Wednesday, September 27, 2006
Caricaturas Crónicas 4
O RIS(C)O DAS NAÇÕES
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
O sentido do ridículo e da crítica em humor é de todos os tempos, pelo menos desde que o homem tomou consciência dos seus actos em riso. Esta foi a consequência natural do Homem ao ver-se ao espelho, só que nem sempre se tem rido das mesmas coisas, do mesmo modo, e «nu» riso se pode estudar, mesmo diagnosticar, as mentalidades, as morais, o espírito de cada sociedade, de cada povo. «Rindo se corrigem os costumes», diz a história, e de tesoura e lápis azul em punho se castiga o humorista mais verdadeiro.
Cada época ri de modo diferente, assim como cada povo aceita de forma diversa a opressão, ou a crítica em humor, na base da sua cultura, da sua abertura de espírito à «democracia» em ideias. A aceitação corresponde à consequente criação, que certos autores tipificam em estruturas conceituais - países. Um desses autores é Geraldo sem Pavor que defende: em França o humor é a «leveza espumante do espírito».
«A graça alemã é às vezes pesada; a deformação da caricatura roça pela inverosimilhança irritante», mas «são os menos frívolos de todos», é o humorismo em filosofia.
O humor inglês provém do «c1ownismo grave» - «existe uma harmonia cénica feita de sínteses /.../ numa exploração inteligentíssima dos incidentes mais simples e correntios da vida quotidiana».
«O humorismo metálico dos norte-americanos possui todos os defeitos do inglês, e nenhuma das suas virtudes. Longe de castigarem, defendem os defeitos e os ridículos da colectividade».
O Italiano é a «graça cortante dum espelho côncavo», porém «não perdem nunca um puro sentido de elegância e um requintado bom gosto».
«A 'graça' no seu sentido mais puro pertence aos Espanhóis. O 'Chiste' é o sinónimo mais fiel da graça. Nenhum país, corno a Espanha, possui maior quantidade de 'graça', de cultores de 'graça', de ‘varredores de graça' - A graça andaluza, cheia de picardia, feita pelo exagero da expressão - A Castelhana é o espírito de quixotismo - a 'peça' catalã é habitualmente pesadota - a peça galega pretende rir do fundo de ingenuidade que existe na velhacaria do povo» (in «Rebeca», 1933).
Em Portugal «a máscara do humor dos nossos humoristas é cabeçuda e sombria. Têm o crânio luzidio e liso, os olhos encovados e as pupilas olham baixo, desconfiados, sob as pálpebras papudas. O rosto é um bocejo calmo /.../ Não é a máscara do humor: é um retrato a crayon de amanuense com filhos e letras no fim do mês». (Veiga Simão, In prefácio ao catálogo «O Salão dos Humoristas», 1912).
Se a unanimidade não é uma das nossas características, a excepção à. regra é esta opinião: «Sim, existe uma sátira muito lusitana. É aquela que se baseia na piada pesadona, bruta, malcriada, perante a qual o humor refinado está como uma picadinha de alfinete para com uma valente cacetada» (António Gomes de Almeida).
O português é a piada do café, é a anedota bem contada entre a «bica» e o bagaço, mas preferencialmente com a temática da desgraça burlesca do vizinho. Quando o humor recai sobre a sua pessoa, ou suas ideias, já não existe humor, mas uma reacção negativa contra a falta de educação. Faz-se humor para cativar a atenção dos circundantes, para exaltar o ego, ou para satisfazer o espírito amanuense.
Diz-se que o povo português não sorri, ri à gargalhada, ou chora a sua desgraça. Ri do que já foi, chora aquilo que já não consegue ser: «Daí a tristeza lusitana, que nós (brasileiros) herdámos, e da qual é flor fina de sentimento essa saudade, que outros sentem, mas ninguém traduziu melhor em expressão. Nos intervalos desse estado quase doloroso do espírito, o riso raro, avinhado ou brejeiro, surgia como impulso, explosivo, na graçola portuguesa. Os mesmos termos de carinho são nesse povo, às vezes, de insulto, o tom é incumbido de fazer distinção: 'Meu ladrão', 'minha negra', são carícias.» (Afrânio Peixoto).
