Wednesday, January 02, 2008
HISTÓRIA DA CARICATURA EM PORTUGAL (parte 10)
NOGUEIRA DA SILVA – III
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
Torna-se curandeiro, ficando conhecido como o Médico de Entre Muros. Enquanto pode viver deste subterfúgios assim o fez até que começaram os problemas com a lei, e ele transforma-se em perfumista, mas este negócio não correu de feição.
«Por aquele tempo - continua Caetano Alberto- já existia o Centro dos Melhoramentos das Classes Laboriosas, e o princípio de associação era accolhido com todo o enthusiásmo. Nogueira da Silva enthusiasmou-se também, estava nas suas ideias e na sua indole. Propoz a dar gratuitamente um curso nocturno de desenho linear e de geometria, no Centro; a sua proposta foi aceite e o curso frequentado. Isto deu-lhe importância, deu-lhe nome e poz em relevo o seu mérito.»
«Fradesso da Silveira frequentava também o centro, e alli teve occasião de conhecer Nogueira da Silva.»
«Fez-lhe uma proposta que Nogueira aceitou.»
«- Vou fundar um jornal ilustrado, disse Fradesso da Silveira, você quer-se encarregar da fazer os desenhos e as gravuras para esse jornal ?»
«Nogueira da Silva exultou, sentiu-se mia feliz que Diogenes, tinha achado o seu homem, disse que sim a Fradesso, e este continuou.»
«- Vou estabelecer uma imprensa. E você vae para lá fazer as gravuras, terá um ordenado certo; quanto há-de ser ?»
«- Não sei, respondeu Nogueira, receioso de oppôr a mais ligeira dificuldade.»
«- Um pinto por dia, comvem-lhe ?»
«- Convêm.»
«Era o preço porque se pagava então tudo quanto era bom, segundo diz algures, com toda a propriedade, o sr. Ramalho Ortigão.»
«D’ali a dias saia a público a “Revista Popular”, illustrada por Nogueira da Silva.»
«Fazia a sua estreia. Nunca tinha gravado em madeira, e não obstante, as suas gravuras offereciam novidade; o manejo era differente das que até ahi se tinham deito cá. Era uma revelação que enchia de orgulho o seu auctor, peccado mofento que sempre o acompanhou.»
«Eis a ligeiros traços, como Nogueira da Silva se fez desenhador e gravador em madeira.»
Existe aqui uma aberração de datas, porque se Caetano Alberto inicia a história de Nogueira da Silva á procura de um lugar como artista em 1853 ou 54, na realidade a sua carreira inicia-se em 1850 no “Almanak” da Revista Popular para 1851.
Sobre esta confusão, Leonardo De Sá/António Dias de Deus no artigo sobre Nogueira no já referido suplemento do “Nº 13”, adianta: «Segundo as memórias de Caetano Alberto, Nogueira da Silva teria conhecido nessa altura Fradesso da Silveira; e conta aquele gravador como o convite seria feito para a Revista Popular (de que, conforme o seu biógrafo, teria sido diredor artistico - asserção que não é confirmada na própria publicação). Acontece que a especificação que faz da data posterior a 1853 - confirmada pela criação do Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas - é obviamente inconsistente com a do início da carreira do artista, pelo que atribuímos esse encontro no Centro com Gonçalves Lopes (cujo nome encontrámos, como o de Nogueira da Silva, nos sumários das reuniões), o que terá levado á criação d'O Asmodeu e do Jornal Para Rir - onde Nogueira da Silva foi, de facto, diredor artistico. Quanto ao cruzamento com aquele que foi diredor da Revista Popular de 1849 a 1851, existem várias simultaneidades prévias entre o percurso de Nogueira da Silva e a carreira de Joaquim Henriques Fradesso da Silveira, que assentou praça de aspirante da Marinha em 1841, e foi mais tarde professor de quimica na Escola Politécnica. O que significa que poderiam perfeitamente ter-se conhecido em qualquer destes lugares, antes de 1850. Note-se ainda o episódio, sempre conforme Caetano Alberto, de Nogueira da Silva ter fabricado e vendido produtos quimicos - mas quem tinha realmente formação nessa área éra de novo Fradesso da Silveira. Outra curiosidade é o facto deste se ter iniciado na Revista Popular como jornalista, e o seu abandono da publicação verificar-se com o de Nogueira da Silva (e de Flora).»
