Tuesday, July 24, 2007

A Mulher no Cartoon 6

Por: Osvaldo Macedo de Sousa

HUMOR NO FEMININO

As pessoas, principalmente no trabalho, não estão habituadas a encarar as suas actividades com seriedade, ou seja com humor e frontalidade, e desconfiam de quem tem uma postura mais humoristica, mais irreverente, mais filosófica, porque se sentem desarmados nas suas fragilidades. Isto é não só no mundo da mulher como do homem.
Como referi já anteriormente, tudo nasce na educação. A educação moderna está ligada a um ideário desenvolvido na Revolução Francesa, onde J.J. Rousseau ("Emile" 1864 – Oeuvres Completes t.2 pág. 149, Hachette) tem uma palavra: "a mulher é feita especialmente para agradar ao homem. Se, por um lado, o homem lhe deve agradar, é de uma necessidade menos directa: o mérito dele está na sua potência; agrada apenas porque é forte. /.../ Se a mulher é feita para agradar e para ser subjugada, deve tornar-se agradável ao homem, em vez de o provocar: a violência dela está nos seus encantos; é por estes que o deve obrigar a encontrar a força e a usá-la".
Já Lutero dizia, "o pior adorno que uma mulher pode querer usar é ser sábia", e Friederich Hegel defendia que "a mulher pode ser educada, mas a sua mente não é adequada ás ciências mais elevadas, à filosofia e algumas das artes."
Enquanto a educação do homem se desenvolve com os músculos, a da mulher desenvolve-se com o sexo. Ela é a flor reprodutora, fragil e submissa. Não deve pensar, antes cuidar das gerações futuras segundo o modelo do marido. A Honra deste está na palavra, enquanto que a dela está entre as pernas.
Ela deve preservar essa honra pela superficialidade do pensamento, do conportamento coquete, sedutor, inebriante, mas sério e frio nos momentos certos. A mulher com espirito é um perigo.
Helga Kotthoff, numa intervenção na "Kasseler KulturBahnhof" sobre "Haben Frauen nichts zu lachen ?" dá-nos uma ideia sobre a evolução do riso na mulher: "Os meninos e as meninas brincam muito aos palhaços. Mas logo que entram na escola, isto altera-se. As meninas bandonam este papel rapidamente. Os meninos fortalecem-no, permanecem palhaços. E isto continua também, no palco. Qual a causa ? Quem brinca, fica no centro, todas as observações são dirigidas a ele ou ela. Além disso, o cómico joga também com normas sociais. Quem brinca quebra regras, sejam elas de linguagem ou sociais. O brincalhão torna-se pois intelectualemente desperto, autárquico, tem a sua própria concepção do mundo. E este papel adapta-se muito menos às mulheres que aos homens. Tradicionalmente devem as mulheres ser belas e permanecer na rectaguarda".
A imagem de uma mulher com humor é um pesadelo para o homem, destruindo-lhe o sapatinho de cristal idealizado com o vestido cor de rosa, num cenário ideal para a violação da flor virgem. A mulher com sentido de humor é uma ameaça ao debil amor-proprio masculino. Basta uma chicota satírica, ou mesmo irónica de uma mulher para desinchar todos os musculos de Tarzan. Uma mulher com humor não é séria, é no mínimo uma lingua viperina, uma liberal que põe em causa todos os sagrados valores da sociedade. No mínimo deve ser uma desleixada no vestir, no maquear-se, na preservação sexual da virgindade e da sacralidade do casamento. Uma mulher humorista é como uma adultera. Já repararam que o esteriotipo das mulheres cómicas dos soup americanas tem sempre uma voz rídicula, com um comportamento patético ???? Eu sei que pareço uma femininista a fazer uma caricatura, mas não estamos nós a falar de caricaturas ? Nunca se deve generalizar, já que neste mundo há de tudo...
Baudelaire escreveu que o humor é satânico, isso porque o seu ego foi esquartejado, sem dúvida, pelo humor de mulheres. Elas têm sim humor, um humor mais profundo, mais pensado, o que naturalmente doi mais reconhecer a verdade da sátira, das metáforas que elas usam para descontruir o mundo, a sociedade. Mas deixemo-nos de fantasias abstratizantes. Lá está um homem a tentar impõr uma imagem da mulher. Deixemos as cartoonistas dar a sua opinião.
" É claro que as mulheres têm o seu tipo de humor - escreve Antonia Toneva Beeroo - mas não é assim tão diferente do humor masculino. O que se passa é que é difícil a comunicação entre homens e mulheres e isso fá-los sentir como são diferentes as suas formas de expressão. As mulheres têm que ser mais reservadas com o que dizem e fazem para não ficarem em situações embaraçosas, já que a reputação de uma mulher é fácilmente destruída. "
" Eu costumava pensar assim - respondeu Gerrie Hondius - mas agora já não tanto. Descobri que tenho imensos admiradores-homens e que a sociedade mudou de forma tal que qualquer tipo de humor pode, ou não, ser apreciado por qualquer dos sexos. É algo de individual. Depende mais do tipo de pessoa que se é, do que própriamente do sexo a que se pertence."
