Monday, January 07, 2008

HISTÓRIA DA CARICATURA EM PORTUGAL (parte 12)

ANOS 60 de OITOCENTOS

Por: Osvaldo Macedo de Sousa

Entramos na década de sessenta com uma grande pobreza editorial satírica, onde os melhores trabalhos são as colaborações de N.S.. assim teremos a 10 de Dezembro de1860 o nº 1 do “O Cabrion” (dirigido por Eduardo Tavaes sob o pseudónimo de Afrígio Fafes), que se apresenta da seguinte forma: «…Sabeis quem sou ? /…/ Sou um paladino da verdade. Eis um poucas palavras definida esta entidade, que talvez vos assute pelo arrevesado do nome, e pelo emaranhado dos bigodes; mas acreditae, calço luva branca e fina desde os sete snnos, e algumas vezes levei puchões de orelha, por vir sentar-me á mesa da communidade familiar, sem trazer ao pescoço a encebada gravatinha da puberdade.»
«Ora eu bem sei que isto de calçar luva e pôr gravata não é segura garantia de uma educação esmerada, porque, enfim, até já se tem accusado de immoral, e de mais alguma coisa muita gente boa por calçar luvas, não direi de pelica, mas d’outra qualidade qualquer: sei também que a gravata não é um symbolo de polidez, desde que qualquer cocheiro a usa mais aprimorada de que os que o não são: no entanto entendo dever fazer-vos constar que sou um homem polido, e é este talvez um meio de o fazer, ainda que estejaes costumados a observar que o polido não passa ás vezes de um grosseiro que, para illudir a sociedade culta, se embrulha naquele nome.»
«Estudei, não na Universidade, porque queria aprender; estudei, e sei o que digo, ou antes digo o que sei. /…/ Vamos ao programa.»
«/…/ Detesto a política, porque adoro os costumes puros: idolatro as artes porque me destrahem os sentidos: e , sobretudo, adoro (isto aqui baixinho) as damas bonitas, gentis elegantes e garridas. Ficou-me este geitinho, e por mais que faça, não posso perdel-o: acreditae porém que não ha ella, por mais garrida e encantadora, nem olhos por mais travessos e fascinadores, que tenham poder para me obrigarem a protrahir a minha missão. De ordinário eu amo… só quando não tenho mais que fazer.»
«Sou critico, e critico severo. Bebo a satyra como quem bebe um ponche, mas a satyra fina, sem ressaibos de doestos e de injurias. As reputações convencionaes, reputações, não da pessoa particular, mas da pessoa pública, são o meu prato de meio. Fumo depois de jantar a minha cigarrilha de merito fictício, erva parasita que produz maravilhosamente no nosso solo: e , de resto, entretenho-me, por desfastio, em soprar por um canudinho de cana pretenções balofas, desfeitas, primeiro, em água de sabão. Já vêdes que sou de uma sobriedade, digna dos tempos patriarchaes.»
O seu lema de cabeçalho era «Satyras prestam, satyras se estimam / Quando n’ellas calumnia o fel não verte.» Bocage
No ano de 1862, o Padre Manuel Bernardes, no “Archivo Pittoresco” (nº10 pág. 80) dá-nos a sua definição do humor, num momento peculiar da criação do humor gráfico na nossa imprensa, e onde a questão da democracia no riso está numa fase de aprendizagem: «o Riso - A alegria dos impios e mundanos não pode ser verdadeira, e não é mais que uma apparencia ou figura d’ella.»
«O riso do pecador, se não é animada com a vida do espirito, é só riso em estátua, frio como marmore; riso não tanto seu como do mundo, que por elle se ri de si mesmo; porque, como diz Santo Agostinho, este mundo ri-se de todos os que se não riem d’elle.»
Em 1863 nasce “O Duende” (63/66) onde vai pontificar a obra literária e litográfica de Manuel Victor Rodrigues, jornalista que entrará em polémica com outros jornais humorísticos. As suas obras gráficas estão mais próximas do Patriota, do que dos avanços implementados por Nogueira da Silva, sendo das suas páginas gráficas um pot-pourri de informações e sátiras simplistas. São também desse ano “O Torniquete”,e “O Escalpelo”. Este último apresenta-se desta forma: «O Escalpelo é um instrumento cirurgico, com que um habil operedor consegue pela sua mestria descobrir a origem dos males, que atacando a economia animal e inhabilitariam de funccionar, se com este meio se não podessem revellar.»
«É pois em sentido methaphorico o escalpello nas mãos d’um conscencioso escriptor o instrumento com o auxílio do qual consegue submetter ao dominio da sociedade as prejudicialissimas maculas, com que qualquer cidadão no exercício das suas funcções publicas a possa corromper ou grangrenar; aceite isto explicado está o pensamento desta redacção a qual no desenvolvimento deste programma se compromette a respeitar a vida particular de todos, a retribuir a urbanidade, que com ella haja, a não curar d’opinões politicas, e a enexoravelmente apresentar no pelourinho da opinião publica qualquer acto que offendendo a mesma sociedade mereça um corretivo.»
