Sunday, January 13, 2008
HISTÓRIA DA CARICATURA EM PORTUGAL (parte 13)
MANUEL MACEDO
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
Figura que terá mais importância nos anos subsequentes, mas que surge nesta época, enquadrado na referida revolução gráfica de Manuel Maria e Nogueira, é Manuel Macedo.
«Espírito eminentemente moderno, todo penetrado dos processos críticos das novas escolas literárias e artísticas, amante fiel da realidade, estudando incessantemente o modelo e a vida, possuindo a consciência plena do fim social da arte.»
Esta é a apresentação que Ramalho Ortigão faz de Manuel Maria de Macedo Pereira Coutinho Vasques da Cunha Portugal e Menezes, um nobre da arte realista, conhecido no meio artístico por Manuel de Macedo (Verride 1 de Maio de 1839- Lisboa 26 de Maio de 1915).
Oriundo da nobreza, filho segundo de um Par do Reino, teve uma educação artística esmerada. As relações familiares proporcionaram-lhe a oportunidade de conviver durante a infância com estrangeiros em passagem, de conhecer as obras desses artistas, assim como as ideias, as correntes que iam germinando pela Europa. Trabalharia também com o Mestre anunciação durante um ano.
Entretanto por morte do seu pai, e como filho sem direito a herança, por ser segundo, viu-se na necessidade de trabalhar para viver, apesar do apoio do seu irmão mais velho, também ele Par do Reino.
Esta dependência a seu irmão obrigou-o a andar atrás dele, e em 1858 encontra-se no Porto, onde permanece dois anos em total integração com a colónia inglesa ali residente. Ali conhece e estuda com o escocês Alfredo Guilherme Howel, desenhador e aguarelista que o orienta desde logo para o estudo dos costumes, para a visão do povo na sua realidade vivencial. Uma orientação querida por essa colónia, e que é o seu primeiro público comprador. Segundo Alberto Meira, travaria também convívio com os artistas portuenses Francisco José Resende, os irmãos Correia, Francisco Pinto da Costa…
Sendo um espírito educado e humanístico, ele procurará apreender todas as técnicas de criação artística, e desse modo encontrámo-lo em Coimbra (acompanhando os estudos do irmão), e depois em Lisboa, como um cenógrafo magistral - «em cenografia o seu pincel ‚ hoje dos mais elogiados, pelos efeitos de perspectiva e combinação de tinta em que tanto procura aproximar-se da natureza» (in "Artes e Letras' por José Maria de Andrade Ferreira / 1872)
Quando se radica em Lisboa (1862) abre-se á sua curiosidade um maior campo de actividades artísticas como a gravura. a ilustração, a caricatura e a crítica.
«Em 1872 - recorda Artur Ribeiro in "Artistas Contemporâneos - houve uma tentativa em favor da publicação ilustrada e, a convite do gravador Pedroso, fez Manuel de Macedo alguns ensaios de ilustração; popularizando-se a gravura, o nosso artista lançou-se abertamente neste género de trabalho /.../.Tipos populares duma rigorosa naturalidade, animados de intensa vida e duma cintilante veia humorística. Que os torna congéneres dos tipos do imortal Gavarni.»
Tendo-se iniciado pelo realismo costumbrista de influência inglesa, entrava na gravura como realismo humorístico de influência francesa.
A sua obra gráfica inicia-se na década de sessenta, e segundo descoberta de António Dias de Deus, trabalhos seus surgem no jornal “As Notícias” que inicia a sua publicação a 27 de Março de 1866, incluindo já desenhos de Manuel de Macedo. Mas seria na década de setenta que se imporia no meio académico e gráfico.
Está ligado á criação das revistas de crítica literária e artística, como “Artes e Letras” (1872) e “Ocidente” (1878), e aqui desenvolverá grande actividade, como desenhador assim como critico e teórico.
Ilustrando dezenas de livros, e colaborando em diversas publicações podemos aqui invocar por alto alguns títulos como o Diário Ilustrado (1872), Almanac Ilustrado para 1873, Recreio Infantil (1874), Lanterna Mágica (1875), Almanach de caricaturas para 1876, Jornal dos Artistas (1875-77),, A Ilustração (1884)… Revista Ilustrada (1891), Gazeta Ilustrada (1901)… Revista das artes Gráficas (1907), O Tripeiro (1910)… assim como no Comércio do Porto Ilustrado, Diário de Notícias Ilustrado…
Ilustrou livros como “A Gravura em Madeira em Portugal” de João Pedroso (1872/76), “Lisboa na Rua” de Júlio César Machado (1874), “História de Portugal” de António Enes (1876), “As tragédias de Lisboa” de Leite de Bastos (1877/79), “O Hissope” de António Dinis da Cruz e Silva (1879). “O Real Teatro de São Carlos” de Fonseca Benevides (1883), “Álbum dos Costumes Portugueses” (1888)…
Manuel de Macedo seria também professor de desenho no Instituto Industrial de Lisboa, publicando como complemento alguns livros de divulgação artística e técnica das artes do desenho. A sua actividade abrangeria também a crítica de arte, ou crónica como ele baptizou os seus trabalhos (assinados por vezes com pseudónimos de ”Spectator” ou “Pincel”), assim como viria a ser o primeiro conservador do Museu Nacional de Belas artes, fundado em 1884.