O sentido do ridículo e da crítica em humor é de todos os tempos, pelo menos desde que o homem tomou consciência dos seus actos em riso. Esta foi a consequência natural do Homem ao ver-se ao espelho, só que nem sempre se tem rido das mesmas coisas, do mesmo modo, e «nu» riso se pode estudar, mesmo diagnosticar, as mentalidades, as morais, o espírito de cada sociedade, de cada povo. «Rindo se corrigem os costumes», diz a história, e de tesoura e lápis azul em punho se castiga o humorista mais verdadeiro.
Cada época ri de modo diferente, assim como cada povo aceita de forma diversa a opressão, ou a crítica em humor, na base da sua cultura, da sua abertura de espírito à «democracia» em ideias. A aceitação corresponde à consequente criação, que certos autores tipificam em estruturas conceituais - países. Um desses autores é Geraldo sem Pavor que defende: em França o humor é a «leveza espumante do espírito».
«A graça alemã é às vezes pesada; a deformação da caricatura roça pela inverosimilhança irritante», mas «são os menos frívolos de todos», é o humorismo em filosofia.
O humor inglês provém do «c1ownismo grave» - «existe uma harmonia cénica feita de sínteses /.../ numa exploração inteligentíssima dos incidentes mais simples e correntios da vida quotidiana».
«O humorismo metálico dos norte-americanos possui todos os defeitos do inglês, e nenhuma das suas virtudes. Longe de castigarem, defendem os defeitos e os ridículos da colectividade».
O Italiano é a «graça cortante dum espelho côncavo», porém «não perdem nunca um puro sentido de elegância e um requintado bom gosto».
«A 'graça' no seu sentido mais puro pertence aos Espanhóis. O 'Chiste' é o sinónimo mais fiel da graça. Nenhum país, corno a Espanha, possui maior quantidade de 'graça', de cultores de 'graça', de ‘varredores de graça' - A graça andaluza, cheia de picardia, feita pelo exagero da expressão - A Castelhana é o espírito de quixotismo - a 'peça' catalã é habitualmente pesadota - a peça galega pretende rir do fundo de ingenuidade que existe na velhacaria do povo» (in «Rebeca», 1933).
Em Portugal «a máscara do humor dos nossos humoristas é cabeçuda e sombria. Têm o crânio luzidio e liso, os olhos encovados e as pupilas olham baixo, desconfiados, sob as pálpebras papudas. O rosto é um bocejo calmo /.../ Não é a máscara do humor: é um retrato a crayon de amanuense com filhos e letras no fim do mês». (Veiga Simão, In prefácio ao catálogo «O Salão dos Humoristas», 1912).
Se a unanimidade não é uma das nossas características, a excepção à. regra é esta opinião: «Sim, existe uma sátira muito lusitana. É aquela que se baseia na piada pesadona, bruta, malcriada, perante a qual o humor refinado está como uma picadinha de alfinete para com uma valente cacetada» (António Gomes de Almeida).
O português é a piada do café, é a anedota bem contada entre a «bica» e o bagaço, mas preferencialmente com a temática da desgraça burlesca do vizinho. Quando o humor recai sobre a sua pessoa, ou suas ideias, já não existe humor, mas uma reacção negativa contra a falta de educação. Faz-se humor para cativar a atenção dos circundantes, para exaltar o ego, ou para satisfazer o espírito amanuense.
Diz-se que o povo português não sorri, ri à gargalhada, ou chora a sua desgraça. Ri do que já foi, chora aquilo que já não consegue ser: «Daí a tristeza lusitana, que nós (brasileiros) herdámos, e da qual é flor fina de sentimento essa saudade, que outros sentem, mas ninguém traduziu melhor em expressão. Nos intervalos desse estado quase doloroso do espírito, o riso raro, avinhado ou brejeiro, surgia como impulso, explosivo, na graçola portuguesa. Os mesmos termos de carinho são nesse povo, às vezes, de insulto, o tom é incumbido de fazer distinção: 'Meu ladrão', 'minha negra', são carícias.» (Afrânio Peixoto).