Em 1864 surge o “Lucifer” e “O Distribuidor de Carapuças”. Este último apresenta programa desta forma: «Baptisando o nosso hebdomadário com o nome de Distribudor de carapuças, eis-nos dispostos a encetar o trabalho a que nos dispozemos. È arduo, superior talvez ás nossas forças, se quisermos seguir á risca as instrucções que abaixo vamos traçar.»
«É na verdade difficil talhar carapuças segundo o molde apropriado, confeccional-as de tal arte que aquelles a quem são destinadas tenham pouco trabalho em as ajustar, sem comtudo terem motivo algum para mal querer o artista que tão bem os servio.»
«E não julguem que havemos de poupar a algume, porque na posição que occupa entre nós, tenha uma influencia qualquer sobre o nosso modo de viver.»
«N’esses mesmo, dará sem dó o Distribuidor; se elles se zangam teem dois trabalhos - o de ressntir-se da catanada e o de mostrar boa cara immediatamente depois, sem o que, estão de novo sujeitos ao ferrão… d’ahi lhes irá novo ferrinho, porque seremos de ferro !»
«Attenção pois: venha ao nosso jornal a verdade e sómente ella. Venha embora mascarada de modo que só desmascare a consciência d’aquelle que assim ha mister.»
«Nada de insinuações pessoaes, nada de calvas á mostra com o nome do dono ahi entalhado; »
«/…/ O moral ressente-se tanto de tão violento abalo, que pode cair no collapso; e assim em vez de alcançarmos a cura que emprehendiamos, obtemos só a morte desse enfermo social.»
«Não pensem que dizendo isto exageramos a verdade, ou defendemos paradoxos. O homem para ser bom na sociedade, precisa de uma bella hygiene moral dada pela educação bem dirigida. /…/ É por meio de boas doutrinas, applicadas por longo espaço, e em tempo opportuno, que ell se desenvolve convenientemente tornando o homem um ente social.»
«/…/ Cuidado, pois, amigos ! Lembrai-vos sempre que o nosso fim não é dizer mal com o fito de mal fazer, é sim dizer a verdade com o fito de fazer bem a nós e ao nosso próximo. Amen.»
Ou seja a dominante dos programas de todos estes hebdomadários é a ‘verdade’, mais não seja a verdade de cada editor. È a educação dos políticos e demais senhores do poder. Por outro lado há uma grande preocupação de reclamar que não quer ofender pessoalmente ninguém, já que a sombra das “Lei das Rolhas” subsiste, e se a crítica for ‘dura’ não é por sua culpa, mas do ‘criminoso’.
Em 1865 surgem o “Demócrito” e o “Piparote”. O primeiro declara que : «…O Demócrito rirá das muitas misérias que ahi nascem, crescem, e se multiplicam; e diligenciará applicar-lhes o correctivo.»
«…A política - o que é propriamente política, e não o que muita gente entenede por esta palavra - só por incidente será tratada. O DEMOCRITO não é instrumento de ruins paixões.
«Syndicará sem prevenção, censurará sem azedume, castigará sem fel.»
«Severo, não perdoará ninguem; urbano, observará as boas regras de cortezia; imparcial, fará justiça recta.»
«/…/ O DEMOCRITO é liberal. Quer a maxima de liberdade para todos. Quer que ninguem seja obrigado a deixar de fazer o que as leis não prohibem.»
«Filiado no ainda grande partido da moralidade, O DEMOCRITO não tem compromissos com os históricos, com os regeneradores, nem com os conservadores. Ri-se dos catões de todos os partidos, e da independência sobre posse de muita gente.»
«/…/ Verdade e só verdade; justiça e só justiça. Eis a divisa do DEMOCRITO.»
Por seu lado o PIPAROTES apresenta estas palavras preliminares: «Piparotes, não é mais do que a pancada que se dá em qualquer objecto, soltando com força o dedo maior do dedo pollegar.»
«Porém como no mundo ha a faculdade de se applicarem bofetadas moraes, chamadas vulgarmente, bofetadas sem mão; chicotadas moraes, fustigações moraes, torniquetes moraes e até coices moraes; nós uzando dessa prerogativa, vamos applicar aos que os merecerem, piparotes moraes, decentes, é verdade, porém sem dó nem consciencia.»
«Ha em Lisboa um Democrito, que ri constantemente, um Duende que canta constantemente, um Torniquete que aperta constantemente, e então é bem que haja mais um Piparote que, ligeiro como uma ventoinha, e forte como uma machina a vapor, applique aos narizes dos devassos, tractantes e caturras, os seus golpes encarniçados para os fazer entrar no bom caminho, deixando a devassidão, a tratantice e o pedantismo.»
«Eis a que nos propomos»
Em 67 surge “O Japonês” (cujo cabeçalho é de Raphael Bordallo Pnheiro), em 69 o “Compadre Mateus” e “O Trinta Diabos” prolongando um decadente trabalho de humor, acentuado com o desaparecimento de Nogueira da Silva.

