Sunday, July 14, 2013
Rosário Breve - Um gozo diferente da comum gente por Daniel Abrunheiro
Nas terras pequenas, as
existências idem são por vezes mosqueadas de um gozo diferente do da carne
(viva ou assada), por a ela concorrer tão-só a serotonina específica da emoção
má chamada “desforra”. Nas terras maiores não será talvez muito diferente, mas
disso não falo por coerência retórico-geográfica: nada valho, nem (d)a terra
onde vivo. Mas adiante.
Foram os casos, esta semana, da
queda daquela arrastada e paulatina e errada figura tão desfasada do real como
os islamitas do toucinho, os indianos da higiene e o zamericanos das crianças
desarmadas, amailo da condenação efectiva a dez anos de prisa daquele quisto
lustral que em má-hora soube guindar-se ao leme de um Clube que já viveu
melhores assembleias e melhores coloniais.
O gostinho a pólvora no
palato da alma substanciou-se-me de uma doçura que já só pertence ou à justiça
inequívoca ou às crianças desarmadas.
No dia da demissão do
ministro que falava devagar e prejudicava depressa, regressava eu a casa de uma
incursão de cinco dias à minha cidade-natal. Dei por mim, quando soube da velha
nova, a assobiar solfejos de adolescente a quem o futuro é um futuro de sentido
obrigatório, proibido é que não. Libei a nova (no sentido de “notícia”, que às
vezes tenho de explicar tudo) apeadeira com uma tacinha fria de branco agulhado
da Mealhada que me soube a champanhe em Montmartre sustido em sovacos por
coristas do Moulin Rouge.
No dia seguinte, soube-se
daquilo do burlão que ainda gozou uma data de tempo o preto e o prato em
Londres até que o TriboPortunogal o cangou a preceito. Sorri então eu o mais
escarninho dos meus rictos – se o Vale e Azevedo, por uns (não muitos, mesmo
assim & afinal) milhões, apanhou o que apanhou, quantos não apanharia (em
milhões e anos) o Gasparzito, o Lento-Rápido, no caso de as fraudes com direito
a carimbo governamental serem vistas e tidas e entendidas e punidas como tão
criminosas quão as do foro privado?
É ciência corrente que “com uma pistola se rouba um banco, mas com
um banco se rouba toda a gente”. O roubar só é crime, sabemo-lo, dependendo
do lado do balcão. Ora, esse (não tão metafórico quanto isso) balcão ladra e
morde. Já o médico (por regra) se distingue do político (com excepções) por
isto: aquele jura por Hipócrates, enquanto este é um hipócrita que jura. Entre
o Gaspar e o Vale, no cadinho já não crisol do meu entendimento, a diferença
está na evidência de o advogado só ter lixado o Benfica, ao passo(s) que o
alegado “génio financeiro” deu cabo do
Benfica, do Sporting, do Penafiel, do Lusitano de Vildemoinhos, do União de Tomar,
das Académicas de Coimbra e de Santarém e de Newark, da Segurança Social
Futebol Clube, do Comércio & Indústria das Relações com as Mulatas de Cabo
Verde, da Juventude Salesiana do Tempo em que os Hoquistas de Doze Anos ainda
não Eram Vítimas de Pederastia, do Futuro dos Nossos Filhos Todos sem Excepção,
do meu vizinho João, do Pequeno Retalho de Famalicão, do Bom & do Mau Jesus
de Braga, mais de Quem Consome, se Some e não Paga, dos Pescadores de Caxinas,
do Alterne Lusobrasileiro das Meninas, do Barbeiro Abel, do Tanoeiro Ismael, do
Copeiro, do Furriel, do Porco & do Respectivo (do Porco) Granel.
Vale e Azevedo tem muito quem
o substitua. Gaspar só teve, ou tem, esta bracarense chamada Albuquerque que,
ninguém sendo de facto, se deu já O ao luxo-lixo de deveras mentir, antes de
Ministra ainda, ao Parlamento. Triste sina e triste sino: tudo por nós dobra.
Tudo nos cobra. Deve ser obra.
Jure-nos Hipócrates, ainda
que nos não cumpra.
Antes nos um menino daquele
do zamericanos de pistola na mão e do tamanho antropométrico do novel
desempregado, vulto Gaspar, vulto qualquer coisa dessas.