Saturday, February 16, 2008

HISTÓRIA DA CARICATURA EM PORTUGAL (parte 17)

Raphael Bordallo Pinheiro – 3
Por: Osvaldo Macedo de Sousa

Terminada a aventura do "Binóculo", logo em Janeiro de 1871, Raphael regressa à "Berlinda", publicando mais quatro páginas.
Raphael Bordallo Pinheiro, como grande mestre das artes oitocentistas, como humanista que soube auscultar as necessidades sociais de aliar as artes à indústria, à massificação da estética como forma de comunicação tem sido apresentado como o pai da caricatura, o pai da Banda Desenhada.
Acho que nem sempre se tem o pai que se deseja, e um Raphael, com a genialidade do seu traço e acção seria um bom pai, só que antes dele, como já vimos, houve outros, que não podemos ignorar, nem o merecem..
O mesmo se pode dizer da Banda Desenhada (BD). Alguns historiadores já não apresentam os "Apontamentos sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Rasilb Pela Europa" como a primeira BD portuguesa, indo procurar essas raízes a Nogueira da Silva, Flora, Manuel Macedo... Contudo se Raphael pode ser apresentado como o pai. e estes :«Apontamentos…» como o primeiro álbum de Bd português, não nos devemos esquecer que a estrutura da «Berlinda» é a mesma dos Apontamentos, ou seja uma história narrada graficamente, suportada com um texto por baixo. António Dias de Deus / Leonardo De Sá, na edição fac-similada dos "Apontamentos..." admitem que na Berlinda «se possa encontrar alguma sequência narrativa. Todavia falta-lhe o herói, a trama consequente e até o princípio, meio e fim. do acontecimento. Ainda por cima, o trabalho está meticulosamente executado, o que dificulta a articulação entre as vinhetas». Quanto ao herói, na primeira página de “A Berlinda" existe um anti-herói, o Duque de Saldanha. É verdade que a sequência é quase um puzzle mas a história tem princípio, meio e suspense final, com continuação na segunda.... A sétima página também é importante, primeiro porque nos deixa testemunho de um acontecimento cultural de suma importância para o nosso país, e porque volta a fazer uma narrativa, em vinhetas, de um acontecimento do quotidiano 'As Conferencias do Casino".
A influencia estrangeira nestes trabalhos gráficos, naturalmente manter-se-á, já que os nossos caricaturistas não se preocuparão apenas pelo aspecto satírico, antes estarão a par das vanguardas, e procurarão conciliar o lado jornalístico com o estético. Testemunho dessa atenção ao que se passava lá fora, serão as histórias aos quadradinhos, iá que perante alguma falta de criatividade, vai ser comum a publicação, a adaptação, a cópia de muitas das obras publicadas além fronteiras.
Raphael entra no mundo da imprensa humorística, com uma série de experiências, e se elas marcam de imediato a história desta arte, não afectaram grande coisa na vida do país, nem da imprensa. Tudo aconteceu com um certo desinteresse, inclusive o poeta João de Deus, e outros, preferem considerar Raphael como um retratista, e não um caricaturista, um género tão menor que não merecia a atenção de um jovem promissor das artes.
O próprio sente-se desiludido com a reacção do público, e com as dificuldades de manter um periódico. Dessa forma regressa à pintura (entretanto pinta o famoso quadro "Bodas d' aldeia"), e ao desenho pitoresco. Nesse ano de 7l faz a sua primeira capa de livro para "Paizagens" de Bulhão Pato, faz uma vinhetas românticas para a Revista Artes e Letras, assim como ilustra uma série de livros, como por exemplo “O Demónio do Ouro" de CamiloCastelo Branco, "Scenas de Lisboa" de D.Thomaz de Mello (o avô de outro caricaturista que ficará conhecido com o nome de Tom), "O Cura d' aldeia" de Perez Escrich....

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