Friday, January 18, 2008
João Abel Manta um Artista Plástico
Por: Osvaldo Macedo de Sousa (In Diário de Notícias de 3/5/1987)
Uma das características do plástico é a maleabilidade, adaptação às exigências do momento. Também o é do artista plástico, que querendo sobreviver da sua arte, tem que se adaptar às técnicas mais variadas, deambulando desde a pintura, desenho, ilustração, cartaz, grafismo, decoração de cerâmicas, tapeçaria, murais, azulejo, cenografia, arquitectura ... até ao humor gráfico.
Um artista plástico é João Abel Manta, que começou «com os cartoons por sentir necessidade de um certo tipo de intervenção. (...) Considero o cartoonismo uma arma extremamente perigosa e por vezes excessiva. (...) É um tipo de intervenção do artista plástico que acaba sempre por chegar a um beco sem saída pois, para ser eficaz, tem de ser imediatamente legível, o que a condiciona; assim, ao contrário da pintura, da ilustração, etc., não tem horizontes ilimitados».
Filho de dois mestres da pintura modernista (Abel Manta e Maria Clementina Carneiro de Moura), João Abel Manta nasceu em Lisboa, a 29 de Janeiro de 1928, licenciando-se na ESBAL em Arquitectura (1951), mas vivendo a arte na profusão criativa referida no início. Conhecido nas várias artes, aqui falaremos apenas do seu lado gráfico-humorístico. Tendo sido cartoonista por criação, não o é por convicção - «Sou um pintor que em determinado período político do País, senti a necessidade de me expressar pelo cartoonismo, mas a minha luta de há dez anos para cá é sair da lista dos cartoonistas, já que nunca fiz o autêntico cartoonismo, que é uma anedota com um boneco. É uma profissão de que me sinto desligado, porque está a ser exercida de uma forma absurda, rastejante.»
«Eu sou um artista plástico, e nas artes plásticas deve-se saber fazer tudo, com ou seu humor, mas em cada traço há sempre uma intenção, como é o caso de Almada que mais do que pintor foi «cartoonista», de Júlio Pomar que tem óptimos «cartoons», de Menez, Sá Nogueira, António Quadros ... »
Apesar deste amor/ódio a essa ilustração humorística, denominada ambiguamente de «cartoon», João Abel Manta é um marco e uma ilha no grafismo humorístico português. Surgindo nos finais dos anos 40 como uma ruptura à tradição gráfica, ele introduz uma estética de influência americana, em detrimento do raphaelismo ainda dominante, ou do modernismo sintético de influência franco-Simplicissimus. Com um grafismo de «esquematismo realista», ele surge entre os «neo-realistas», como uma visão em humor negro, onde o surrealismo em espírito do absurdo dá um cunho especial ao seu trabalho.
Criando um estilo bem característico que se impôs, como um dos traços mais originais e importantes da segunda metade do séc. XX, ele é o rosto de um humorismo satírico agudo, que renasce como oposição ao regime, enquanto os «clássicos» se dobravam à simples anedota, ou iam desaparecendo. Publicando os seus trabalhos na rev. «Arquitectura», no «Almanaque», «Diário de Lisboa», «Diário de Notícias» e no «Jornal», ele fez a transição entre a ditadura e a democracia. Na primeira como oposição, na segunda como «necessidade de relembrar que houve fascismo, e em que consistia». Dois períodos condensados em dois livros - «Caricaturistas Portugueses dos Anos de Sal azar» ; «Cartoons 1969-1975».
Abandonando o «cartoonismo» por quebra de necessidade de intervenção, a sua obra permanece como um «mito» do humorismo de uma «terceira geração» modernista, que não existiu, permanecendo como uma «ilha» que (ainda) não fez escola entre nós.
Uma das características do plástico é a maleabilidade, adaptação às exigências do momento. Também o é do artista plástico, que querendo sobreviver da sua arte, tem que se adaptar às técnicas mais variadas, deambulando desde a pintura, desenho, ilustração, cartaz, grafismo, decoração de cerâmicas, tapeçaria, murais, azulejo, cenografia, arquitectura ... até ao humor gráfico.
Um artista plástico é João Abel Manta, que começou «com os cartoons por sentir necessidade de um certo tipo de intervenção. (...) Considero o cartoonismo uma arma extremamente perigosa e por vezes excessiva. (...) É um tipo de intervenção do artista plástico que acaba sempre por chegar a um beco sem saída pois, para ser eficaz, tem de ser imediatamente legível, o que a condiciona; assim, ao contrário da pintura, da ilustração, etc., não tem horizontes ilimitados».
Filho de dois mestres da pintura modernista (Abel Manta e Maria Clementina Carneiro de Moura), João Abel Manta nasceu em Lisboa, a 29 de Janeiro de 1928, licenciando-se na ESBAL em Arquitectura (1951), mas vivendo a arte na profusão criativa referida no início. Conhecido nas várias artes, aqui falaremos apenas do seu lado gráfico-humorístico. Tendo sido cartoonista por criação, não o é por convicção - «Sou um pintor que em determinado período político do País, senti a necessidade de me expressar pelo cartoonismo, mas a minha luta de há dez anos para cá é sair da lista dos cartoonistas, já que nunca fiz o autêntico cartoonismo, que é uma anedota com um boneco. É uma profissão de que me sinto desligado, porque está a ser exercida de uma forma absurda, rastejante.»
«Eu sou um artista plástico, e nas artes plásticas deve-se saber fazer tudo, com ou seu humor, mas em cada traço há sempre uma intenção, como é o caso de Almada que mais do que pintor foi «cartoonista», de Júlio Pomar que tem óptimos «cartoons», de Menez, Sá Nogueira, António Quadros ... »
Apesar deste amor/ódio a essa ilustração humorística, denominada ambiguamente de «cartoon», João Abel Manta é um marco e uma ilha no grafismo humorístico português. Surgindo nos finais dos anos 40 como uma ruptura à tradição gráfica, ele introduz uma estética de influência americana, em detrimento do raphaelismo ainda dominante, ou do modernismo sintético de influência franco-Simplicissimus. Com um grafismo de «esquematismo realista», ele surge entre os «neo-realistas», como uma visão em humor negro, onde o surrealismo em espírito do absurdo dá um cunho especial ao seu trabalho.
Criando um estilo bem característico que se impôs, como um dos traços mais originais e importantes da segunda metade do séc. XX, ele é o rosto de um humorismo satírico agudo, que renasce como oposição ao regime, enquanto os «clássicos» se dobravam à simples anedota, ou iam desaparecendo. Publicando os seus trabalhos na rev. «Arquitectura», no «Almanaque», «Diário de Lisboa», «Diário de Notícias» e no «Jornal», ele fez a transição entre a ditadura e a democracia. Na primeira como oposição, na segunda como «necessidade de relembrar que houve fascismo, e em que consistia». Dois períodos condensados em dois livros - «Caricaturistas Portugueses dos Anos de Sal azar» ; «Cartoons 1969-1975».
Abandonando o «cartoonismo» por quebra de necessidade de intervenção, a sua obra permanece como um «mito» do humorismo de uma «terceira geração» modernista, que não existiu, permanecendo como uma «ilha» que (ainda) não fez escola entre nós.