Sunday, January 08, 2017

Mário Soares em Caricatura - 20 Anos de Democracia satírica – Mário Soares visto por Caricaturistas (Exposição no Palácio Presidencial de Belém Julho 1995 comissariada por Osvaldo Macedo de Sousa)

João Abel Manta

(Texto do Presidente Mário Soares como introdução do catálogo da exposição)
            A democracia é o regime no qual ninguém está acima da crítica. Muitas vezes, melhor do que longos discursos, argumentações cuidadas e raciocínios sofisticados, é com meia-dúzia de traços e uma frase curta, certeira, acerada, inteligente que se desafiam poderes, denunciam situações, de injustiça ou de ridículos, e se diz que “o rei vai nu”.

       As ditaduras têm, por isso, grande medo e aversão ao humor. Salazar ostracizou os caricaturistas, alguns de génio, que se refugiaram no quotidiano e nos costumes, sendo-lhe em absoluto interdito a caricatura política. Quem não se lembra da extinção do “Sempre Fixe” e dos constrangimentos sofridos por Francisco Valença ou por Stuart? Quando Marcelo Caetano tentou, sem êxito, “liberalizar” o peso da ditadura permitiu o aparecimento de duas, três inocentes caricaturas dele próprio, o que constituiu uma grande novidade. Foi sol de pouca dura.
 
    Ao contrário, os regimes de liberdade sabem que a sátira é um dos meios de reforço e aperfeiçoamento das instituições e dos homens. Já diziam os antigos: “Rident castigat mores”.
      
       Ao longo destes mais de vinte anos de democracia, tenho sido um dos alvos privilegiados de nossa democracia satírica, o que muito me honra.
   
       A circunstância de ter estado presente em diversas funções, tornou natural que assim acontecesse, à semelhança de tantos protagonistas, de todos os quadrantes, destas duas décadas tão ricas, interessantes e contraditórias. No que se me refere, houve outras razões de peso: a configuração física que acaso se presta particularmente à caricatura – as bochechas são, por exemplo, tema obrigatório dos caricaturistas -, o estilo um tanto descontraído, a propensão para o improviso, sem grande medo do ridículo, a resposta pronta, que não exclui – como é inevitável quando se trabalha sobre os acontecimentos e sem arame – uma ou outra gaffe…
           
        Tudo isto tem servido de pretexto aos caricaturistas. E, também, naturalmente, os meus actos que mereceram reprovações, crítica, inevitáveis discordâncias, Por vezes, violentas e muito corrosivas.
          
        Tenho-me esforçado, todavia, por considerar as caricaturas que de mim fazem como matéria de reflexão, achando-lhe quase sempre graça, mesmo que as considere tremendamente injustas. Com a passagem do tempo e a distância que traz, verifico que a sátira, frequentemente, perde muito da sua agressividade e que os autores e os visados se podem com ela divertir em conjunto. E o diálogo que daí ocorre acaba por tornar-se um salutar exercício democrático.
           
       A exposição que tive a ideia de promover no Palácio de Belém representa, em primeiro lugar, uma homenagem aos caricaturistas portugueses, que admiro e entre os quais conto alguns amigos. Todavia, a organização e os critérios de selecção dos autores da exposição não me pertence, mas ao coordenador Osvaldo macedo de Sousa, especialista em história do humor gráfico português.
A caricatura política foi um dos meios de luta contra a ditadura e, por isso, sempre reprimida, de diversas maneiras, pela censura. Com razão, aliás, do ponto de vista dos ditadores, porque a caricatura é uma arma terrível!
           
Baltazar Ortega
         Depois do 25 de Abril, e com o restabelecimento da liberdade de expressão, a charge política adquiriu um grande fulgor. Apareceram cartoonistas que, com grande originalidade e talento, renovaram a tradição portuguesa, entroncando-a no movimento do cartoonismo internacional mais avançado, e elevando-o ao nível do genial Raphael Bordallo Pinheiro. Nos conturbados e contraditórios anos da Revolução de Abril, o cartoon foi, frequentemente, o comentário crítico mais inteligente e lapidar dos acontecimentos.
      
Augusto Cid
      Com a institucionalização da democracia, seguiu o seu caminho, na pluralidade das sensibilidades dos vários artistas que a têm cultivado. Quase sempre, com muito talento, reconhecimento nacional e internacional, tendo ganho, justamente, em toda a comunicação social, incluindo a televisão, direito de cidade.
           
Zé Manel
       Esta exposição, realizada no Palácio de Belém, residência oficial do Presidente da República, que quis aberta ao público, pretende ter também um sentido pedagógico – lembrar que todos erramos e, por isso mesmo, devemos ser criticados, em particular os políticos, e saber corrigir a nossa acção através da crítica. É essa a superioridade da democracia.
           
António
O riso é uma forma de inteligência e o talento para o provocar é um grande dom só concedido a alguns seres humanos.

                                                                                              Mário Soares

Pedro Metello

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Maia

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