Wednesday, January 28, 2009

Historia da Caricatura em Portugal - 1889


Por: Osvaldo Macedo de Sousa

Em 1889, no Porto, Sebastião Sanhudo sem o seu "Sorvete" surge como Director artístico de "Piparotes", que não obteve o sucesso de "O Sorvete" e desaparecerá de imediato. Em Lisboa, sai o "Dó-Re-Mi" com croquis de J. Galvâo.
A 19 de Outubro, o Rei D. Luís I morre, e a 28 de Dezembro o príncipe D. Carlos é aclamado Rei. D. Luís não estava predestinado a governar como soberano, antes a reinar sobre as artes musicais, como o educara seu pai. Era um razoável aguarelista e um excelente músico. Possuidor de um violoncelo Stradivarius, que na visão do crítico humorístico surgirá como uma arma de encantamento, foi um rei dominado pelo instrumento-paixão, assim como pelos políticos - D. Luís toca violoncelo, enquanto Fontes reina, enquanto roubam a África, o povo emigra ... (RBP, in "Antônio Maria" 21/6/83). A sua presença caricatural é a de um boneco de corda (RBP in "António Maria" 1/1/80), manobrado como uma espécie de "caixinha de música". Rei contestado, músico encerrado nas paredes de palácios, foi uma estrela sem brilho.
Com o rei D. Carlos o caso já será diferente. Educado para ser rei, impôs-se como pintor. Foi sem dúvida um dos melhores artistas do oitocentos português, criando algumas das obras-primas da pintura portuguesa. Natural­mente, sobre a sua arte, acima de qualquer crítica, não se debruçou grandemente a caricatura, preferindo arpoar o peixão do poder.
Oceanógrafo distinto, marinhista excelente, ele tinha a ciência e arte de "bolinar" nos ventos da oposição, de "adernar" para os lados mais convenientes da política, "caturrar" a sua simpatia social, e sempre a "talingar" os fios da opressão policial. No fim, a arte de todos os reis, e governantes.
Foi esta arte a caricaturada, e a primeira sátira apresenta-o, não como marujo, mas aprendiz de sapateiro remendão: ''Apanhou-se na tripeça, com o mestre fora e põe-se logo a estender a massa da popularidade; mas a coisa não pega porque a sola da bota nacional está seca e rija como uma fasquia de pau bucho" (R.B.P. in “António Maria" 31/5/1883)
Mas não será fácil, mudar a ideia que já existia sobre a monarquia: "- O Rei Novo? - A julgar pelos primeiros actos do seu governo, é o rei velho. Aparafusaram no corpo do filho a cabeça do pai... Assim não perigam as instituições (MGBP in "Pontos nos ii" de 8/11/89).
Uma das características dos jornais de Raphael é a utilização da caricatura desdobrada na acção, ou seja narrativas gráficas que são autênticas B.D. de uma só prancha. Como já verificámos, as histórias aos quadradinhos, ou Bandas Desenhadas são frequentes nos jornais desta época. Essas sátiras desdobradas em acção gráfica, são por vezes de autoria dos próprios artistas nacionais, mas também encontramos cópias de obras de artistas estrangeiros. Houve artistas, nos anos 60 que copiaram diversas histórias de autores além-fronteiras, assinando eles depois a obra. Com Raphael, e fundamentalmente, Manuel Gustavo, surgirão diversas dessa histórias de Caran d'Ache e Wilhelm Busch, e de outros desenhadores do Fliegende Blatter, só que nestes casos havia a preocupação de registar que eram cópias d'aprés... Dessa forma, os jornais dos Bordallo, e não só Jornais de entretenimento, infantis e 'eróticos' tinham a tradição de importar ilustrações do estrangeiro), mantiveram o nosso público informado com a evolução das artes de ilustração, e B. D. além fronteiras. Estávamos mais a par no campo da ilustração, das narrativas gráficas, que no campo da caricatura e sátira política, apesar de tempos a tempos os Bordallos publicarem um ou outro trabalho satírico de índole internacional, de artistas de outros países.

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