Pintor da comédia dos costumes, Macedo entendeu o realismo como visão humorística, como realismo da actualidade, visão popular mas erudita, visão paralela á de Nogueira da Silva, só que com um outro poder de análise estética.
«O sr. Macedo é, talvez, - diz Andrade Ferreira em 1872 in Artes e Letras - o nosso artista que possui mais conhecimentos teóricos. Poucos como ele falam tão bem a linguagem de atelier e entram mais facilmente na parte tecnológica de arte. /../ Abraçou com encarecimento os princípios da proclamada escola realista.»
Erudito eminente, seria companheiro de tertúlia de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, apoiando-o na sua tentativa de realismo, na sua campanha de crítica às artes portuguesas e sua dinamização, trabalhando com ele a gravura. Se a sua obra é importante dentro do humorismo social e pitoresco, mais importante será a sua influência técnica e de gostos ao jovem da casa Bordallo Pinheiro. Nogueira da Silva como criador, e instrutor de jovens gravadores; Manuel Maria como pai e teórico das artes; Manuel Macedo como criativo e também teórico influenciaram o gosto deste jovem, que também começaria por ser costumbrista, realista, antes de se tornar na grande figura de charneira da caricatura portuguesa - Raphael Bordallo Pinheiro.
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
Figura que terá mais importância nos anos subsequentes, mas que surge nesta época, enquadrado na referida revolução gráfica de Manuel Maria e Nogueira, é Manuel Macedo.
«Espírito eminentemente moderno, todo penetrado dos processos críticos das novas escolas literárias e artísticas, amante fiel da realidade, estudando incessantemente o modelo e a vida, possuindo a consciência plena do fim social da arte.»
Esta é a apresentação que Ramalho Ortigão faz de Manuel Maria de Macedo Pereira Coutinho Vasques da Cunha Portugal e Menezes, um nobre da arte realista, conhecido no meio artístico por Manuel de Macedo (Verride 1 de Maio de 1839- Lisboa 26 de Maio de 1915).
Oriundo da nobreza, filho segundo de um Par do Reino, teve uma educação artística esmerada. As relações familiares proporcionaram-lhe a oportunidade de conviver durante a infância com estrangeiros em passagem, de conhecer as obras desses artistas, assim como as ideias, as correntes que iam germinando pela Europa. Trabalharia também com o Mestre anunciação durante um ano.
Entretanto por morte do seu pai, e como filho sem direito a herança, por ser segundo, viu-se na necessidade de trabalhar para viver, apesar do apoio do seu irmão mais velho, também ele Par do Reino.
Esta dependência a seu irmão obrigou-o a andar atrás dele, e em 1858 encontra-se no Porto, onde permanece dois anos em total integração com a colónia inglesa ali residente. Ali conhece e estuda com o escocês Alfredo Guilherme Howel, desenhador e aguarelista que o orienta desde logo para o estudo dos costumes, para a visão do povo na sua realidade vivencial. Uma orientação querida por essa colónia, e que é o seu primeiro público comprador. Segundo Alberto Meira, travaria também convívio com os artistas portuenses Francisco José Resende, os irmãos Correia, Francisco Pinto da Costa…
Sendo um espírito educado e humanístico, ele procurará apreender todas as técnicas de criação artística, e desse modo encontrámo-lo em Coimbra (acompanhando os estudos do irmão), e depois em Lisboa, como um cenógrafo magistral - «em cenografia o seu pincel ‚ hoje dos mais elogiados, pelos efeitos de perspectiva e combinação de tinta em que tanto procura aproximar-se da natureza» (in "Artes e Letras' por José Maria de Andrade Ferreira / 1872)
Quando se radica em Lisboa (1862) abre-se á sua curiosidade um maior campo de actividades artísticas como a gravura. a ilustração, a caricatura e a crítica.
«Em 1872 - recorda Artur Ribeiro in "Artistas Contemporâneos - houve uma tentativa em favor da publicação ilustrada e, a convite do gravador Pedroso, fez Manuel de Macedo alguns ensaios de ilustração; popularizando-se a gravura, o nosso artista lançou-se abertamente neste género de trabalho /.../.Tipos populares duma rigorosa naturalidade, animados de intensa vida e duma cintilante veia humorística. Que os torna congéneres dos tipos do imortal Gavarni.»
