Sunday, November 30, 2008
Historia da Caricatura de Imprensa em Portugal (1886) J. M. Pinto
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
J.M. Pinto será o artista que virá substituir Almeida e Silva em 1890 no "Charivari", contudo as suas obras apareceram primeiro em 1885/6 no "Maria Rita", de que será director artístico. Como nos informa Alberto Meira, in O Tripeiro, «Joaquim Maria Pinto nasceu no Porto, freguesia da Sé, a 12 de Janeiro de 1838 e faleceu nesta mesma cidade, a 30 de Novembro de 1904. Aos 11 anos de idade, portanto em 1849, matriculou-se na Academia Portuense de Belas Artes, que frequentou até 1858. Cursou, nesse período de tempo, os 1°, 2°, 3° e 4° anos de Desenho e os 1° e 2° de Escultura. Por vezes obteve aprovação com elogio, mas por ali ficou a sua preparação artística, dentro das normas oficiais. Concorreu ás exposições trienais da Academia, efectuadas em 1851 e 1854.»
«Entrando na vida prática, entregou-se ás profissões de gravador em metal e de desenhador litográfico.»
«Neste último ramo da sua actividade, a par de inúmeros trabalhos de fins industriais - cartazes, rótulos, programas - apareceu como Director artístico do semanário "Maria Rita" - Porto, 1885 a 1886 tendo a seu lado, como redactores literários, António Cruz e Sá de Albergaria, e em 1889 voltou a ilustrar outro periódico de titulo igual, mas de mais rápida existência. Deste segundo "Maria Rita" era Director literário Mariares da Silva.»
«Por Maio de 1890, no popular e estimado" Charivari " que seguia no 4° ano de publicação, José de Almeida e Silva cede o lápis de ilustrador do semanário a Joaquim Maria Pinto. Referindo-se a essa substituição, escrevia, bastantes anos mais tarde, o apaixonado e desventurado portuense, Alberto Bessa, que muito bem conhecia o meio jornalístico da época: «era J. M. Pinto uma utilidade, mas estava longe de valer o que valia o seu antecessor».
«Em 1899 os seus desenhos ilustram outro semanário - "O Grande Charivari" - redigido literariamente por Sousa Rocha. Teve curta existência, mas dentro do mesmo ano surge: A Algazarra", fundada por Tomás Garcia, editor de "O Primeiro de Janeiro". Joaquim Maria serviu o novo periódico ate que uma lesão cardíaca o vitimou, com o lápis na mão, e após cinco anos de persistente labor. Os semanários ilustrados eram, ao tempo, em formato de 4° gr., com oito páginas, sendo quatro de texto impresso e outras tantas de desenhos litografados. A primeira página era geralmente destinada ao retrato de uma individualidade em evidência, quer em Portugal, quer no estrangeiro, e nas restantes fazia-se a crítica à vida política ou da sociedade, quando não se davam notícias sobre teatros ou outros espectáculos públicos.»
«A opulenta galeria de retratos desenhados, que tanto e tanto enriqueceram os semanários ilustrados daquele fim de século e princípio de outro, merece bem, em nosso entender, o reparo das gerações posteriores, pois constitui importante elemento a considerar no exame à influência no nosso meio social dos desenhadores da Escola do Porto.»
«Cite-se ainda a acção do ilustrador no volume: "Fábulas Originais", por Augusto Luso da Silva Porto, 1888. A actividade artística de Joaquim Maria Pinto, longa e, possivelmente, aos olhos do crítico, de irregular merecimento, tem estado no olvido.»
No esquecimento tem estado praticamente a obra de todos os caricaturista. Mas na verdade, como refere Alberto Bessa, a troca de caricaturistas no "Charivari" foi para pior, não tendo J.M. Pinto a qualidade técnica e de espírito satírico do truculento Almeida e Silva, cumprindo medianamente o seu papel de ilustrador.
Neste texto fala-se de outra coisa, a Escola do Porto, o que nos faz reflectir: houve uma corrente diferente de ilustradores humoristas no Porto, da de Lisboa? Pensando bem, talvez.
Em Lisboa havia um sol, que ofuscou desde logo todos os outros, e não vamos encontrar nestes primeiros anos artistas com interesse, para além de Raphael... e depois de Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro. Aqui, ou se fazia má caricatura, ou se imitava o mestre, criando-se urna escola gráfica que ficará conhecida por raphaelismo.
No Porto, a partir dos anos setenta, encontramos um grande desenvolvimento na litografia, com um excelente leque de litografos, tendo corno modelos Sebastião Sanhudo, depois Almeida e Silva, passando por J.M.Pinto, e cujos trabalhos podem ser apreciados na primeira página dos jornais que estes artistas dirigiram, obras essas sem qualquer cunho satírico, essencialmente retratos litográficos das figuras da sociedade.
Nestes artistas, ou nesta corrente mais técnica, ligada a um academismo rígido do realismo (que Rraphael já tinha substituído por um naturalismo) podemos descortinar urna escola de desenho do Porto, que ao abordar a sátira vai perdendo os seus contornos, e desaparecerá perante a crescente força do raphaelismo. Na verdade, o Mestre era o exemplo mais directo de corno chegar a um triunfo da sátira na política, e de corno ter sucesso. Corno reforço desta escola nortenha, podemos ver a quantidade de jornais humorísticos que existiram no Porto (é certo que quase todos com curta vida), enquanto que em Lisboa para além de Raphael poucos se atreviam nesta aventura gráfica.
Em 1886, surge então no Porto o "Charivari", adoptando o nome de um já celebre jornal humorístico francês, e procurando entrar na política nacional com o mesmo impacto dos jornais de Raphael. Dizendo-se discípulos e admiradores do mestre, adoptam (ou imitando) todas as armas satíricas deste Raphael, corno o grafismo, a utilização do Zé Povinho, e demais formulas humorísticas. A diferença radica essencialmente no estilo técnico da litografia apresentada, mais 'dura', mais "sombreada" (corno referiu Almeida e Silva). Em Lisboa aparecerá "O Diabo Coxo" com os primeiros trabalhos de Julião Machado.