Após o seu aparecimento em o “Almank Popular para 1851” surgem colaborações suas na “Revista Popular”. Em 1851 aparecerá em “A Semana” com uma série de “Typos Populares”. Em 52 está na “Illustração”…
Se o “Patriota” foi o jornal mais importante da história da caricatura até 53, em 56 abrir-se-á um novo periodo especial em 56 com dois titulos onde Nogueira da Silva está ‘empenhado’. A 9 de Fevereiro surge o “Asmodeu”, e a 15 de Maio o “Jornal Para Rir”.
O “Asmodeu” define-se como um semanário burlesco e não político. Fundado pelo ex-visconde de Borratem, e ílustrado por Nogueira da Silva. Tem como lema “ridendum dicere verum quid vetat ? Castigat ridendo mores”, e no seu primeiro edital pode-se ler: «Asmodeu e a cafila de diabos seus companheiros, tinham grandes desejos de se apresentar ao publico em mais brilhante equipagem e com adornos mais ricos. Têem porém, tido que luctar com grandes dificuldades para apparecerem assim mesmo, porque tudo são impecilhos n’este paíz em que se encontram, sem bilhete de residencia, nem recommendação propria ou estranha.»
«Com auxílio que mandaram vir do Inferno e que devem chegar pelo primeiro wagon do caminho de ferro de leste, esperam poder para o futuro satisfazer a espectativa publica.»
«Desculpem a modestia do réclame e esperem-lhe pela pancada.»
«Piano !… Piano!...»
Neste jornal Nogueira da Silva terá uma colaboração irregular, desaparecendo por diversas ocasiões das suas páginas até o abandonar definitivamente. Sobreviverá até 1864, num percurso de decadencia, não só de ilustração, como literária.
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
Torna-se curandeiro, ficando conhecido como o Médico de Entre Muros. Enquanto pode viver deste subterfúgios assim o fez até que começaram os problemas com a lei, e ele transforma-se em perfumista, mas este negócio não correu de feição.
«Por aquele tempo - continua Caetano Alberto- já existia o Centro dos Melhoramentos das Classes Laboriosas, e o princípio de associação era accolhido com todo o enthusiásmo. Nogueira da Silva enthusiasmou-se também, estava nas suas ideias e na sua indole. Propoz a dar gratuitamente um curso nocturno de desenho linear e de geometria, no Centro; a sua proposta foi aceite e o curso frequentado. Isto deu-lhe importância, deu-lhe nome e poz em relevo o seu mérito.»
«Fradesso da Silveira frequentava também o centro, e alli teve occasião de conhecer Nogueira da Silva.»
«Fez-lhe uma proposta que Nogueira aceitou.»
«- Vou fundar um jornal ilustrado, disse Fradesso da Silveira, você quer-se encarregar da fazer os desenhos e as gravuras para esse jornal ?»
«Nogueira da Silva exultou, sentiu-se mia feliz que Diogenes, tinha achado o seu homem, disse que sim a Fradesso, e este continuou.»
«- Vou estabelecer uma imprensa. E você vae para lá fazer as gravuras, terá um ordenado certo; quanto há-de ser ?»
«- Não sei, respondeu Nogueira, receioso de oppôr a mais ligeira dificuldade.»
«- Um pinto por dia, comvem-lhe ?»
«- Convêm.»
«Era o preço porque se pagava então tudo quanto era bom, segundo diz algures, com toda a propriedade, o sr. Ramalho Ortigão.»
«D’ali a dias saia a público a “Revista Popular”, illustrada por Nogueira da Silva.»
