Saturday, April 27, 2013
Banhada términ’ortográfica p’ra português ver - Rosário Breve – Cronica de Daniel Abrunheiro
Todos os nomes dos meses terminam
em O (O de Opressão) menos Abril, que
conclui em L de Liberdade.
Relvas
termina em S. De Sacanita. Portas,
idem. Troika – em A de Abuso. FMI –
em I de Imperialismo. Santarém, em M
de Moita, esse grande telenovelista
alegadamente criminólogo e comprovadamente oleiro de rosáceas de gesso anti-património
eclesial: Malheureusement – como
diria o francês que inventou o Mulãruge. Todos os dias supostamente úteis
terminam em A – de Agonia. Sábado e
domingo também em O – de Ora-Bolas. Etc.
Procedo a
estas verificações prontuárias “derivadó-facto” de me sentir entediado.
Aborrecido. Espinafrado. E todo prepúcio da corneta (o que não é glande coisa, como diria o chinês que
descobr’inventou a roda, o papel, a pólvora e a EDP).
Portugal,
que eu amo porque sou uma besta não reciclável, aborrece-me até às lágrimas
egressas do bocejo mais escancarado.
Aborrece-me
o Cristo-Rei de Almada, a que o vulgo ateu (como eu) graciosamente chama
“Saca-Rolhas”.
Aborrece-me
o Garnizé de Barcelos.
Enfastiam-me
o Zé-Povinho das Caldas e o Coiso de barro, das Caldas também, dele.
Esmói-me o
bestunto a couve-flor que a gritadeira arregalada conhecida por Mariza usa à
(ou por) cabeça.
Entenebrece-me
a moela a hibernação comatosa do senhor Presidente da República.
Emaranha-me
as gónadas o estado-novismo emaciado a xanax do senhor Primeiro-Ministro.
Arrefenta-me
os guizos o cristianismo postiço dos católicos (e o dos protestantes também, e
o dos mórmones também, e o dos budistas também etc.).
Repugna-me
a gelatina da espinal-medula a barbárie “cultural” da tauromaquia. (E não, não
tenho medo algum de dizer isto em voz alta ao Ribatejo todo.)
Desconjuntam-me
a ossatura as televisões ditas nacionais só emitirem trampa óptica.
Arrepimp’ouriça-me
a cidadania (que aliás pratico sem redenção nem pecado, juro que sim) que o
cartaz pró-tacho-de-Santarém do PS diga tão-só “Idália Serrão” sem dizer mais nada, nem que fosse uma qualquer
mentirinha bem intencionada tipo “Flores
nunca mais, Obrigado ó Rosa”.
E
envergonha-me não ter ido, não ainda, àquele antigo hotel rural na Azóia de
Cima acompanhado por essa suculenta (e lenta) posta de carne chamada Andreia e
cujo heterónimo oficioso é “Viviana” quando luxo-acompanhante de e “para homens solitários, desacompanhados e
carentes”, a crer no item n.º 03 da rubrica Sopa da Pedra da pretérita edição do nosso jornal.
E
agradar-me? Agradar-me-á alguma coisa neste infecto rincão de rectangular
formato, neste desínclito morredouro de sem-tostões? Sim.
Sim: as
manhãs diáfanas como ósculos de criança; os arvoredos envernizados do sol que
esmalta o olhar de vê-los ondulando à brisa como searas de vento à Manuel da
Fonseca; as praias tripuladas por gaivotas que se vêem e crêem águias brancas à
ilusória bola-de-espelhos da luz; Os
Pescadores de Raul Brandão; a poesia de António Osório; e as formosas
portuguesas que por ruas nossas e praças de mais ninguém mesmerizam de
sandálias finas como fiambre da perna os cronistas ateus que só sabem dizer mal
do desGoverno e da vida própria.
Vida que
termina em A. A de Adeus. Ou de Até-para-a-semana. Ou de “Agonia nunca mais, obrigado.”
Ó Rosa.