Tuesday, October 03, 2006

Caricaturas Crónicas 10

OS «IN DIZ POSTOS»

Por: Osvaldo Macedo de Sousa

IVA Deus pelo universo quando projectou um mundo em quatro dimensões, onde a trindade era una e a duplicidade dominava. Um mundo duplo, tendo por um lado a sociedade, pelo outro o marginal; de um a verdade, do outro a mentira; de um o doce, do outro o amargo; de um o belo, do outro a arte contemporânea; de um lado o Zé, do outro o político, porque, lá diz o adágio popular, «De Deus vem o bem, e do Governo vem o mal» (in «Pontos nos ii», 11/9/1890).
Deus criou o mundo e o Homem. O Homem criou o objecto como utensílio de sobrevivência. A sobrevivência criou o político, o qual criou o imposto. Deus criou um paraíso para o Homem, mas como este não o soube merecer mandou-lhe um político, condenando-o a pagar impostos durante toda a eternidade, o qual nomearia um gestor público para transformar esse Paraíso público em Inferno privado.
Deus tinha criado o Homem como tantos outros animais, mas um político prometeu-lhe um maior futuro, e ele roubou o fogo da consciência. Como castigo transformou-se num marginal, num contrapeso que desequilibra a balança natural do mundo.
Deus criou o bem e o Homem transformou-o no mal. Deus criou a espiga como a semente, reprodutora da abundância, e o Homem fez da vida uma grande espiga: «...todos têm a sua espiga: uns a doença, outros os empregos, outros os jornais e todos a falta de dinheiro, a maior de todas as espigas» (R. B. P., in «António Maria», 27/5/1892).
O Homem criou o objecto como um elemento auxiliar na sua luta pela sobrevivência. O Homem é o bem, a natureza o mal a vencer. Esses objectos, utensílios inspirados na anatomia, são prolongamentos dos nossos dedos, como por exemplo o pente, a pinça...; das nossas mãos, como o copo, o prato, a bacia... quando estas estão abertas, ou o martelo quando se fecha o punho (a foice só veio depois); dos seus dentes, como a faca, a serra, a varinha mágica...
Outros utensílios apareceram, não como prolongamentos visíveis, mas como, estudo mecânico da nossa anatomia como articulações exteriores, como são o caso das tesouras, balanças... máquinas, próteses do homem que o levaram à civilização. Viagem longa, primeiro a burro, depois a carroça e finalmente de veículo motorizado. Um longo caminho cheio de buracos, tal como as estradas nacionais (essa uma das razões por que ainda não chegámos ao progresso e à civilização).
Em qualquer estudo da evolução do Homem, ou da história dos descobrimentos mecânicos, nunca encontrei, o imposto como um objecto de sobrevivência do Homem. Mas, na história das sobrevivências já encontramos o dito imposto, como criação dessa quarta dimensão humana, o político.
O imposto não é uma criação natural; mas imposta exteriormente, e essa a razão da partícula IM. Qual a sua importância? Por exemplo, analisamos o seguinte texto: Ao político é (im)possível não ser (im)parcial, porque naturalmente existe uma (im)potência intrínseca em não realizar (im)posturas viáveis para a sociedade.
O «im» é uma partícula de grande importância política, porque, se não é uma articulação anatómica, é uma articulação governamental.
O Governo vive dos im-postos, o Zé trabalha im-posto. Uma articulação harmoniosa para uns, enquanto a que para outros é a eterna espiga: «O ministro da Fazenda faz andar os escrivães da dita n'uma verdadeira dobadoira; mas, por mais que ele destrince, o pobre contribuinte é que há-de ficar sempre embrulhado na meada» (R.B.P., in «Pontos nos ii» a 21/10/1886).
O imposto é uma necessidade governamental: « - O patriotismo exige que o país se dispa um pouco mais...» «- Mais do que isto?» (pergunta o Zé já todo nu)·«- Sim, exige-o o patriotismo» (R.B.P., in «António Maria», 13/1/1981). Uma cantiga que já é muito velha, mas que todos os dias os políticos a cantam como a novidade. É que, como o desenhou Cecília em 1848, o Orçamento é uma cuba rota que os impostos nunca conseguem encher.
No final, já não se sabe onde está o bem ou onde está o mal, e iva o português a matutar nos seus impostos quando lhe caiu na cabeça um outro, proveniente do céu, perdão da CEE: «Aguenta, Zé! A coisa vem do alto, manda-a nosso senhor; portanto puxa por os cordões à bolsa, paga e na bufes!...» (A. Silva, in «Charivari», 26/4/1890).

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