Friday, January 04, 2008

HISTÓRIA DA CARICATURA EM PORTUGAL (parte 11)

NOGUEIRA DA SILVA – IV
Por: Osvaldo Macedo de Sousa

A 15 de Maio de 1856 lança o “Jornal para Rir”, que testemunha a grande influência francesa neste artista (o que contraria a influência inglesa do princípio do século) e em que o próprio titulo é a tradução do jornal francês burlesco mais importante da época. No Prospecto-Specimen lançado como anuncio da saída do jornal pode-se ler:
«Semanário Comico, Phophético e Satyrico»
(com gralha tipográfica, já que no jornal virá de pois prophético)
Fundado por Francisco Augusto Nogueira da Silva
«Entre tantos jornaes sisudos, bem era que apparecesse um para rir.»
«Entre tantos que andam sempre de viseira caida, devia haver um que andasse sempre com a carinha n’agua.»
«Entre tantos a choramigar, haja tambem um a galhofar.»
«Entre tentos sempre amofinados, haja um que não queira saber de desgraças.»
«Tal é o pensamento da publicação do JORNAL PARA RIR.»
«A imprensa não se inventou para infrenesiar os leitores, mas sim para os tirar dos seus cuidados. Esta é que é a sua verdadeira missão.»
«Quando o velho Coster se lembrou de abrir as lettras do alphabeto em carapetas de madeira, foi para divertir os netos, e para os mover a riso, mostrando-lhes enfiadinhas de palavras, como se fossem rosários.»
«Tal é a origem da typographia. Guttemberg achou já o comer feito, foi só pôl-o ao lume, para fundir o que Lourenço Coster havia confeitado. A caricatura aqui precedeu o typo.»
«A origem dos jornaes não é menos divertida.»
«Demócrito foi redactor d’um jornal para rir, com caricaturas, que eram as visagens que elle próprio fazia, pois era feio como um bode. Tinha por leitores todos os janotas e gebos da Thracia, e juntou um cabedalão com esta empresa, porque zombava e não tinha collaboradores, bem entendido.»
«Heráclito teve também o seu jornal, mas era para chorar, porque era um jornal político. Teve que se habilitar, foi ao jury uma poucas de vezes, não havia já quem o lêsse, por que ninguem está para aturar um chorão, e a final saiu de Epheso em penhado até ás orelhas, indo sumir-se e viver a monte, quando não davam-lhe cal o da pelle.»
«Não intendeu a missão do jornalista, e mais era philosopho, por isso teve mau fim.»
«Demócrito seguiu outro rumo, pelo que vive ainda risonhamente na memória dos homens.»
«Ir-lhe-hemos na pista. Oxalá que sejamos tão bem succedidos.»
«Não pensem porem que havemos de zombar as coisas ou das pessoas sérias. São ellas tão poucas entre nós, que para lá chegarmos com a ponta do buril ou com os bicos da penna, fôra preciso que o jornal durasse um século, tempo ainda não suficiente para dar vasão aos assumptos burlescos, e as figuras ridículas de que o nosso mundo vae raso.»
«Não talharemos nunca jamais carapuças de medida. Faremos obra para a loja, e o mercado as distribuirá a quem quizer. O contrário seria infamarmo-nos com personalidades, coisa tão repugnante ás boas artes como ás boas lettras, que desejamos reunir e abraçar nesta risonha e festiva publicação.»
«As estampas e os artigos, figuram aqui as alfaias de uma guarda-roupa de theatro comico. Só irão bem aos que representarem o papel correspondente. Não se distribuem os papeis, cada qual toma o que lhe pertence - e quem não quizer ser lobo, não lhe vista a pelle.»
«Tal é o succinto programma do JORNAL PARA RIR.»
«Todavia: Rira bien, qui rira le dernier»
