Saturday, July 04, 2009

Historia da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1901 (Sebastião Sanhudo, Francisco Valença, Francisco Teixeira...)

Por: Osvaldo Macedo de Sousa

Em 1901, vimos surgirem "O Jesuíta", “O Pagode" (que viverá apenas 3 anos, de1902 a 1905, terá a colaboração de 20 caricaturistas, entre eles Leal da Câmara, Celso Hermínio, Simões Júnior, Cristiano de Carvalho, Manuel Monterroso... ),"Diabo Júnior", "Revista Nova", "O Arauto" ...
O Porto continua a manter a superioridade em número de títulos satíricos, substituindo constantemente os que desapareciam, os que tinham vidas brevíssimas. O Porto manteve sempre bem alto o seu liberalismo crítico - satírico, mesmo que hoje digam que foi sempre com um cunho provinciano (estético e irónico).
No âmbito da Liberdade de Imprensa, para além da força policial censória, a própria Lei é revista e agravada.
A 8 de Agosto de 1901 desaparece o decano dos caricaturistas nortenhos, Sebastião Sanhudo. O seu concorrente e amigo do Sul, Raphael escreve no seu jornal: «Morreu o caricaturista portuense Sebastião Sanhudo, homem de coração e talento, - qualidades que são o tosão d'ouro dos eleitos. Diante do illustre morto a Parodia, commovida, arranca a máscara da chacota, - para poder chorar melhor». Na página seguinte os correspondentes do Porto, Manuel Monterroso e Jorge Cid escrevem: «Sobra a campa semi-aberta d' esse gentilissimo espírito que nos deixa para todo o sempre, depomos a bem triste coroa da nossa eterna saudade. Sanhudo foi, na paz da sua consciência immaculada, um generoso e um bom, quando corria vertiginosa a decadência d'esse radioso império da Virtude, cada vez, - ai de nós! - mais distante dos nossos cansados olhos ....» Curiosamente, neste elogio a um caricaturista, que deveria ser um crítico, um satírico ... só falam da sua bondade, generosidade.
Desaparecem uns, aparecem outros. Se Sanhudo será uma referência de oitocentos, principalmente pela vasta e longa carreira caricatural, também Francisco Valença o será durante o nosso século.
Francisco Valença, que nasceu em Lisboa a 2 de Dezembro de 1882, definia desta forma a Caricatura «seja ela pessoal ou política, fantasista ou anedótica, constitui uma expressiva e eloquente manifestação artística. Com uma vantagem: todos a compreendem, desde que não sejam cegos».
Os seus primeiros trabalhos surgem em "O Chinelo", um jornal que ele próprio fundou e dirigiu (e onde teve a colaboração literária do grande escritor humorístico André Brun), mas que só publicou 11 números. Os seus primeiros trabalhos, onde se denota a imaturidade, denunciam desde logo a sua escola, ou seja o raphaelismo, estilo que manterá ao longo de toda a sua carreira, apesar de com o tempo conquistar a sua originalidade de traço dentro deste academismo. Terá uma longa carreira, com uma grande profusão de obras, e conseguirá o estatuto de mestre, impondo a sua visão ao longo de décadas, principalmente na fase final da sua vida, onde será a imagem mais actuante do jornal "Sempre Fixe".
Voltando ao início da sua carreira, depois do fracasso de "O Chinelo", em 1902 publica o Álbum Salão Cómico (Valença desenvolverá mais tarde uma charge às pinturas apresentadas nos Salões de Pintura, por largos anos), colaborando entretanto em ''A Comédia Portugueza", "Brazil-Portugal", ''A Crónica"." e a partir de 1904 no Supl. "O Século", onde cimentará a sua obra, e carreira. Contudo não deixará de dar colaboração a outros jornais como "Gafanhoto", "Moscardo", "O Mundo", ''A Capital", "Diário de Notícias", "Tiro e Sport", "Sátira", "Ilustração Por­tuguesa", "Espectro", ''Arte Musical", ''Alma Nacional", "O Raio", "Limia" ....
Em 1909 iniciou a publicação de uma série de Litografias, ou seja, um novo álbum das glórias, agora sob o nome de "Varões Assinalados", Era uma edição de qualidade, vendida em folhas soltas mensais (durante três anos), em que caricaturava personalidades da vida política, social e cultural portuguesa. A caricatura gráfica era da sua responsabilidade, e a caricatura literária entregue a diversos autores.
Outro artista que entretanto aparece nos jornais é Francisco Teixeira, Segundo palavras de Alberto Meira, in Revista Prisma, «Francisco Teixeira (Francisco Luiz Teixeira) nasceu em Mirandela a 27 de Julho de 1865 e faleceu em Lisboa em igual dia de 1911.»
«Funcionário das Alfandegas, sendo, à data do seu falecimento, segundo aspirante, na inactividade temporária.»
«Director artístico de: Ilustração Portuguesa - 2.a série, 3.° a 11.° vols. - Lisboa, 1.° semestre de 1907 a 1.º semestre de 1911.»
«Colaborador artístico de : O Século - Suplemento Humorístico - Lisboa, 1899 a 1907. A Comedia Por­tuguesa - Lisboa, 1902. Paródia - Lisboa, 1907. Tiro e Sport - Lisboa. 1910.»
«No diário Novidades manteve desde os fins de 1905, e durante largo período, a secção -:«Na Berlinda», notável série de caricaturas pessoais. »
«Com Celso Hermínio ilustrou Livro Proibido, de Fialho de Almeida. Abúndio Gomes (Henrique de Vasconcelos) e Manuel Penteado - Lisboa, 1904 e há vários desenhos seus em Impressões de teatro. de Joaquim Madureira ( Braz Burity) - Lisboa, 1905 e no Almanaque Ilustrado de O Dia, para 1905. É autor do ex-libris de Vasco Semedo. Concorreu à I Exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1901.»
«Não teve Francisco Teixeira mestres, nem frequentou escolas da especiá1idade. que o habilitassem a praticar o desenho, mas a sua vocação individual levou-o a criar uma personalidade interessante, de entre os nossos cultores do humorismo.»
«Na sua forma definitiva de desenhar em traço forte, seguro, e geralmente sem meias tintas. há como que o reflexo das características panorâmicas da província em que nasceu embora cedo a abandonasse para se fixar na Capital.»
«Homem de espírito requintado, estimou o convívio dos melhores Artistas da sua época e dessa fase existe, como proveitosa recordação, o retrato por Columbano, hoje na Galeria particular do capitalista Sr. Henrique Monteiro de Mendonça.»
«Homem de sociedade, deve-se-lhe o êxito de algumas iniciativas de desporto elegante, sobretudo de equitação.»
«Tentou levemente a pintura. Em cenografia deixou o pano de boca do teatro de Mirandela, reproduzindo um aspecto da vila em 1870 e recorda-nos de ter delineado os figurinos para determinada peça com que o então Teatro Príncipe Real, de Lisboa, abriu a época de 1904-1905.»
«Enviou vários desenhos para a imprensa brasileira, mas não nos foi possível conhece-los.»
«Pouco tempo após o seu desaparecimento prematuro, alguém anunciou uma exposição da obra que Francisco Teixeira deixara dispersa e inédita, mas esse simpático propósito não se converteu em reálidade, como também, infelizmente, jamais se publicaram os álbuns anunciados com os títulos Conjugo Vobis e Deus Guarde a V. Ex.a, com a parte literária a cargo do Sr. Dr. Joaquim Madureira.»

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