Para Donna Barr o humor masculino tem mais sangue é mais brutal, enquanto Ioana Nikolaova acusa o humor masculino como demasiado obvio. Na realidade o humor masculino é dominante, ou seja planetário porque se centra em elementos base de diálogo de todos os homens do planeta ou seja na política, com algum sexo, nas questões militares, com algum sexo, nas questões económicas, com algum sexo, nas questões religiosas, com algum sexo, no desporto, com algum sexo... Quem não tenha uma piada sobre isso não entra no diálogo. Os interesses dos homens é de todos, e os das mulheres é apenas delas. As mulheres têm tendência a não falarem nestas questões fundamentais da vida, ou seja desporto e sexo, politica e sexo... (no final disto ainda vão dizer que eu sou gay, mas eu gosto do humor feminino)
"Nós somos mais sensíveis ao acto de ofender – escreve Martha Montoya – e também somos mais cuidadosas em relação a quem ofende primeiro".
"O humor das mulheres é usualmente bastante liberal - respondeu Jan Eliot - as cartoonistas não aceitam os valores tradicionais ou papéis sexuais. Elas gostam de agarrar questões sociais, interessam-se mais por relacionamentos pessoais, humor de família, e valores sociais, e menos pelo humor de força e acção, que os homens. Por vezes as mulheres têm uma maneira especial de gracejar sobre os homens, o casamento, os filhos, o trabalho doméstico, os patrões, a moda... porque temos um ponto de vista especial. Algumas cartoonistas são especialmente boas neste "humor de relacionamento", piadas e histórias sobre namoros, casamentos, amizades. Nós fazemos mais este tipo de humor que os homens. Quando alguns homens tentam gracejar sobre assuntos de mulheres soa muitas vezes a falso... porque, não tendo a experiência do que é viver sendo mulher, puramente não conseguem perceber o assunto que versam. Eles não se riem CONNOSCO mas sim DE NÓS. Os homens na América aparentemente adoram piadas de "golf", e as tiras cómicas feitas pelos cartoonistas mais velhos são definitivamente sexistas apesar de algumas tentativas de progresso."
"Pois penso que a mulher tem um ponto de vista diferente sobre qualquer tema. - defende Nani – Por exemplo estamos habituados a ver mulheres com seios grandes e enormes ancas e o protagonista é sempre o homem, eu procuro fazer ao contrário, mulheres mais normais e situações que um homem não poderá contar porque as desconhece".
Catherine Doherty chama a atenção para o mundo do comics alternativo:- " Como alternativa, vamos encontrar trabalhos feitos por mulheres talentosas, não tão heterossexuais, não tão enfadonhas". Dianne DiMassa - HOTHEAD PAISAIN - Uma lésbica luta violentamente para corrigir as injustiças do mundo; Allison Bechde - DYKES TO WATCH OUT FOR - Um dia na vida de várias lésbicas americanas, algumas mães, algumas transsexuais, algumas "femme" ...; Debbie Dreschler - DADDY'S GIRL - O seu trabalho trata a sua experiência pessoal de ter crescido na companhia de um pai sexualmente abusador. É poderoso e arrepiante. Algumas das melhores bandas desenhadas que já vi. Ver também o seu livro "Nowhere"."
" Eu não trato temas de mulher. – esclarece Sepideh Anjomrooz - Penso que um cartoonista deve ter pensado sobre todos os temas: políticos, de amor, pobreza no mundo, e muitas outras realidades ... A um cartoonista no Irão não se lhe permite retratar uma pessoa que esteja no topo da política, nem desenhar qualquer tema relacionado com sexo, ou uma mulher que não esteja coberta, há uma linha vermelha que nenhum cartoonista pode ultrapassar sob pena de ter problemas ou os jornais serem fechados. Mas ele, ou ela, pode trabalhar qualquer outro tema, mesmo que sejam assuntos políticos ou filosóficos."
Claro que há um humor feminino, o feito por mulheres. Mas será tão diferente do homem ? Depende das hormonas de cada um. Dizem que todos temos de ambos os géneros, dependendo a percentagens para a balança cair para cada lado. Há casos que não cai, tem silicone ou viagra... (desculpem a graça sexista, mas sou homem). Não se pode falar levianamente de esteriotipos, mas que há matizes, há.
A sensibilidade da mulher, pela sua concepção fisico-psicológica de matriarca, assim como pelo lado educacional que está sempre presente, leva-a a olhar a mundo mais pelo lado social. Quanto ao sexo, ao sangue, suor e lágrimas é discutivel, principalmente consoante os periodos da vida.
A maioria das mulheres (heterosexuais, lésbicas e demais estilos de vida) têm uma visão mais filosófica e intuitiva da vida, descarnando-a mais pela ironia que pelo obvio. No entanto, quando os fundamentalismos tomam espaço numa luta, naturalemnte cai-se nos excessos que se recriminam do outro lado...
E para terminar de uma forma mais sexista, coloca-se ainda uma questão desvastadora. Será que há uma estética feminina nesta forma de abordagem sócio-humoristica ?

