Sunday, December 13, 2009

17 de Dezembro no Museu Nacional do Teatro (Lisboa) Inaugura a exposição de caricaturas "Vozes Liricas do séc.XX"

O primeiro acto do ser humano é um grito de terror por ter chegado a este inferno, assim como o ultimo é um suspiro de alívio por daqui partir. A voz é, pois, um dos meios de comunicação mais importantes do Homem. Através dela, não só manifesta as suas dores e alegrias em sons guturais, como modela os sons em palavras de amor, de diálogo, de ordem, de ironia, de musica…
A expressão artística, para além do riso, é uma das características que distingue o Homem dos outros animais. Dentro das múltiplas fórmulas criativas, a ópera é aquela em que mais expressões estéticas se entrelaçam para o resultado final. Tudo começa no sonho de uma história, alegre ou trágica, encarcerada em palavras que sejam sintéticas e moldáveis em melodia. Com elas a música transforma a secura do texto em melodia, em harmonias várias, na polifonia dos sentimentos e situações. Junta-se então o pintor/escultor/arquitecto que cria fundos cénicos, que dá ambiência tridimensional à história, encenada e representada por cantores/actores e, por vezes, bailarinos acompanhados por músicos e maestro que dão consistência harmónica à construção.
A ópera, ou seus similares como Zarzuela, Opereta, Musical… é a conjugação de diversas artes no triunfo do entretenimento em que a voz atinge os limites da excelência da interpretação, da sua exploração harmónica e expressiva. A necessidade de atingir vasto número de ouvintes, de ultrapassar a orquestra e a distância entre o palco e a sala obrigou o Homem a criar técnicas de projecção vocal, de exploração de todas as ressonâncias faciais e peitorais para se fazer ouvir.
Estas composições operáticas têm feito correr muitas lágrimas de prazer, seja em comunhão com a tragédia, seja em gozo apenas auditivo, seja pelo desfrute do prazer de observar a vitória sobre os limites humanos da vocalidade melódica. Das notas mais agudas às mais graves, o cantor exprime os sentimentos, as sensações que o compositor quis transmitir.
Quem são as melhores vozes? A Professora lírica Lola Rodriguez Aragon dizia: “O Cantor genial não é aquele que tem boa voz, mas aquele que triunfa”. Para se triunfar deve-se ter boa voz, mas também uma magnífica musicalidade, ser bom intérprete e muita vontade de querer vencer, ultrapassando por vezes os limites da ética de camaradagem. Na voz, como em todas as profissões, isto tudo é um mundo selvagem de lobos e cordeiros. Escolher uma centena das melhores vozes do século é uma escolha subjectiva, porque cada um faz uma escolha diferente. Estas vozes são uma escolha (minha em colaboração com Frederico Santiago), eventualmente uma lista com muita gente a concordar com ela, se não a 100% pelo menos a 90, 80, 70%… São cantores que ao longo do séc. XX, emocionaram muitas plateias, e acima de tudo deixaram gravações esplendorosas de óperas, concertos, árias, lied… Na realidade este factor discográfico acaba por ser muito importante numa selecção destas, visto hoje em dia só termos consciência das qualidades vocais desses artistas do passado através destes registos fonográficos. Certamente que houve cantores que foram tão grandes como estes, mas que ao não terem tido a oportunidade de gravar, ficaram ignorados na memória futura. Quem se evidencia são naturalmente aqueles que conseguiram fazer carreira nos países com forte tradição discográfica.
Portugal não teve cantores importantes? Claro que sim, mas onde estão os registos sonoros dos irmãos Andrade, de Tomás Alcaide, Lomelino Silva… Houve artistas nacionais que conquistaram públicos além fronteiras como os já referidos, ou Regina Fonseca, Zuleika Saque, Elisabethe Matos, Fernando Opa, José Fardilha… Houve grandes sucessos com Natália Viana, Elizette Bayan, Cristina de Castro, Carlos Jorge, Álvaro Malta, Elsa Saque, Vasco Gil, Carlos Guilherme, Lia Altavila, Elvira Ferreira, Ana Paula Russo, Sonia Alcobaça… tantos nomes, e tanta gente que vai ficar ofendida por eu não referir aqui outros nomes. Ninguém é profeta na sua terra, e os ciúmes, as invejas são mais vivas quando vivemos perto. Uma selecção com nomes portugueses ainda seria mais polémica.
É uma homenagem à arte Lírica e ao mesmo tempo uma homenagem ao primeiro dos grandes tenores do séc., Enrico Caruso, o primeiro que melhor e mais profusamente usou as novas tecnologias da memória fonográfica. Uma homenagem ao cantor que também fez a união destas duas artes: a lírica e a caricatural. Amante da caricatura, foi um privilegiado croquista da cena lírica, deixando magníficos registos caricaturais de colegas (alguns seleccionados nos 100 nomes), de montagens, de bastidores… um mundo gráfico desconhecido de muitos frequentadores destas salas de musica.
Os artistas gráficos que colaboraram nesta aventura, são: António Amado, Artur Ferreira, Carlos Amorim, David Pintor, Eduardo Esteves, Ferreira dos Santos, Gogue, Henrique Monteiro, Joaquin Aldeguer, Leandro Barea, Michel Casado, Miguel Salazar, Nelson Santos, Omar Perez, Paulo Veloso, Pê (Pedro Ribeiro Ferreira), Ricardo Galvão, Rodrigo de Matos, Rui Pimentel, Rui Duarte, Santiagu (António Santos), Sex (Maria José Mosquera) e Zé Manel. Através destes traços podemos também apreciar a riqueza estética da caricatura, a diversidade de estilos, a força do prazer de sugerir feições, traços para que as nossas memórias nunca se esqueçam destes eleitos para este álbum de glórias do mundo da voz.
Osvaldo Macedo de Sousa
Uma produção da Humorgrafe

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