Sunday, September 24, 2006
Caricaturas Crónicas
CARICATURAS CRÓNICAS
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
Viver a vida como um sorriso é uma utopia, mas infelizmente é a única saída para a nossa sobrevivência mental neste mundo de loucuras.
A vida, segundo os dramaturgos do poder (político ou religioso), é apresentada como uma Comédia que deve ser encarada como uma Tragédia, cenógrafa em tons cinzas e violetas. Mas, a natureza ensinou-nos que este pequeno melodrama não passa de uma tragédia que deve ser vivida como uma Comédia.
E de tragicomédia em tragicomédia eles diabolizam-nos a alma, instigando-nos a viver na dor, no medo. É esta sombra eterna e macabra que nos transforma em seres “sérios”, tristes, engravatados, pessimistas, advogados, niilistas, economistas… ateus e descrentes do Humor.
A sacralidade do Humor tem sido ao longo dos séculos aviltada por iconoclastas (políticos e religiosos), que em renitentes heresias insistem que Deus não Ri. A religiosidade é crença, mas acima de tudo sapiência, compreensão… e não há forma mais inteligente de se compreender o mundo que pelo seu lado humorístico. Descarnar a hipocrisia, a falsidade, a demagogia é função dos caricaturistas que devem combater o anedotário brejeiro que é a política humana.
Nestes momentos em que em nome de fundamentalismos anti-religiosos, ditos muçulmanos, cristãos, judaicos ou políticos, o direito ao Humor é posto em causa, somos obrigados a reflectir sobre o papel desta arte na sociedade contemporânea.
Sem dúvida que há falsos missionários, falsos ministros da religião, mas os verdadeiros crentes do humor, o papel dos verdadeiros caricaturistas / cartoonistas é a do “grilo falante”, a consciência pertinente e incomoda do nosso dia a dia. É certo que os adultos já não acreditam em fábulas disneyanas, em “grilos falantes”, mas que há milhares de Pinóquios, há.
Os humoristas não são os detentores da verdade pura, apenas um raio X em espelho dessa verdade. Os humoristas não são detentores do segredo da vida, apenas investigadores nunca satisfeitos. Mas os cientistas garantem que o segredo da vida é apenas uma espiral. A essa helicoidal da vida dá-se-lhe o nome de ADN, abreviatura de Antes – Depois – Nada, já que a essência do Homem é viver na saudade do antes, sonhar sem ousar no depois, vivendo no pessimismo do nada quotidiano.
A espiral do ADN é igual à espiral do tempo que faz evoluir a vida numa circulação ascendente do nascimento à morte (excepto dos que vão para o inferno que segundo as ultimas investigações não é no céu mas aqui na terra), numa constante repetição de nadas que monotonamente nos dão a tranquilidade de uma vida triste sem sobressaltos.
Olhando com olhos subjectivos de historiador, verificamos que os erros do passado se repetem eternamente, e o papel dos caricaturistas não passam repetitivas mnemónicas que nos fazem rir do dia a dia, mas que não rectificam o ADN dos governantes.
Em 2006 comemoro vinte e cinco anos de produções no âmbito do Humor, já que a primeira exposição realizei-a em Setembro de1981, em Vila Real (Casa de Mateus – Stuart Carvalhais – vinte anos após a sua morte). São anos de muito esforço, de mais de quatro centenas de eventos (exposições, conferências, concertos, festas da caricatura…), mais de duas centenas e meia de edições. São vinte e cinco anos de trabalho que em nada alteraram a paisagem cultural e anímica do país, e muito menos o campo humorístico, mas apesar disso, gostamos sempre de acreditar que todo o nosso esforço, todo o nosso cabelo branco, a nossa entrega a uma causa tem os seus fruto, que serviram para alguma coisa. Por isso, e apenas por isso, sonhei poder comemorar comigo próprio este aniversário, com a recuperação de uma série de textos insignificantes que foram lidos na imprensa, e depois serviram para o cão mijar, para recolher as espinhas do peixe escamados, ou na melhor das sortes, servir de embrulho a castanhas quentinhas.
São uma selecção, dos mais de centena e meia de textos sobre caricatura que escrevi para o Diário de Notícias entre 1884 e 1991, escritos esses que acompanharam o meu desenvolvimento na investigação sobre esta arte. São Crónicas dominicais que se debruçavam tanto em dados biográficos, como temáticos, numa perspectiva de que os males são crónicos, e que por vezes basta mudar apenas os fácies dos governantes para esses desenhos oitocentistas manterem a actualidade nas suas críticas. É do grupo de crónicas temáticas que se baseia esta recuperação de textos, porque considero que sendo Caricaturas Crónicas, infelizmente mantêm a actualidade, seja em que ponto da espiral esteja.
Gostaria de ter a arte de sorrir e fazer sorrir, mas não passo de um investigador trombudo, pessimista que ao mergulhar neste mundo amargo da crítica política, fui ficando cada vez mais niilista, rabugento, refilão. Só espero que esta deformação profissional não se torne crónica, e que consiga por em prático o que costumo pregar em relação ao sorriso. Sei que os textos se repetem, como é monótona e repetição das críticas que batem sempre nos mesmos (sejam eles diferentes de nomes), e custa-me deixar uma mensagem tão amarga, mas se olharmos esta tragédia como uma comédia talvez consigamos recuperar o sol do sorriso.
