Tuesday, May 22, 2012
A minha vida sexual quase todinha por Daniela Abrunheiro
Rosário
Breve
Daniel
Abrunheiro
A minha vida sexual
quase todinha
Esta
crónica é uma antecipação. É uma finta, também. Antecipo-me ao telefonema que o
sr. Relvas deve andar há que tempos para fazer a meu respeito e não só ao
d(uart)irector deste jornal. Escrevendo-a, pois, finto essa inenarrável
senhoria da nossa triste praça política. Antes que ele me ameace com a
truculenta exposição público-ribatejana das minhas intimidades mais pudendas,
exponho-as eu (a nu, claro) e fico-me a rir.
Para
começar em aura da mais sã verdade, não tenho grande coisa a contar. Já devo
ter comido para aí, sei lá, umas quarenta gajas, das quais só duas estrangeiras
porque sou fraco em língua(s). Muitas vezes teve de ser vestido e à pressa
porque os pinhais não são de cinco estrelas. Conheço muito banco traseiro de
Opel Corsa e muito apeadeiro deserto da desmantelada CP regional. Só em casos
muito raros cheguei à segunda, p’ra ser sincero. Atingi aliás já aquela fase em
que mais de meia hora de cambalhota me parece tão ficção científica quão
ginástica inverosimilhança. Em moço, era muito optimista: certa ocasião, tendo
copulado a contento, esqueci-me de que a parceira já era vesga antes de abater
a saia, pelo que me perturbou a possibilidade de ter feito força a mais, a
ponto de lhe ter escangalhado as oftálmicas. Outra ocasião, com metade das
minhas excursões estrangeiras (uma marroquina bonita como um figo moreno), tive
de bramar como um camelo senão a rapariga não conseguia. O que são as saudades
da terra, valha-me Alá. A última vez que fiz? Já não m’alembra. Deve ter sido
para aí em Novembro de 1999, mas não sei já com quem. Os nomes dos gajos
esquecem-me muito. Ah pois é!
Actualmente,
a minha vida sexual é similar à de p’r’aí dez milhões de lusitanos: passiva e
colaboradora, a nível de impostos, gás, água, luz, combustível, pingos-doces,
miguéis-relvas e Oeiras a breve trecho. A verdade é que a única coisa que ainda
se me levanta em condições não é o penduricalho genital, mas a vontade a mais
sincera de mandar o Governo ir-se éfe. Num pinhal, perto de lobos com cio e sob
a promíscua Lua que tanto cu tem iluminado em traseiras de tanto Opel Corsa.
Assim
chega, ó Miguel?