Tendo-se iniciado pelo realismo costumbrista de influência inglesa, entrava na gravura como realismo humorístico de influência francesa.
A sua obra gráfica inicia-se na década de sessenta, e segundo descoberta de António Dias de Deus, trabalhos seus surgem no jornal “As Notícias” que inicia a sua publicação a 27 de Março de 1866, incluindo já desenhos de Manuel de Macedo. Mas seria na década de setenta que se imporia no meio académico e gráfico.
Está ligado á criação das revistas de crítica literária e artística, como “Artes e Letras” (1872) e “Ocidente” (1878), e aqui desenvolverá grande actividade, como desenhador assim como critico e teórico.
Ilustrando dezenas de livros, e colaborando em diversas publicações podemos aqui invocar por alto alguns títulos como o Diário Ilustrado (1872), Almanac Ilustrado para 1873, Recreio Infantil (1874), Lanterna Mágica (1875), Almanach de caricaturas para 1876, Jornal dos Artistas (1875-77),, A Ilustração (1884)… Revista Ilustrada (1891), Gazeta Ilustrada (1901)… Revista das artes Gráficas (1907), O Tripeiro (1910)… assim como no Comércio do Porto Ilustrado, Diário de Notícias Ilustrado…
Ilustrou livros como “A Gravura em Madeira em Portugal” de João Pedroso (1872/76), “Lisboa na Rua” de Júlio César Machado (1874), “História de Portugal” de António Enes (1876), “As tragédias de Lisboa” de Leite de Bastos (1877/79), “O Hissope” de António Dinis da Cruz e Silva (1879). “O Real Teatro de São Carlos” de Fonseca Benevides (1883), “Álbum dos Costumes Portugueses” (1888)…
Manuel de Macedo seria também professor de desenho no Instituto Industrial de Lisboa, publicando como complemento alguns livros de divulgação artística e técnica das artes do desenho. A sua actividade abrangeria também a crítica de arte, ou crónica como ele baptizou os seus trabalhos (assinados por vezes com pseudónimos de ”Spectator” ou “Pincel”), assim como viria a ser o primeiro conservador do Museu Nacional de Belas artes, fundado em 1884.
Pintor da comédia dos costumes, Macedo entendeu o realismo como visão humorística, como realismo da actualidade, visão popular mas erudita, visão paralela á de Nogueira da Silva, só que com um outro poder de análise estética.
«O sr. Macedo é, talvez, - diz Andrade Ferreira em 1872 in Artes e Letras - o nosso artista que possui mais conhecimentos teóricos. Poucos como ele falam tão bem a linguagem de atelier e entram mais facilmente na parte tecnológica de arte. /../ Abraçou com encarecimento os princípios da proclamada escola realista.»
Erudito eminente, seria companheiro de tertúlia de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, apoiando-o na sua tentativa de realismo, na sua campanha de crítica às artes portuguesas e sua dinamização, trabalhando com ele a gravura. Se a sua obra é importante dentro do humorismo social e pitoresco, mais importante será a sua influência técnica e de gostos ao jovem da casa Bordallo Pinheiro. Nogueira da Silva como criador, e instrutor de jovens gravadores; Manuel Maria como pai e teórico das artes; Manuel Macedo como criativo e também teórico influenciaram o gosto deste jovem, que também começaria por ser costumbrista, realista, antes de se tornar na grande figura de charneira da caricatura portuguesa - Raphael Bordallo Pinheiro.
Comments:
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interessou-me muito esta sua peça, porque anda va a querer saber alguma cois de substancial sobre esta figura que já percebi que se cruza várias vezes numa pesquisa que ando a fazer sobre "costumes" do norte do país. Queria perguntar-lhe onde é que é possível ver "por junto" a obra gráfica de Macedo, se ela está editada ou, melhor, coleccionada de modo significativo por alguma instituição ou particular. Muito obrigado pela resposta que me possa dar. António Medeiros
Muitos parabéns pelo artigo sobre Manuel de Macedo, ilustre Verridense, terra de onde também sou natural. Neste momento desenvolvo uma recolha de dados sobre o já referido Manuel de Macedo, para fazer uma exposição num futuro próximo, pelo que lhe pedia se me poderia enviar mais documentação ou então dizer-me qual a bibliografia que consultou.
Pedia-lhe ainda se me poderia ajudar a encontrar dados gráficos e pictóricos da sua autoria.
Desde já o meu obrigado.
Arménio Pato
Ps. O meu contacto jfreguesiaverride@sapo.pt
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Pedia-lhe ainda se me poderia ajudar a encontrar dados gráficos e pictóricos da sua autoria.
Desde já o meu obrigado.
Arménio Pato
Ps. O meu contacto jfreguesiaverride@sapo.pt
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