Este jornal, que uma qualidade bem superior ao resto dos jornais humorísticos, infelizmente teve curta duração, por desinteligências entre os sócios, ou seja Nogueira da Silva e o redactor Francisco Fernandes Lopes, os quais surgem no nº3 da 2ª série de 31 de Agosto de 1957 em vénia de despedida.
A partir desse ano vamos encontrar N.S no “Archivo Pitoresco”, assim como em “O Carnaval” (1858), “Cabrion” (1860/61), “Biblioteca do Cabrion” (1861), “O Escalpelo” (1863), “O Demócrito” (1865), “Boudoir” (1865)… assim como foi o autor de uma série de folhas volantes sob o titulo geral de “Celebridades Contemporâneas” (fala-se de Herculano, Mendes Leal, Latino Coelho, Lopes de Mendonça… só que são raridades, ou já desapareceram totalmente…). Uma das mais celebres folhas volantes criadas por este autor foi a “Apotheose da Charles-et-George2 (sob o pseudónimo de Faffa), que chegou a uma tiragem de 5.000 exemplares e regista um confronto político com a França, e com o apresamento do navio negreiro Charles-Georges. O humor era já um cavalo de batalha na defesa da honra e orgulho nacional.
Foi ilustrador de uma série de livros, onde se destacam as “Obras Completas de Nicolau Tolentino”, ou o “Relatório de uma Viagem á China” de Marques Pereira…
Paralelamente a esta actividade artística, Nogueira da Silva foi também um teórico, tendo escrito diversos artigos sobre a história e técnicas da gravura; um pedagogo formando uma nova classe de gravadores na Escola de Gravura em Madeira e Litografia no Centro de Melhoramentos das Classes Laboriosas (fundada em 1862), nomeadamente Caetano Alberto, que será um dos mais directos colaboradores do mestre Raphael.
Como já anteriormente referi, a sua revolução técnica, para além de um aperfeiçoamento da utilização do buril, é a mudança de influência da escola inglesa para a francesa com maior cunho realista. A base da sua filosofia criativa está virtualmente nestas palavras transcritas na revista “Arte e Vida” em 1905: «Quereis ser historiador fiel, moralista sagaz, filósofo profundo ? Nada mais fácil. Apresentai a verdade em expressão tão singela, ou em traço tão franco, como ela o é em si. Não a procureis, porque está por toda a parte, constantemente ao pé de vós, e em vós. É a planta, e a ave, e o homem, e todos esse infinitos milhões de seres que povoam e constituem o universo.»
«Tendes olhos para ver, ouvidos para ouvir, alma para sentir, boca para expressar. É quanto basta. Olhai esses seres, dizei na linguagem comum o que vedes, o que ouvis, o que sentis, e tereis achado, descrito, mostrado a verdade a todos, mais rápida, mais fácil, mais positivamente, do que o sábio que consome anos inteiros am achar a solução dum problema, clara a poucos, e , muitas vezes, errónea.»
«É o que tem feito Gavarni, é o que fez Béranger, os poetas mais queridos do povo francês.»
O realismo aparece em Nogueira da Silva como luta social, integrada na sua obra política sindical, como critica á sociedade, como costumbrismo satírico, como caricatura, e dessa forma se apresenta como o primeiro grande mestre do desenho satírico português, onde muito naturalmente um mestre que nunca se apresentou como seu discípulo, ou seja Raphael, foi beber as primeiras influências. Pena é que a sua obra tinha sido curta, como foi a sua vida, e que a grande maioria das suas obras se tenham perdido, restando apenas os jornais em degradação.
Viria a falecer a 13 de Março de 1868.