Por estes vinte e cinco anos de trabalho tenho de pedir desculpa aos caricaturistas por ter entrado no seu espaço de criatividade, por ter sentenciado sobre artes que não sei criar, por ter desvendado as suas vidas artísticas. Quero agradecer-lhes a sua arte de estéticas sempre renovadas, a sua generosidade social, as suas visões humorísticas, e acima de tudo a sua amizade.
Certamente serei injusto ao referir nomes, porque é impossível mencionar todos aqueles que me apoiaram, incentivaram, me abriram portas… porque se uns foram importantes apenas num dado momento, tem sempre repercussão no futuro. Uns foram companheiros de loucas aventuras, outros complacentes de irreverências. Uns mantiveram uma amizade constante, outros infelizmente pequenos nadas nos afastaram, e se perderam infelizmente belas amizades. Dizem que é assim a vida.
Pessoas que são responsáveis por grande parte desta minha louca travessia de um quarto de século com o humor gráfico são: Elísio Amaral Neves, António Pires Cabral, Mário Mesquita, José Carlos Vasconcelos, Vasco, António, António Valdemar, Maria de Assis, Fernando Santos, António Gomes de Almeida, António Inverno, Cid, Zé Oliveira, Eduardo, Orlando, Joe Szabo, Benito Losada, Ermengol, Juan Garcia, Gogue, Omar, Siro Lopez, Xaquin Marin, Luís , Nelson Dona, Cristina Gouveia, Eugénio Montoito, Elvio Melim de Sousa, Elisabete Brito, João Mário Mascarenhas, Luís Humberto Marcos, Luís Filipe, Emílio Ricon Peres, Arons de Carvalho, Fernando Calhau, António Ruela Ramos, Jorge Galamba, Carlos Rico, Bandeira, Rui, Luís, Zé Manel, Maia, Metello, Zíngaro, Varella, Ferreira, Paulo, Artur, Ricardo, Laranjeira, Per… e tantos mais.
Muito obrigado a todas as autarquias que me apoiaram, principalmente Vila Real onde nasci para esta actividade com a primeira exposição em 1981, com a edição do meu primeiro livro em 1983, com a meu primeiro Salão em 1987 e onde mantenho actividade com grandes laços de amizade e humor nas pessoas muito especiais de Pedro Chagas Ramos e Manuel Martins.
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
Viver a vida como um sorriso é uma utopia, mas infelizmente é a única saída para a nossa sobrevivência mental neste mundo de loucuras.
A vida, segundo os dramaturgos do poder (político ou religioso), é apresentada como uma Comédia que deve ser encarada como uma Tragédia, cenógrafa em tons cinzas e violetas. Mas, a natureza ensinou-nos que este pequeno melodrama não passa de uma tragédia que deve ser vivida como uma Comédia.
E de tragicomédia em tragicomédia eles diabolizam-nos a alma, instigando-nos a viver na dor, no medo. É esta sombra eterna e macabra que nos transforma em seres “sérios”, tristes, engravatados, pessimistas, advogados, niilistas, economistas… ateus e descrentes do Humor.
A sacralidade do Humor tem sido ao longo dos séculos aviltada por iconoclastas (políticos e religiosos), que em renitentes heresias insistem que Deus não Ri. A religiosidade é crença, mas acima de tudo sapiência, compreensão… e não há forma mais inteligente de se compreender o mundo que pelo seu lado humorístico. Descarnar a hipocrisia, a falsidade, a demagogia é função dos caricaturistas que devem combater o anedotário brejeiro que é a política humana.
Nestes momentos em que em nome de fundamentalismos anti-religiosos, ditos muçulmanos, cristãos, judaicos ou políticos, o direito ao Humor é posto em causa, somos obrigados a reflectir sobre o papel desta arte na sociedade contemporânea.
Sem dúvida que há falsos missionários, falsos ministros da religião, mas os verdadeiros crentes do humor, o papel dos verdadeiros caricaturistas / cartoonistas é a do “grilo falante”, a consciência pertinente e incomoda do nosso dia a dia. É certo que os adultos já não acreditam em fábulas disneyanas, em “grilos falantes”, mas que há milhares de Pinóquios, há.
Os humoristas não são os detentores da verdade pura, apenas um raio X em espelho dessa verdade. Os humoristas não são detentores do segredo da vida, apenas investigadores nunca satisfeitos. Mas os cientistas garantem que o segredo da vida é apenas uma espiral. A essa helicoidal da vida dá-se-lhe o nome de ADN, abreviatura de Antes – Depois – Nada, já que a essência do Homem é viver na saudade do antes, sonhar sem ousar no depois, vivendo no pessimismo do nada quotidiano.
