Monday, July 20, 2009
Historia da Caricatura de Imprensa em Portugal -1902 (Christiano de Carvalho, Jorge Colaço…)
Por Osvaldo Macedo de Sousa
Em 1902 verifica-se uma nova situação censória nos jornais de Raphael Bordallo Pinheiro, o que é sintoma da opressão que se vivia. Raphael sempre teve o cuidado de nunca passar a linha. Os vários casos existentes de problemas judiciais sempre foram exageros por parte da polícia, já que ao contrário de um Celso, de um Leal da Câmara e de um Cristiano de Carvalho, Raphael sempre procurou nunca atacar personalidades. antes situações . .Mas neste ano a Paródia terá um seu número confiscado.
Foi o nº 152, por causa da sua última página onde se vê Hintze a dar graxa às botas do Rei, um desenho assinado por Manuel Gustavo. Curiosamente, talvez devido ao prestígio de Raphael, e por na verdade o desenho não ser insultuoso, o Juiz do tribunal, numa atitude inédita, desautoriza o Censor Juiz Veiga, não confirmando a «prohibição ordenada e efectuada pela autoridade competente e mando que do fundo especial das multas, a que se refere o paragrafo 8 do Art° 39° da carta de Lei de 7 de Julho de 1898, seja indemnizada a administração da «Paródia» com a quantia de 8$000 reis.»
Em 1902 surge "O Petardo", a "Revista Nova"... e mais artistas surgem, alguns para deixar apenas meia dúzia de obras na imprensa, outros para iniciar mais longas carreiras. Destes efémeros artistas podemos referir os nomes de Constâncio Silva, Penteado, Aníbal Rosário. I. Sílvio. Rafael Brás. Kappa. Carlos Branco, M. Soares, Emídio de Freitas, Ruthra, A. Moreira, Acácio Lino (que se celebrará como pintor). Paulino Gonçalves, Quaresma, Ilídio Carneiro, Baptista Machado, Alves Braga, A. Martins. E Meneses. H. Jorge, Manuel Magalhães...
Outro artista que, apesar de não ser um inovador estético marcou profundamente estes anos, é Cristiano de Carvalho.
Quase todos os caricaturistas oitocentistas, mais cedo ou mais tarde viraram republicanos. Raphael, por exemplo, foi um dos mais importantes arautos do republicanismo. por uma via de humor irónico, apesar de sempre defender a objectividade crítica, e por vezes atacar os próprios republicanos. Houve jornais satíricos declaradamente monárquicos, e outros republicanos. Mas também já vimos. Que no caso de alguns republicanos, a sátira sentiu a necessidade de ultrapassar certas barreiras, e tornar-se pant1etaria. Cristiano de Carvalho estará de uma certa forma dentro deste grupo, sem assumir a agressividade de um Leal da Câmara. Para ele, o que era necessário, não era a alteração do regime, mas da sociedade. Não eram apenas os políticos, mas todo o sistema. Através dele o anarco-sindicalismo entra na sátira gráfica.
«Cristiano de Carvalho pertence a essa minoria idealista que sonha uma humanidade nova, mais humana e melhor. É um artista de combate e um espírito sem egoísmos, que consagra o seu talento e a sua arte a defender causas nobres e causas justas.»
«É que Cristiano de Carvalho pertence a essa plêiade dos que, com fé intrépida em dias novos e homens melhores, crêem que a arte desempenha um papel social, insubstituível da perfectibilização humana quando norteada por um princípio de superioridade moral.»
«Arte pela Arte quasi não faz sentido. O que faz sentido é a arte pela verdade, a arte pela justiça, a arte pela vida, a arte para enobrecer e melhorar os homens.» (in Ilustração Portuguesa. 6 121908). Desta forma, o poeta Manuel Laranjeira, o amigo de tertúlia de muitos artistas plásticos nortenhos (inclusive primeiro orientador estético de Amadeu de Sousa Cardoso), apresenta-nos um homem que foi um activista político que usou a escrita e a caricatura como elementos de esclarecimento e doutrinação das pessoas: Não é mais um humorista satírico que comenta a sociedade, mas um homem que usa a arte pela verdade. pela justiça, pela vida.
Natural do Porto, onde nasceu em 1874, esteve ligado desde muito cedo ao movimento republicano. por opção de oposição ao regime (não em ideologia, já que era anarco-sindicalista), e ao jornalismo panfletário. Ainda com dezassete anos viu-se obrigado a emigrar por motivos políticos. Estabeleceu-se então em Paris, a Cidade-Luz da liberdade política e das artes. Aí desenvolveu a sua formação cultural e política.