HÁ UMA ESTÉTICA FEMININA ?

Claro que ninguem está a colocar aqui a questão de se a mulher sabe usar os pinceis, as canetas, as info-ferramentas, mas se ela preferencialmente opta por um estilo diferenciado para melhor enquadrar a sua mensagem.
"As mulheres expressam nas caricaturas a sua estética através duma reflexão mais moderada da realidade. - defende Antonia Toneva Beeroo - As mulheres nunca chegam a extremos como os homens, porque a sua natureza torna-as mais cautelosas. As mulheres têm que ser protegidas pelos homens para poderem exprimir todo o seu potencial em tudo o que fazem".
A investigação de Trina Robbins leva-a a opinar – "Em larga medida eu acho que as mulheres têm tendência a desenhar "mais bonito" que os homens, embora aqui também haja excepções especialmente entre cartoonistas "indie" mais novas. Já que quebraram a última barreira sexual que diz que as mulheres não devem desenhar "feio". Uma coisa é certa, contudo: a maior parte das mulheres não desenha de um modo impertinente super-heróis e vilões musculados ou mulheres com enormes seios grotescos a lutarem violentamente até se desfazerem". Hoje segundo a cartoonista Signe Wilkinson – " Tenho reparado que muitas cartoonistas preferem um traço mais simples, mais primitivo, que os homens."
"Sim , tambem utilizo uma estética diferente, – declara orgulhosamente Nani - não é a mujer objeto a la que nos tienen acostumbrados, al igual que Bretecher, dibujo mujeres normales, con pelos en las piernas ( todas los tenemos) con problemas cotidianos, con ropa comoda, no es una mujer que exista para complacer al hombre existe para complacerse a si misma."
Cesarina Silva resume a questão – "Estética na apresentação e ética no conteudo...são 2 tipos de estética: a visual e intelectual. Talvez a visual seja mais explorada por eles,exactamente pela descontração acrescida em relação aos cuidados femininos; Na intelectual...mais do que incidir em temas, elas fogem ao vulgar, descriminatório humor... porque são mais humanas...não são pudicas!"

RESUMINDO E CONCLUINDO

O panorama da Mulher no Cartoon, como saída profissional não é grande coisa, mas com tendência para melhorar. Pior não pode ficar, salvo se triunfarem os Talibans, ou outros fanatismos de estupidificação humana. São questões culturais e educacionais a resolver, mas se o homem tem que ser instruido nessa âmbito, são as mulheres que têm de se revoltar, de se imporem, de seguirem os exemplos das que já triunfaram. Uma coisa é certa, há uma necessidade crescente de um olhar humorístico mais radical, no sentido filosófico, e psicanalítico, e esse é o forte do humor feminino. Hoje o humor, a sátira, a ironia do homem é cada vez mais ilustração, e menos intervenção, estão a ficar moles, estão a ficar cada vez mais politicamente correctos, por compadrios, por lobbies... Mulheres, está na hora de tirar a "burka" e rir.

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