Wednesday, January 02, 2008

HISTÓRIA DA CARICATURA EM PORTUGAL (parte 10)

NOGUEIRA DA SILVA – III
Por: Osvaldo Macedo de Sousa

Torna-se curandeiro, ficando conhecido como o Médico de Entre Muros. Enquanto pode viver deste subterfúgios assim o fez até que começaram os problemas com a lei, e ele transforma-se em perfumista, mas este negócio não correu de feição.
«Por aquele tempo - continua Caetano Alberto- já existia o Centro dos Melhoramentos das Classes Laboriosas, e o princípio de associação era accolhido com todo o enthusiásmo. Nogueira da Silva enthusiasmou-se também, estava nas suas ideias e na sua indole. Propoz a dar gratuitamente um curso nocturno de desenho linear e de geometria, no Centro; a sua proposta foi aceite e o curso frequentado. Isto deu-lhe importância, deu-lhe nome e poz em relevo o seu mérito.»
«Fradesso da Silveira frequentava também o centro, e alli teve occasião de conhecer Nogueira da Silva.»
«Fez-lhe uma proposta que Nogueira aceitou.»
«- Vou fundar um jornal ilustrado, disse Fradesso da Silveira, você quer-se encarregar da fazer os desenhos e as gravuras para esse jornal ?»
«Nogueira da Silva exultou, sentiu-se mia feliz que Diogenes, tinha achado o seu homem, disse que sim a Fradesso, e este continuou.»
«- Vou estabelecer uma imprensa. E você vae para lá fazer as gravuras, terá um ordenado certo; quanto há-de ser ?»
«- Não sei, respondeu Nogueira, receioso de oppôr a mais ligeira dificuldade.»
«- Um pinto por dia, comvem-lhe ?»
«- Convêm.»
«Era o preço porque se pagava então tudo quanto era bom, segundo diz algures, com toda a propriedade, o sr. Ramalho Ortigão.»
«D’ali a dias saia a público a “Revista Popular”, illustrada por Nogueira da Silva.»
«Fazia a sua estreia. Nunca tinha gravado em madeira, e não obstante, as suas gravuras offereciam novidade; o manejo era differente das que até ahi se tinham deito cá. Era uma revelação que enchia de orgulho o seu auctor, peccado mofento que sempre o acompanhou.»
«Eis a ligeiros traços, como Nogueira da Silva se fez desenhador e gravador em madeira.»
Existe aqui uma aberração de datas, porque se Caetano Alberto inicia a história de Nogueira da Silva á procura de um lugar como artista em 1853 ou 54, na realidade a sua carreira inicia-se em 1850 no “Almanak” da Revista Popular para 1851.
Sobre esta confusão, Leonardo De Sá/António Dias de Deus no artigo sobre Nogueira no já referido suplemento do “Nº 13”, adianta: «Segundo as memórias de Caetano Alberto, Nogueira da Silva teria conhecido nessa altura Fradesso da Silveira; e conta aquele gravador como o convite seria feito para a Revista Popular (de que, conforme o seu biógrafo, teria sido diredor artistico - asserção que não é confirmada na própria publicação). Acontece que a especificação que faz da data posterior a 1853 - confirmada pela criação do Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas - é obviamente inconsistente com a do início da carreira do artista, pelo que atribuímos esse encontro no Centro com Gonçalves Lopes (cujo nome encontrámos, como o de Nogueira da Silva, nos sumários das reuniões), o que terá levado á criação d'O Asmodeu e do Jornal Para Rir - onde Nogueira da Silva foi, de facto, diredor artistico. Quanto ao cruzamento com aquele que foi diredor da Revista Popular de 1849 a 1851, existem várias simultaneidades prévias entre o percurso de Nogueira da Silva e a carreira de Joaquim Henriques Fradesso da Silveira, que assentou praça de aspirante da Marinha em 1841, e foi mais tarde professor de quimica na Escola Politécnica. O que significa que poderiam perfeitamente ter-se conhecido em qualquer destes lugares, antes de 1850. Note-se ainda o episódio, sempre conforme Caetano Alberto, de Nogueira da Silva ter fabricado e vendido produtos quimicos - mas quem tinha realmente formação nessa área éra de novo Fradesso da Silveira. Outra curiosidade é o facto deste se ter iniciado na Revista Popular como jornalista, e o seu abandono da publicação verificar-se com o de Nogueira da Silva (e de Flora).»
Após o seu aparecimento em o “Almank Popular para 1851” surgem colaborações suas na “Revista Popular”. Em 1851 aparecerá em “A Semana” com uma série de “Typos Populares”. Em 52 está na “Illustração”…
Se o “Patriota” foi o jornal mais importante da história da caricatura até 53, em 56 abrir-se-á um novo periodo especial em 56 com dois titulos onde Nogueira da Silva está ‘empenhado’. A 9 de Fevereiro surge o “Asmodeu”, e a 15 de Maio o “Jornal Para Rir”.
O “Asmodeu” define-se como um semanário burlesco e não político. Fundado pelo ex-visconde de Borratem, e ílustrado por Nogueira da Silva. Tem como lema “ridendum dicere verum quid vetat ? Castigat ridendo mores”, e no seu primeiro edital pode-se ler: «Asmodeu e a cafila de diabos seus companheiros, tinham grandes desejos de se apresentar ao publico em mais brilhante equipagem e com adornos mais ricos. Têem porém, tido que luctar com grandes dificuldades para apparecerem assim mesmo, porque tudo são impecilhos n’este paíz em que se encontram, sem bilhete de residencia, nem recommendação propria ou estranha.»
«Com auxílio que mandaram vir do Inferno e que devem chegar pelo primeiro wagon do caminho de ferro de leste, esperam poder para o futuro satisfazer a espectativa publica.»
«Desculpem a modestia do réclame e esperem-lhe pela pancada.»
«Piano !… Piano!...»
Neste jornal Nogueira da Silva terá uma colaboração irregular, desaparecendo por diversas ocasiões das suas páginas até o abandonar definitivamente. Sobreviverá até 1864, num percurso de decadencia, não só de ilustração, como literária.

