Sunday, October 22, 2006
AmadoraCartoon06
XVII FESTIVAL INTERNACIONAL BD DA AMADORA
HUMORES PERIFÉRICOS
EM EXPOSIÇÃO NOS RECREIOS DA AMADORA (Junto à estação da Amadora)
21 de Outubro a 5 de Novembro
HUMORES PERIFÉRICOS
EM EXPOSIÇÃO NOS RECREIOS DA AMADORA (Junto à estação da Amadora)
21 de Outubro a 5 de Novembro
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
Não é pela linha recta que se atinge mais depressa o humor, a ironia. È nos contorcionismos da mente, do traço, da visão que renasce o mundo grotesco. Renasce feito filosofia humorística, feito sorriso de sobrevivência. Mas, nem sempre o que parece é, e se por vezes o riso não é de humor, também nem sempre o humor é para rir. Há muitas actividades periféricas que se confundem com a essência, e muita da essência que parece periférica, mas não é.
Ok. Estamos com conversa para encher espaço. Muito palavreado para tentar justificar estes humores periféricos, num evento dedicado ao cartoon, ou seja à arte gráfico-jornalística de olhar a vida de uma forma critica, filosófica e actuante. O normal seria o desenho, contudo a fotografia, não sendo uma arte periférica na imprensa, pode ser encarada como tal no cartoon.
A fotomontagem é outra periferia da criação gráfica, nascida da insatisfação do homo-criativus do séc. XX. Desenvolveu-se com o Dadismo, o Surrealismo, o pós-modernismo… visões irónicas, satíricas e humorísticas nas artes plásticas. Neste século de absurdos, de ruptura o humor invadiu todos os campos da criatividade. O racionalismo tornou-se uma obsessão no irracional.
Nada mais pode ser encarado seriamente, após o Homem se ter confrontado com a sua selvajaria natural. A única seriedade está afinal no humor, esse espelho que nos mostra como realmente somos. Marionetas de economismos, travestis de politicas, máscaras tristes de risos religiosos diabólicos.
Pode-se desenhar, fazer fotomontagens, colagens…. para exprimir a alma despedaçada do autor confrontado com o mundo, mas com sorte, no final o que fica é o sorriso de compreensão do publico. O riso não é obrigatório. Por vezes é mesmo inconveniente. A lágrima de vez em quando salta das faces desprevenidas. Mas, a mensagem cai fundo nas almas. Quando isso acontece, com ou sem humor, então realizou-se o cartoon.
Assim acontece com Stane Jagodic que, antes de tudo é um artista plástico. Pinta, esculpe, desenha, fotografa. Em todas as suas expressões criativas, sentiu a necessidade de intervir na sociedade. O desenho tornou-se cartoon de imprensa. Evitando as palavras, seus desenhos são traços de estilete dissecando a vida, linhas sintéticas orientadores do pensamento crítico com humor. Contudo seus olhos horrorizados com o militarismo, com a guerra, com a estupidez humana necessitavam de algo mais forte. Os seus gritos de angustia necessitavam de ter ainda maior poder que o traço gráfico. Assim se dedicou ás colagens, e principalmente à fotomontagem. Dedicou-se à provocação satírica, ao uso do absurdo para nos fazer rir e chorar de nós próprios. Com a fotomontagem ele procura chocar-nos com a surpresa, depois provocar-nos, alienar-nos no absurdo, para nos obrigar a rever o mundo, e a rir com ele. Ele abusa da imagem, adulterando-a, reutilizando partes, manipulando conhecimentos e sentidos. E, mesmo em todo este sofrimento, encontramos subjacente o riso sardónico do cartoonista Jagodic. O realismo da fotografia é desfocado no irrealismo da sociedade contemporânea.
Stane Jagodic é um artista inconvencional, é um mestre que usa a imagem como só os grandes mestres sabem. As suas criações são “performances” de irreverência, são pesadelos surrealistas de ironia, são gritos selváticos do dadaismo humorístico, são pós-modernismos de uma sociedade perdida. Ao dedicarmos este ano a atenção a formas diferentes de fazer cartoon, logo me veio à ideia esta obra genial de dor, de absurdo e de humor negro. De propósito não quis mostrar os desenhos de Stane Jagodic, obras mais convencionais no cartoonismo internacional, e não tão periféricos como as fotomontagens.
Mas o que é o cartoon ? Na tradição francófona da língua portuguesa, este termo não deveria ser usado, antes Caricatura. Assim nasceu o desenho gráfico-satirico de imprensa. O terno cartoon só veio por influencia anglo-saxónica, quando a caricatura já era adulta. Mas por caricatura também se entende o retrato-charge, os desenhos que desvendam as almas nos fácies, explorando narizes mais aduncos, orelhas de abano… A caricatura é um retrato feito a lápis, a carvão, não feito de arame. Só que nas explorações plásticas periféricas tudo é permitido, e desse modo não há artista mais periférico da caricatura que Zé dos Alicates. Sendo um caricaturista repentista, não é fácil fazer uma exposição de obras suas. A caricatura em arame é feita perante a vitima, que logo a leva. Realizar-se-á assim uma exposição periférica de caricaturas, ou seja em movimento perante quem viver nos dias 28 e 29 de Outubro a Festa da Caricatura deste Festival.