Passados sete anos, ou seja em 1908, regressou a Portugal para retomar a sua campanha plena de idealismo ideológico e irreverência política que o conduzirá à caricatura.
Os seus estudos no estrangeiro não o induziram nas novas correntes estéticas, que desabrochavam na Europa, principalmente em França, talvez porque sendo estas experimentalistas não eram certamente as mais adequadas para a comunicação mais directa com o povo em aprendizagem revolucionária. Quase fiel ao raphaelismo, ele preferiu desenvolver um estudo ideológico, com uma linguagem gráfica academisante e acessível ao gosto do operariado.
A sua formação política levou-o a uma participação directa no movimento operário português, o que o torna um caso muito curioso da caricatura (Nogueira da Silva tinha sido, também, um activista no meio operário). Dentro desse âmbito, ele surge no humorismo, não como um artista que utiliza a sua estética como irreverência, mas um operário, um industrial tipógrafo que utiliza a sua técnica em favor da luta política. Uma curiosidade dos seus originais: Os artistas faziam os desenhos como se devem ver, tendo o operário litógrafo desenhá-lo em espelho na pedra, para que quando fosse impresso saísse direito. Cristiano de Carvalho, como 'operário' que era. procurava facilitar a vida à pessoa que fazia a passagem para a pedra litográfica, e desse modo desenha já o desenho invertido, ou seja, os seus originais hoje devem-se ver ao espelho para se conhecer a sua verdadeira visão final. Cristiano de Carvalho tinha a sua oficina aberta à imprensa panfletária, ajudando todos aqueles que quisessem utilizar a imprensa como arma, e criando ele próprio os jornais necessários para veicular esses ideais. As suas obras podem-se encontrar, por exemplo no "Diabo Júnior" (1902), ou na "Caricatura" (1904), jornais de sua propriedade. Esta actividade mereceu-lhe vários problemas judiciais durante a Monarquia.
Cristiano de Carvalho, um irreverente que procurou intervir na sociedade, em transição do século, como oposição ao regime, mantendo-se depois em alerta nos tempos da República. Aqui terá outra função a sua actividade, como veremos posteriormente. Mas podemos já adiantar que virá a morrer em 1940.
Outra figura marcante desta última década da monarquia é Jorge Colaço, director e desenhador do «Suplemento Humorístico do Século»
Quando se passa pelas velhas estações de caminho-de-ferro, o azul e branco dos azulejos que retratam recantos pitorescos da nossa paisagem, ilustrando episódios da nossa história, chamam-nos a atenção. São obras que fixaram uma certa forma de decoração nacional, arte que deve a sua redescoberta, ou redimensionalização, a um grande artista do humor, Jorge Colaço
Os Colaços eram uma família portuguesa radicada em Marrocos há vários séculos, e onde várias gerações mantiveram o Consulado Geral, ou seja, eram agentes diplomáticos de Portugal. Apesar destes cargos oficiais, o pai do nosso artista, o primeiro Barão de Colaço e Macnamara, era também um homem dedicado às artes da pintura e caricatura. Perante estes antecedentes, é natural a predisposição para as artes, manifestada desde jovem em Jorge Colaço.
Tendo nascido em Tânger em 1868, veio para Lisboa fazer os estudos liceais. Terminados estes, e como as nossas Belas-Artes não estavam tão belas como isso, partiu para Madrid, onde estudou com Laroche e Fontan. Em 1886, e graças ao apoio do Conde Daupias, parte para Paris, procurando aprender os segredos do naturalismo com o mestre espanhol Carmon.
Em Paris estudou e trabalhou. Como pintor conseguiu expor uma tela no Salon de 1 893, o que é um autêntico êxito. Colocar uma obra num "Salon" era o sonho de todo o artista, já que ser aceite por um júri académico, era uma forma de consagração. Por outro lado também teve êxito no âmbito caricatural, ao conseguir trabalho no jornal "Le Figaro".
Até então não tínhamos tido notícias da sua arte de caricaturista, mas é natural que sob a orientação de seu pai, e como fruto do seu espírito satírico, sempre a tenha feito. O "Figaro" era um jornal importante e para um português, nos anos 80/90 do século passado, entrar como seu colaborador, era um facto extraordinário. Além disso, creio que Jorge Colaço foi o primeiro emigrante da caricatura portuguesa a trabalhar, como colaborador permanente, num jornal francês.