«Fazia a sua estreia. Nunca tinha gravado em madeira, e não obstante, as suas gravuras offereciam novidade; o manejo era differente das que até ahi se tinham deito cá. Era uma revelação que enchia de orgulho o seu auctor, peccado mofento que sempre o acompanhou.»
«Eis a ligeiros traços, como Nogueira da Silva se fez desenhador e gravador em madeira.»
Existe aqui uma aberração de datas, porque se Caetano Alberto inicia a história de Nogueira da Silva á procura de um lugar como artista em 1853 ou 54, na realidade a sua carreira inicia-se em 1850 no “Almanak” da Revista Popular para 1851.
Sobre esta confusão, Leonardo De Sá/António Dias de Deus no artigo sobre Nogueira no já referido suplemento do “Nº 13”, adianta: «Segundo as memórias de Caetano Alberto, Nogueira da Silva teria conhecido nessa altura Fradesso da Silveira; e conta aquele gravador como o convite seria feito para a Revista Popular (de que, conforme o seu biógrafo, teria sido diredor artistico - asserção que não é confirmada na própria publicação). Acontece que a especificação que faz da data posterior a 1853 - confirmada pela criação do Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas - é obviamente inconsistente com a do início da carreira do artista, pelo que atribuímos esse encontro no Centro com Gonçalves Lopes (cujo nome encontrámos, como o de Nogueira da Silva, nos sumários das reuniões), o que terá levado á criação d'O Asmodeu e do Jornal Para Rir - onde Nogueira da Silva foi, de facto, diredor artistico. Quanto ao cruzamento com aquele que foi diredor da Revista Popular de 1849 a 1851, existem várias simultaneidades prévias entre o percurso de Nogueira da Silva e a carreira de Joaquim Henriques Fradesso da Silveira, que assentou praça de aspirante da Marinha em 1841, e foi mais tarde professor de quimica na Escola Politécnica. O que significa que poderiam perfeitamente ter-se conhecido em qualquer destes lugares, antes de 1850. Note-se ainda o episódio, sempre conforme Caetano Alberto, de Nogueira da Silva ter fabricado e vendido produtos quimicos - mas quem tinha realmente formação nessa área éra de novo Fradesso da Silveira. Outra curiosidade é o facto deste se ter iniciado na Revista Popular como jornalista, e o seu abandono da publicação verificar-se com o de Nogueira da Silva (e de Flora).»
Após o seu aparecimento em o “Almank Popular para 1851” surgem colaborações suas na “Revista Popular”. Em 1851 aparecerá em “A Semana” com uma série de “Typos Populares”. Em 52 está na “Illustração”…
Se o “Patriota” foi o jornal mais importante da história da caricatura até 53, em 56 abrir-se-á um novo periodo especial em 56 com dois titulos onde Nogueira da Silva está ‘empenhado’. A 9 de Fevereiro surge o “Asmodeu”, e a 15 de Maio o “Jornal Para Rir”.
O “Asmodeu” define-se como um semanário burlesco e não político. Fundado pelo ex-visconde de Borratem, e ílustrado por Nogueira da Silva. Tem como lema “ridendum dicere verum quid vetat ? Castigat ridendo mores”, e no seu primeiro edital pode-se ler: «Asmodeu e a cafila de diabos seus companheiros, tinham grandes desejos de se apresentar ao publico em mais brilhante equipagem e com adornos mais ricos. Têem porém, tido que luctar com grandes dificuldades para apparecerem assim mesmo, porque tudo são impecilhos n’este paíz em que se encontram, sem bilhete de residencia, nem recommendação propria ou estranha.»
«Com auxílio que mandaram vir do Inferno e que devem chegar pelo primeiro wagon do caminho de ferro de leste, esperam poder para o futuro satisfazer a espectativa publica.»
«Desculpem a modestia do réclame e esperem-lhe pela pancada.»
«Piano !… Piano!...»
Neste jornal Nogueira da Silva terá uma colaboração irregular, desaparecendo por diversas ocasiões das suas páginas até o abandonar definitivamente. Sobreviverá até 1864, num percurso de decadencia, não só de ilustração, como literária.