João Abel Manta
(Texto do Presidente
Mário Soares como introdução do catálogo da exposição)
A democracia é o regime no qual
ninguém está acima da crítica. Muitas vezes, melhor do que longos discursos,
argumentações cuidadas e raciocínios sofisticados, é com meia-dúzia de traços e
uma frase curta, certeira, acerada, inteligente que se desafiam poderes,
denunciam situações, de injustiça ou de ridículos, e se diz que “o rei vai nu”.
As ditaduras têm, por isso, grande
medo e aversão ao humor. Salazar ostracizou os caricaturistas, alguns de génio,
que se refugiaram no quotidiano e nos costumes, sendo-lhe em absoluto interdito
a caricatura política. Quem não se lembra da extinção do “Sempre Fixe” e dos
constrangimentos sofridos por Francisco Valença ou por Stuart? Quando Marcelo
Caetano tentou, sem êxito, “liberalizar” o peso da ditadura permitiu o
aparecimento de duas, três inocentes caricaturas dele próprio, o que constituiu
uma grande novidade. Foi sol de pouca dura.
Ao contrário, os regimes de
liberdade sabem que a sátira é um dos meios de reforço e aperfeiçoamento das instituições
e dos homens. Já diziam os antigos: “Rident castigat mores”.
Ao longo destes mais de vinte anos
de democracia, tenho sido um dos alvos privilegiados de nossa democracia
satírica, o que muito me honra.
A circunstância de ter estado
presente em diversas funções, tornou natural que assim acontecesse, à
semelhança de tantos protagonistas, de todos os quadrantes, destas duas décadas
tão ricas, interessantes e contraditórias. No que se me refere, houve outras
razões de peso: a configuração física que acaso se presta particularmente à
caricatura – as bochechas são, por exemplo, tema obrigatório dos caricaturistas
-, o estilo um tanto descontraído, a propensão para o improviso, sem grande
medo do ridículo, a resposta pronta, que não exclui – como é inevitável quando
se trabalha sobre os acontecimentos e sem arame – uma ou outra gaffe…
Tudo isto tem servido de pretexto
aos caricaturistas. E, também, naturalmente, os meus actos que mereceram
reprovações, crítica, inevitáveis discordâncias, Por vezes, violentas e muito
corrosivas.
Tenho-me esforçado, todavia, por
considerar as caricaturas que de mim fazem como matéria de reflexão,
achando-lhe quase sempre graça, mesmo que as considere tremendamente injustas.
Com a passagem do tempo e a distância que traz, verifico que a sátira,
frequentemente, perde muito da sua agressividade e que os autores e os visados
se podem com ela divertir em conjunto. E o diálogo que daí ocorre acaba por
tornar-se um salutar exercício democrático.
A exposição que tive a ideia de
promover no Palácio de Belém representa, em primeiro lugar, uma homenagem aos
caricaturistas portugueses, que admiro e entre os quais conto alguns amigos.
Todavia, a organização e os critérios de selecção dos autores da exposição não
me pertence, mas ao coordenador Osvaldo macedo de Sousa, especialista em
história do humor gráfico português.
A caricatura
política foi um dos meios de luta contra a ditadura e, por isso, sempre reprimida,
de diversas maneiras, pela censura. Com razão, aliás, do ponto de vista dos
ditadores, porque a caricatura é uma arma terrível!
Baltazar Ortega
Depois do 25 de Abril, e com o restabelecimento
da liberdade de expressão, a charge política adquiriu um grande fulgor. Apareceram
cartoonistas que, com grande originalidade e talento, renovaram a tradição
portuguesa, entroncando-a no movimento do cartoonismo internacional mais
avançado, e elevando-o ao nível do genial Raphael Bordallo Pinheiro. Nos
conturbados e contraditórios anos da Revolução de Abril, o cartoon foi,
frequentemente, o comentário crítico mais inteligente e lapidar dos
acontecimentos.
Augusto Cid
Com a institucionalização da democracia,
seguiu o seu caminho, na pluralidade das sensibilidades dos vários artistas que
a têm cultivado. Quase sempre, com muito talento, reconhecimento nacional e
internacional, tendo ganho, justamente, em toda a comunicação social, incluindo
a televisão, direito de cidade.
Zé Manel
Esta exposição, realizada no Palácio
de Belém, residência oficial do Presidente da República, que quis aberta ao
público, pretende ter também um sentido pedagógico – lembrar que todos erramos
e, por isso mesmo, devemos ser criticados, em particular os políticos, e saber
corrigir a nossa acção através da crítica. É essa a superioridade da
democracia.
António
O riso é uma forma de inteligência e
o talento para o provocar é um grande dom só concedido a alguns seres humanos.
Mário
Soares
Pedro Metello
Rui Pimentel
Maia
Pedro Palma
Joana Campante
Carlos Laranjeira
Henrique Monteiro
Francisco Rocha