Tuesday, January 01, 2008

Textos Meus sobre teorias de Humor e Caricatura publicados neste Blog

Maio 2006 –Deus e o Riso
Junho 2006 –O Ano de Maomé
Esse ser Palhaço
Setembro 2006–Caricaturas Crónicas
A Caricatura uma Arte Efémera
O Caricaturista
O Risco das Nações
O Portugal Caricatural
Magros Reis em Festas de Início do Ano
A Caricatura dos Desgovernos
O que a Carne Vale
Outubro 2006–Penúrias,
A Caricatura e a Semana Santa
Quaresmas caricaturais
Os in diz Postos
Nacionalismos
A dita denta dura
Os adesivos
A usura do senso ou a censura do uso
Camões na caricaturização de um mito
O Cartoon e o Início do séc. XXI
Novembro 2006-
O Cartoon e o Início do séc. XXI
Um voto por Carneiro com batatas
O Funcionário
Banhadas
Fernando Pessoa Caricatural
As Mulheres de Stuart
Amadeo de Souza-Cardoso Caricaturista
O Gozo e a Arte
Os Santos Populares
Dezembro 2006 –
Uma noca sessão pra-lamentar
A Paródia Politica
O Zé p( r)o vinho
Um sorriso para os Homens de Boa vontade
Janeiro 2007
Tourada
O Cartoon e o Início do séc. XXI
O Vinho, a formula do esquecimento
Fevereiro 2007
Melomanias Caricatuaris
A Scena Dramática
Março 2007
Amiling Europa – A Europa e a sátira
Conceitos – El Humor Gráfico
Conceitos – O Cartoon
Conceitos – A Caricatura
Glossário do Humor
Abril 2007
Conceitos – A Paródia
Conceitos – A Sátira
Conceitos – Da Ironia
Maio 2007
Os Itas das Religiões
Carlos Zíngaro
A Luta dos Trabalhadores (pelo humor)
Junho 2007
A Mulher no Cartoon – I, II, III, IV
Julho 2007
A Mulher no Cartoon – V, VI, VII
Women in Cartoon
Naji Al-Ali, o humor pela paz
007 Ordem para rumorar
Agosto 2007
Pensamentos sobre a Comédia
Novembro 2007
Caricaturistas por Timor
O Modernismo pel’o humorismo – I, II, III
História da Arte da Caricatura em Portugal – I, II, III
Dezembro 2007
História da Arte da Caricatura em Portugal – IV, V, VI, VII, VIII, IX
O Bobo – O humor como contrapoder
Humores e Sacralidades (in Is’raelidadeas – Humor Gráfico Israelita)

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