Sete anos permaneceu em Paris, teve 'êxito' na pintura e na caricatura, mas o espírito de Jorge Colaço ainda não tinha encontrado a sua tranquilidade, ou seja, a razão do seu futuro. Em 1893 vemo-lo ingressar na carreira diplomática, como Vice-cônsul de Portugal em Tânger, para logo em 96 voltar para as artes.
Passando por Lisboa, a caminho do Brasil onde pensava poder triunfar, é convidado para dirigir o "Suplemento Humorístico do Século", lugar que aceita. O cargo de director conjuga então com o trabalho de caricaturista de êxito. E aqui ficará o resto da sua vida.
Um dos factores do seu êxito, para além do humor acessível, era o seu traço filiado no movimento estético predominante, ou seja, o raphaelismo, enriquecido com o naturalismo da sua pintura afrancesada.
Como director do "Suplemento Humorístico do Século" permaneceu dez anos (1897-1907), publicando posteriormente os seus trabalhos em jornais como o "Dia", a "Voz", o "Fradique".... Em 1913 fundaria o seu próprio jornal, o "Thalassa", mas só sobreviveria dois anos.
Paralelamente, Colaço ia fazendo pintura, de temática histórica, por encomenda, e embrenhando-se cada vez mais na azulejaria. No princípio do século, a arte do azulejo estava um pouco abandonada, mas o interesse de Colaço, o seu estudo de novos processos técnicos, a sua criatividade fizeram renascer esse interesse. É certo que nem sempre os painéis criados no seu estúdio foram excelentes, mas a culpa não foi sua, antes de um gaiato que, por preguiça, em vez de seguir os "cartões" do mestre, desenha,-a nuvens por onde vagueava o seu espírito. Esse jovem era Stuart Carvalhais que, nesse estúdio, observando o mestre a fazer os bonecos para o "Século, foi aprendendo as primeiras manhas do ofício, e pela sua mão iria entrar no mundo dos jornais.
Entretanto, Jorge Colaço o caricaturista de graça espirituosa mas cáustica, foi desaparecendo perante as encomendas de painéis ou telas. Viria a morrer com 4 anos, em 1942.
Em 1902 verifica-se uma nova situação censória nos jornais de Raphael Bordallo Pinheiro, o que é sintoma da opressão que se vivia. Raphael sempre teve o cuidado de nunca passar a linha. Os vários casos existentes de problemas judiciais sempre foram exageros por parte da polícia, já que ao contrário de um Celso, de um Leal da Câmara e de um Cristiano de Carvalho, Raphael sempre procurou nunca atacar personalidades. antes situações . .Mas neste ano a Paródia terá um seu número confiscado.
Foi o nº 152, por causa da sua última página onde se vê Hintze a dar graxa às botas do Rei, um desenho assinado por Manuel Gustavo. Curiosamente, talvez devido ao prestígio de Raphael, e por na verdade o desenho não ser insultuoso, o Juiz do tribunal, numa atitude inédita, desautoriza o Censor Juiz Veiga, não confirmando a «prohibição ordenada e efectuada pela autoridade competente e mando que do fundo especial das multas, a que se refere o paragrafo 8 do Art° 39° da carta de Lei de 7 de Julho de 1898, seja indemnizada a administração da «Paródia» com a quantia de 8$000 reis.»
Em 1902 surge "O Petardo", a "Revista Nova"... e mais artistas surgem, alguns para deixar apenas meia dúzia de obras na imprensa, outros para iniciar mais longas carreiras. Destes efémeros artistas podemos referir os nomes de Constâncio Silva, Penteado, Aníbal Rosário. I. Sílvio. Rafael Brás. Kappa. Carlos Branco, M. Soares, Emídio de Freitas, Ruthra, A. Moreira, Acácio Lino (que se celebrará como pintor). Paulino Gonçalves, Quaresma, Ilídio Carneiro, Baptista Machado, Alves Braga, A. Martins. E Meneses. H. Jorge, Manuel Magalhães...
Outro artista que, apesar de não ser um inovador estético marcou profundamente estes anos, é Cristiano de Carvalho.
