Saturday, October 21, 2006

THE CARTOON AND THE BEGINNING OF THE 21st CENTURY


INTRODUCTION
Por: Osvaldo Macedo de Sousa

The poet wrote: Times change so as wishes. Time is composed of changes. Sometimes they happen slowly but some other times they happen so quickly they overtake us. The global warning is as undeniable reality. The ‘cold wars’ melted and hurricanes and tropical storms are all over the planet. Society is getting more instable and susceptibilities are on the surface of our skin.
The media are a reflex of the culture of each society and therefore they change simultaneously with it, doing everything to be its modeller. When society charges so do the media and as a consequence journalism is not the same now as it was at the time of the great press revolution during the liberalism period. Today we talk about neo-liberalism which is something very different, even opposite from the previous.
Concerning the structure of the press satirical drawing from the 18th and 19th centuries is not the same of those from contemporary society, because we have now different ways of living the politics, of living in society. Of course it is legitimate to say that artifices of the satirical, ironic or humoristic creation are always the same, changing only its way of tackling.
One of the cartoon pioneers, Charles Philipon said: «I’m not accused for my drawings but for what is inside your conscience». The way society deals with conscience has been changing from decade to decade, from year to year in a spiral which sometimes turn back to the past and others goes forward to an hypothetical future.
Cartoon is an Art with graphical aesthetic, with journalism communication and socio-political philosophy. As an ally, or as a weapon of dialogue, it uses satiric irony, humor and/or comicality. Therefore we can find some periods dominated by realism or pamphleteerism, by philosophy, morality and absurd… in a game of mirrors showing the soul of our society. Being a steady art, the aesthetic cannot overcome the message, neither the comicality smoother the philosophical. As someone said:‘more comicality makes the critic-philosophical thought become thinner’. But also this needs a bit of humour in order to be active and efficient. In a cartoon, the message is the most important, and then the humor, but both should get the reader at the same time.
The problem is to separate the theory from the practice. If, on one hand we talk about a serious, tragic, and absurd nowadays society, on the other hand we verify that grotesque and comic are dominating the world. In the past, comicality wasn’t exactly free, it was sacred and had rituals. It was less intellectualized, definitely a laugh of ‘low belly’, but it was sacred. Nowadays, everything is unsacred, including humor. The Dionysian rituals, the ‘saturas’, ‘nave des fous’… have gone forever and now we watch to the triumph of stand up comedy. This light kind of social exercise, of living and explaining life is established on the power chairs and politicians became funnier than comedians. It is also established on the communication chairs, manipulating news in a politically correct way. And it is trying to establish itself in cartoon turning it into graphic illustration.
Nowadays, fear is being imposed as a governing weapon, as a living terrorism.
This year is my 25th anniversary as producer of humoristic drawings events (more than 400 events), of cartoon books publications and of graphic humour investigation in Portugal. I wrote some less inspired texts, and also read genial works (I know now that I don’t know so much than when I started). For us, investigators it is easy to stroll among words, concepts, thinking about other’s work, but in face what do the artists say about their work? I like to listen to them; I like to be an active link between what they think and what the readers say.
In the presence of the “Cartoons War” controversy, of the fundamentalists reactions, of politicians who take advantage of violent minorities movements to shut up inconvenient voices; of some cartoonists who chose to accommodate themselves instead of fighting… I began to question about the role of the cartoon in this troubled society, and obviously about its future. Is it still the bastion of the western culture democratization? Is there yet any freedom of speech allowing the survival of the political satire?
Is this an existential doubt caused by the turn of the century? Andrey Feldshteyn mentions in his letter, to be found in ‘History of Cartoon from the ancient time till our days’ (published in St. Petersburg in 1903) the exactly same doubt: «Will the cartoon survive with all this modern politeness and courtesy in the relationship between individuals and even countries?»
With internet help I searched for live testimonials of artists from the five continents, atheists, Christians, Muslims, Orthodoxes, Protestants, Taoists, Buddhists… ironists, satirists and comedians. I contacted around 400 artists and 20 associations. My questionnaire was integrated in several forum sites like ‘cartoonblues’ (Rússia) and FECO (Federation of Cartoonist’s Organizations). It was also published in sites as cartoonworld, cartoonistconspiracy, chavedoburaco.blogspot.com, portalhumor... and of course in mine: humorgrafe.blogspot.com
I had some problems communication with those who do not speak English, French, Spanish or Portuguese. At the end, 50 artists participated (with words or drawings). Obviously I’m not looking for consensus or any indestructible truth. Since I do not have much room in my book, I will only publish the most valuable pieces. After meditating, these were the questions that came up to my mind:


INTRODUÇÃO

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como escreveu o poeta, porque o tempo é feito de mudanças. Por vezes, estas acontecem lentamente, outras, como um turbilhão que nos ultrapassa. O aquecimento global é uma realidade indesmentível. As guerras frias descongelaram e proliferam os tufões e tempestades tropicais um pouco por todo o lado. Os equilíbrios são cada vez mais instáveis, e as susceptibilidades andam à flor da pele seca.
Os Media são o reflexo da cultura de cada sociedade e, por conseguinte vão se transformando com ela, ao mesmo tempo que procura ser o seu modelador. Se a sociedade muda, estes também se adaptam, razão pela qual hoje em dia não se faz o mesmo tipo de jornalismo de quando se deu a grande revolução da imprensa com o Liberalismo. Hoje falamos já em Neo-liberalismo, que é algo muito diferente do anterior, mesmo podendo dizer-se antagónico. Em relação à estrutura do desenho satírico de imprensa do séc. XVIII / XIX também forçosamente não é o mesmo de agora, porque, actualmente vive-se outras formas de estar em politica, de estar em sociedade. Claro que se pode defender que os artifícios da criação satírica, irónica ou humorística são sempre os mesmos, alterando-se apenas a forma de abordagem.
Um dos pioneiros do “Cartoon”, Charles Philipon já dizia: “Aquilo de que me acusam não está no desenho, mas na vossa consciência”. A maneira da sociedade lidar com a consciência tem mudado de década para década, de ano para ano numa espiral ciclónica que, por vezes, traça linhas tangenciais ao passado, mas sempre com convulsões para o hipotético futuro.
O Cartoon é uma arte de estética gráfica, de comunicação jornalística e de filosofia sócio-política. Como seu aliado, ou como arma de diálogo com o público, usa a sátira, a ironia, o humor ou a comicidade. Assim, encontramos épocas em que domina o realismo ou o panfletarismo, a filosofia, o moralismo, o absurdo… num jogo de espelhos com a alma da sociedade. Sendo uma arte de equilíbrios, nem a estética se pode sobrepor à mensagem, nem o cómico abafar o filosófico. Como alguém disse, quanto mais comicidade houver, mais anoréctico pode ficar o pensamento crítico-filosófico. Mas, este também necessita da pitada q/b de humor para ser actuante e eficiente. No cartoon a mensagem deve nascer primeiro, vindo o humor como segundo elemento, devendo chegar os dois simultaneamente ao leitor.
O grande problema é que, uma coisa são as teorias, outra a prática. Se, por um lado, falamos do momento sério, trágico e absurdo da actualidade, por outro verificamos que o grotesco, o cómico dominam o mundo. No passado, a comicidade não vivia selvaticamente livre, estava sacralizada, ritualizado. Poderia ser menos intelectualizado, ser um riso dominantemente de baixo ventre… mas era sacro. Hoje dessacralizou-se tudo, inclusivé o humor. Os ritos dionisíacos, as “saturas”, as “Naves dos loucos”… desapareceram para triunfo do “Stand up comedy”. Este género ligeiro de exercício social, de explicar e viver a vida instalou-se nas cadeiras da governação ao ponto de os políticos serem mais cómicos que os comediantes. Instalou-se nas cadeiras da comunicação ao manipular as notícias de forma “politicamente correcta”. E procura cada vez mais sentar-se nos estiradores do Cartoonismo para o transformar em ilustração gráfica.
Raphael Bordallo Pinheiro, em 1875 podia dar-se ao luxo de “estragar o estuque de cada um, com protesto do senhorio”, mas sem correr o perigo de uma Jihad anti humorística. Hoje tenta-se impor o medo como arma de governação, como terrorismo vivencial.
Neste ano de 2006, faço vinte e cinco anos de produções de exposições de desenho humorístico (mais de quatro centenas de eventos), de edições de livros sobre a matéria (mais de três centenas), de trabalho como historiador do humor gráfico em Portugal. Já escrevi muitos disparates, assim como li muitos tratados geniais. No final só sei que ainda sei menos de que quando comecei. Para nós teóricos é fácil deambular pelas palavras / conceitos, fazer reflexões sobre as criações alheias, mas e o que dizem os artistas sobre o que fazem? Eu gosto de ouvir os artistas, ser um elo actuante entre o que eles pensam e o que ouço o publico dizer.
Perante a polémica da “Guerra dos Cartoons”, das reacções fundamentalistas; perante a reacção de políticos que se aproveitam dos movimentos de minorias violentas, para calar vozes incomodas; perante a actuação de alguns cartoonistas que preferem adaptar-se que lutar… questionei-me sobre o papel do cartoon nesta sociedade em delírio, e qual o seu futuro. Será que se mantém como baluarte da Democraticidade da cultura ocidental? Será que ainda existe liberdade de expressão para que a sátira politica sobreviva?
Esta será uma dúvida existencial de mudança de século? Andrey Feldshteyn refere na sua carta, ter encontrado no livro "History of Cartoon from the ancient time till our days" (editado em Saint Petersburg in 1903) a mesma dúvida: "Will the cartoon survive with all this modern politeness and courtesy in the relationship between individuals and even countries?"
Pela Internet procurei os testemunhos vivos de artistas dos cinco continentes Ateus, cristãos, muçulmanos, ortodoxos, protestantes, taoistas, budistas… ironistas, satíristas e cómicos… Contactei cerca de quatrocentos artistas, assim como mais de uma vintena de associações. As perguntas entraram no Fórum de sites como cartoonblues (Rússia), e da FECO (Federation of Cartoonist’s Organizations); publicitados em sites como cartoonworld, cartoonistconspiracy, chavedoburaco, portalhumor... assim como no meu: humorgrafe.blogspot.com
Tive dificuldade de diálogo com quem não fala inglês, francês, espanhol ou português. No final, tive a colaboração de cinco dezenas de artistas (uns com palavras, outros com desenhos). Naturalmente não estou à espera de encontrar consensos, e muito menos verdades absolutas. Pela falta de espaço, só publicarei os excertos mais pertinentes. Eis a questões que surgiram da minha reflexão, em 11 pontos:

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