admiração por ele,
por Trimano, Miran e Paulo Caruso, que me ajudaram a projetar o meu trabalho
por aqui", afirma.
A
seguir, surge o convite para a exposição "Faces", no Rio de Janeiro, ao lado dos
grandes caricaturistas do Brasil: Trimano, Loredano e Chico Caruso. Depois
disso, o artista não parou mais, já desenhou para diversos jornais e revistas
brasileiras como “Isto É”, “Veja”, “Carta
Capital”, “Época”, “Penthouse”, e “Folha de S.Paulo”.
Em
1989, a publicação de suas caricaturas na revista “Gráfica”, dirigida por
Oswaldo Miran, impulsiona sua carreira na área editorial.
Cárcamo
publicou cinco livros voltados para o público infanto-juvenil entre eles "O Amigo Fiel",
adaptação de um conto de Oscar Wilde; “Lorotas da
Cobra Gabi ”; “ A
Fantasia do Urubu Beleza” (Melhoramentos); “Thapa Kunturi” (Companhia
das Letras) e “Gelo nos Trópicos” (Companhia
das Letrinhas).
"Tenho
verdadeira paixão por escrever e ilustrar livros para crianças", confessa.
A
partir do ano 2000, aliou a escrita e o desenho à paixão por pintar aquarelas.
No mesmo ano, inaugura uma galeria de arte, conhecida como Mangue Galeria em
Paraty (RJ).
Hoje,
além de ilustrar livros, Cárcamo pinta ao ar livre e dá aulas de aquarela em
seu atelier situado no coração da Vila Mariana, em São Paulo.