Quase todos os caricaturistas oitocentistas, mais cedo ou mais tarde viraram republicanos. Raphael, por exemplo, foi um dos mais importantes arautos do republicanismo. por uma via de humor irónico, apesar de sempre defender a objectividade crítica, e por vezes atacar os próprios republicanos. Houve jornais satíricos declaradamente monárquicos, e outros republicanos. Mas também já vimos. Que no caso de alguns republicanos, a sátira sentiu a necessidade de ultrapassar certas barreiras, e tornar-se pant1etaria. Cristiano de Carvalho estará de uma certa forma dentro deste grupo, sem assumir a agressividade de um Leal da Câmara. Para ele, o que era necessário, não era a alteração do regime, mas da sociedade. Não eram apenas os políticos, mas todo o sistema. Através dele o anarco-sindicalismo entra na sátira gráfica.
«Cristiano de Carvalho pertence a essa minoria idealista que sonha uma humanidade nova, mais humana e melhor. É um artista de combate e um espírito sem egoísmos, que consagra o seu talento e a sua arte a defender causas nobres e causas justas.»
«É que Cristiano de Carvalho pertence a essa plêiade dos que, com fé intrépida em dias novos e homens melhores, crêem que a arte desempenha um papel social, insubstituível da perfectibilização humana quando norteada por um princípio de superioridade moral.»
«Arte pela Arte quasi não faz sentido. O que faz sentido é a arte pela verdade, a arte pela justiça, a arte pela vida, a arte para enobrecer e melhorar os homens.» (in Ilustração Portuguesa. 6 121908). Desta forma, o poeta Manuel Laranjeira, o amigo de tertúlia de muitos artistas plásticos nortenhos (inclusive primeiro orientador estético de Amadeu de Sousa Cardoso), apresenta-nos um homem que foi um activista político que usou a escrita e a caricatura como elementos de esclarecimento e doutrinação das pessoas: Não é mais um humorista satírico que comenta a sociedade, mas um homem que usa a arte pela verdade. pela justiça, pela vida.
Natural do Porto, onde nasceu em 1874, esteve ligado desde muito cedo ao movimento republicano. por opção de oposição ao regime (não em ideologia, já que era anarco-sindicalista), e ao jornalismo panfletário. Ainda com dezassete anos viu-se obrigado a emigrar por motivos políticos. Estabeleceu-se então em Paris, a Cidade-Luz da liberdade política e das artes. Aí desenvolveu a sua formação cultural e política.
Passados sete anos, ou seja em 1908, regressou a Portugal para retomar a sua campanha plena de idealismo ideológico e irreverência política que o conduzirá à caricatura.
Os seus estudos no estrangeiro não o induziram nas novas correntes estéticas, que desabrochavam na Europa, principalmente em França, talvez porque sendo estas experimentalistas não eram certamente as mais adequadas para a comunicação mais directa com o povo em aprendizagem revolucionária. Quase fiel ao raphaelismo, ele preferiu desenvolver um estudo ideológico, com uma linguagem gráfica academisante e acessível ao gosto do operariado.
A sua formação política levou-o a uma participação directa no movimento operário português, o que o torna um caso muito curioso da caricatura (Nogueira da Silva tinha sido, também, um activista no meio operário). Dentro desse âmbito, ele surge no humorismo, não como um artista que utiliza a sua estética como irreverência, mas um operário, um industrial tipógrafo que utiliza a sua técnica em favor da luta política. Uma curiosidade dos seus originais: Os artistas faziam os desenhos como se devem ver, tendo o operário litógrafo desenhá-lo em espelho na pedra, para que quando fosse impresso saísse direito. Cristiano de Carvalho, como 'operário' que era. procurava facilitar a vida à pessoa que fazia a passagem para a pedra litográfica, e desse modo desenha já o desenho invertido, ou seja, os seus originais hoje devem-se ver ao espelho para se conhecer a sua verdadeira visão final. Cristiano de Carvalho tinha a sua oficina aberta à imprensa panfletária, ajudando todos aqueles que quisessem utilizar a imprensa como arma, e criando ele próprio os jornais necessários para veicular esses ideais. As suas obras podem-se encontrar, por exemplo no "Diabo Júnior" (1902), ou na "Caricatura" (1904), jornais de sua propriedade. Esta actividade mereceu-lhe vários problemas judiciais durante a Monarquia.
Cristiano de Carvalho, um irreverente que procurou intervir na sociedade, em transição do século, como oposição ao regime, mantendo-se depois em alerta nos tempos da República. Aqui terá outra função a sua actividade, como veremos posteriormente. Mas podemos já adiantar que virá a morrer em 1940.