A espiral do ADN é igual à espiral do tempo que faz evoluir a vida numa circulação ascendente do nascimento à morte (excepto dos que vão para o inferno que segundo as ultimas investigações não é no céu mas aqui na terra), numa constante repetição de nadas que monotonamente nos dão a tranquilidade de uma vida triste sem sobressaltos.
Olhando com olhos subjectivos de historiador, verificamos que os erros do passado se repetem eternamente, e o papel dos caricaturistas não passam repetitivas mnemónicas que nos fazem rir do dia a dia, mas que não rectificam o ADN dos governantes.
Em 2006 comemoro vinte e cinco anos de produções no âmbito do Humor, já que a primeira exposição realizei-a em Setembro de1981, em Vila Real (Casa de Mateus – Stuart Carvalhais – vinte anos após a sua morte). São anos de muito esforço, de mais de quatro centenas de eventos (exposições, conferências, concertos, festas da caricatura…), mais de duas centenas e meia de edições. São vinte e cinco anos de trabalho que em nada alteraram a paisagem cultural e anímica do país, e muito menos o campo humorístico, mas apesar disso, gostamos sempre de acreditar que todo o nosso esforço, todo o nosso cabelo branco, a nossa entrega a uma causa tem os seus fruto, que serviram para alguma coisa. Por isso, e apenas por isso, sonhei poder comemorar comigo próprio este aniversário, com a recuperação de uma série de textos insignificantes que foram lidos na imprensa, e depois serviram para o cão mijar, para recolher as espinhas do peixe escamados, ou na melhor das sortes, servir de embrulho a castanhas quentinhas.
São uma selecção, dos mais de centena e meia de textos sobre caricatura que escrevi para o Diário de Notícias entre 1884 e 1991, escritos esses que acompanharam o meu desenvolvimento na investigação sobre esta arte. São Crónicas dominicais que se debruçavam tanto em dados biográficos, como temáticos, numa perspectiva de que os males são crónicos, e que por vezes basta mudar apenas os fácies dos governantes para esses desenhos oitocentistas manterem a actualidade nas suas críticas. É do grupo de crónicas temáticas que se baseia esta recuperação de textos, porque considero que sendo Caricaturas Crónicas, infelizmente mantêm a actualidade, seja em que ponto da espiral esteja.
Gostaria de ter a arte de sorrir e fazer sorrir, mas não passo de um investigador trombudo, pessimista que ao mergulhar neste mundo amargo da crítica política, fui ficando cada vez mais niilista, rabugento, refilão. Só espero que esta deformação profissional não se torne crónica, e que consiga por em prático o que costumo pregar em relação ao sorriso. Sei que os textos se repetem, como é monótona e repetição das críticas que batem sempre nos mesmos (sejam eles diferentes de nomes), e custa-me deixar uma mensagem tão amarga, mas se olharmos esta tragédia como uma comédia talvez consigamos recuperar o sol do sorriso.
Por estes vinte e cinco anos de trabalho tenho de pedir desculpa aos caricaturistas por ter entrado no seu espaço de criatividade, por ter sentenciado sobre artes que não sei criar, por ter desvendado as suas vidas artísticas. Quero agradecer-lhes a sua arte de estéticas sempre renovadas, a sua generosidade social, as suas visões humorísticas, e acima de tudo a sua amizade.
Certamente serei injusto ao referir nomes, porque é impossível mencionar todos aqueles que me apoiaram, incentivaram, me abriram portas… porque se uns foram importantes apenas num dado momento, tem sempre repercussão no futuro. Uns foram companheiros de loucas aventuras, outros complacentes de irreverências. Uns mantiveram uma amizade constante, outros infelizmente pequenos nadas nos afastaram, e se perderam infelizmente belas amizades. Dizem que é assim a vida.
Pessoas que são responsáveis por grande parte desta minha louca travessia de um quarto de século com o humor gráfico são: Elísio Amaral Neves, António Pires Cabral, Mário Mesquita, José Carlos Vasconcelos, Vasco, António, António Valdemar, Maria de Assis, Fernando Santos, António Gomes de Almeida, António Inverno, Cid, Zé Oliveira, Eduardo, Orlando, Joe Szabo, Benito Losada, Ermengol, Juan Garcia, Gogue, Omar, Siro Lopez, Xaquin Marin, Luís , Nelson Dona, Cristina Gouveia, Eugénio Montoito, Elvio Melim de Sousa, Elisabete Brito, João Mário Mascarenhas, Luís Humberto Marcos, Luís Filipe, Emílio Ricon Peres, Arons de Carvalho, Fernando Calhau, António Ruela Ramos, Jorge Galamba, Carlos Rico, Bandeira, Rui, Luís, Zé Manel, Maia, Metello, Zíngaro, Varella, Ferreira, Paulo, Artur, Ricardo, Laranjeira, Per… e tantos mais.
Muito obrigado a todas as autarquias que me apoiaram, principalmente Vila Real onde nasci para esta actividade com a primeira exposição em 1981, com a edição do meu primeiro livro em 1983, com a meu primeiro Salão em 1987 e onde mantenho actividade com grandes laços de amizade e humor nas pessoas muito especiais de Pedro Chagas Ramos e Manuel Martins.