Outra figura marcante desta última década da monarquia é Jorge Colaço, director e desenhador do «Suplemento Humorístico do Século»
Quando se passa pelas velhas estações de caminho-de-ferro, o azul e branco dos azulejos que retratam recantos pitorescos da nossa paisagem, ilustrando episódios da nossa história, chamam-nos a atenção. São obras que fixaram uma certa forma de decoração nacional, arte que deve a sua redescoberta, ou redimensionalização, a um grande artista do humor, Jorge Colaço
Os Colaços eram uma família portuguesa radicada em Marrocos há vários séculos, e onde várias gerações mantiveram o Consulado Geral, ou seja, eram agentes diplomáticos de Portugal. Apesar destes cargos oficiais, o pai do nosso artista, o primeiro Barão de Colaço e Macnamara, era também um homem dedicado às artes da pintura e caricatura. Perante estes antecedentes, é natural a predisposição para as artes, manifestada desde jovem em Jorge Colaço.
Tendo nascido em Tânger em 1868, veio para Lisboa fazer os estudos liceais. Terminados estes, e como as nossas Belas-Artes não estavam tão belas como isso, partiu para Madrid, onde estudou com Laroche e Fontan. Em 1886, e graças ao apoio do Conde Daupias, parte para Paris, procurando aprender os segredos do naturalismo com o mestre espanhol Carmon.
Em Paris estudou e trabalhou. Como pintor conseguiu expor uma tela no Salon de 1 893, o que é um autêntico êxito. Colocar uma obra num "Salon" era o sonho de todo o artista, já que ser aceite por um júri académico, era uma forma de consagração. Por outro lado também teve êxito no âmbito caricatural, ao conseguir trabalho no jornal "Le Figaro".
Até então não tínhamos tido notícias da sua arte de caricaturista, mas é natural que sob a orientação de seu pai, e como fruto do seu espírito satírico, sempre a tenha feito. O "Figaro" era um jornal importante e para um português, nos anos 80/90 do século passado, entrar como seu colaborador, era um facto extraordinário. Além disso, creio que Jorge Colaço foi o primeiro emigrante da caricatura portuguesa a trabalhar, como colaborador permanente, num jornal francês.
Sete anos permaneceu em Paris, teve 'êxito' na pintura e na caricatura, mas o espírito de Jorge Colaço ainda não tinha encontrado a sua tranquilidade, ou seja, a razão do seu futuro. Em 1893 vemo-lo ingressar na carreira diplomática, como Vice-cônsul de Portugal em Tânger, para logo em 96 voltar para as artes.
Passando por Lisboa, a caminho do Brasil onde pensava poder triunfar, é convidado para dirigir o "Suplemento Humorístico do Século", lugar que aceita. O cargo de director conjuga então com o trabalho de caricaturista de êxito. E aqui ficará o resto da sua vida.
Um dos factores do seu êxito, para além do humor acessível, era o seu traço filiado no movimento estético predominante, ou seja, o raphaelismo, enriquecido com o naturalismo da sua pintura afrancesada.
Como director do "Suplemento Humorístico do Século" permaneceu dez anos (1897-1907), publicando posteriormente os seus trabalhos em jornais como o "Dia", a "Voz", o "Fradique".... Em 1913 fundaria o seu próprio jornal, o "Thalassa", mas só sobreviveria dois anos.
Paralelamente, Colaço ia fazendo pintura, de temática histórica, por encomenda, e embrenhando-se cada vez mais na azulejaria. No princípio do século, a arte do azulejo estava um pouco abandonada, mas o interesse de Colaço, o seu estudo de novos processos técnicos, a sua criatividade fizeram renascer esse interesse. É certo que nem sempre os painéis criados no seu estúdio foram excelentes, mas a culpa não foi sua, antes de um gaiato que, por preguiça, em vez de seguir os "cartões" do mestre, desenha,-a nuvens por onde vagueava o seu espírito. Esse jovem era Stuart Carvalhais que, nesse estúdio, observando o mestre a fazer os bonecos para o "Século, foi aprendendo as primeiras manhas do ofício, e pela sua mão iria entrar no mundo dos jornais.
Entretanto, Jorge Colaço o caricaturista de graça espirituosa mas cáustica, foi desaparecendo perante as encomendas de painéis ou telas. Viria a morrer com 4 anos, em 1942.