Monday, September 25, 2006
Caricaturas Crónicas 2
A CARICATURA UMA ARTE EFÉMERA
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
O hábito do jornal, o comprá-lo todos os dias, folheá-lo, ler os títulos ou os artigos que interessam, comentá-los, e pousá-lo, tudo em movimentos automatizados, faz com que mal pensemos no jornal, e seu conteúdo para além desse breve momento de leitura.
Isto, porque todos os dias o jornal nasce, envelhece, para renascer no dia seguinte com novas notícias, acontecimentos, sempre com algo de novo.
Após a sua breve existência perde-se num sótão, num autocarro, mas dele fica sempre alguma coisa, uma história, um novo conhecimento, uma anedota. É o admirável exemplo de uma coisa que, dia após dia, se ri da morte da véspera,
Ora, o jornal não é um simples amontoado de notícias e conhecimentos, mas a vida comentada e ilustrada por palavras, desenhos, ou fotografias. É a vida narrada com simplicidade ou com arte. Uma destas artes do efémero é a caricatura e o cartoonismo.
Se o factor do humor é já um handicap para ser encarado como uma obra de arte "séria" esta existência breve agrava a sua aceitação entre as chamadas artes maiores. Uma arte que é vista num breve minuto, sendo trocada de imediato por um título chamativo, e lançada para o esquecimento, é uma arte que se perde na voragem da procura do conhecimento breve, e que no fundo é desconhecida do grande público.
O que é a caricatura? O termo, que provém do italiano caricare, tem como significado "exageração", mas, como alguém dizia no século XIX, a caricatura pode ser "a mais divertida maneira de desenhar". A· caricatura é a êxageração da natureza, é o burlesco do carácter, é uma forma de humor:
E que é o humor? O humor para Pawloski não é senão o "velho método socrático, que consistia em colocar um simples espelho moral diante das ideias humanas e de curar as pessoas apenas pelo espectáculo homeopático de seus males".
No início, a caricatura era simplesmente um confronto com a realidade, como que uma busca do feio. Era seguir as sombras das figuras, ora alargando-as, ora alongando-as, ora espartilhando-as, vincando nas linhas das sombras humanas o próprio riso. Depois a evolução da estética. Da filosofia e do gosto, as normas de beleza foram-se alterando, perdendo esta a sua prioridade no ideal, ao mesmo tempo que a caricatura ia perdendo o monopólio do "não bonito". A caricatura deixou de ser uma simples exageração da realidade, deixou de ser o "retrato do feio", para ser antes de tudo um "estado de espírito". A caricatura transformou-se numa "posição mental" tomada tanto pelo criador como pelo receptor. Ela já não deve ser algo que se "vê", mas algo que se tem de descobrir. Deve ser feita da inteligência para a inteligência, assim como todo o humor. De todas as formas o sorriso, ou o riso pertencem à caricatura, não só como reacção crítica mas também como arte de persuasão.
A sorrir, a rir ou ranger os dentes, a caricatura é uma arte de humor que pode tratar da simples anedota à política. Como arte de política pode utilizar a sátira social, ou a crítica directa aos políticos, e como tal é um dos fundamentais documentos tanto dos estilos artísticos da época, como dos costumes, ideais, Governo e sua oposição.
Devido a esta última faceta, a caricatura ultrapassa a simples expressão estética ou sociológica para ser um risco, ser uma ameaça tanto para os governos como para os artistas. Para os primeiros é a irreverência, a revolta, a crítica contra a sua má política; para os segundos pode ser a censura, a perseguição, as multas, a prisão ou exílio. Uma boa caricatura pode ser mais convincente e mais directa que qualquer discurso da oposição, ou artigo de jornal.
A caricatura, como qualquer desenho de humor é uma arte do quotidiano, vivendo do momento, da actualidade, e como tal efémera. Relembrar a sua existência, ou seus autores, é recordar a história, a política e a visão crítica de uma época.
Este artigo é, a introdução a uma série onde procuraremos redescobrir os mestres da caricatura Portuguesa, os temas que mais preocuparam os caricaturistas e a sociedade.
O hábito do jornal, o comprá-lo todos os dias, folheá-lo, ler os títulos ou os artigos que interessam, comentá-los, e pousá-lo, tudo em movimentos automatizados, faz com que mal pensemos no jornal, e seu conteúdo para além desse breve momento de leitura.
Isto, porque todos os dias o jornal nasce, envelhece, para renascer no dia seguinte com novas notícias, acontecimentos, sempre com algo de novo.
Após a sua breve existência perde-se num sótão, num autocarro, mas dele fica sempre alguma coisa, uma história, um novo conhecimento, uma anedota. É o admirável exemplo de uma coisa que, dia após dia, se ri da morte da véspera,
Ora, o jornal não é um simples amontoado de notícias e conhecimentos, mas a vida comentada e ilustrada por palavras, desenhos, ou fotografias. É a vida narrada com simplicidade ou com arte. Uma destas artes do efémero é a caricatura e o cartoonismo.
Se o factor do humor é já um handicap para ser encarado como uma obra de arte "séria" esta existência breve agrava a sua aceitação entre as chamadas artes maiores. Uma arte que é vista num breve minuto, sendo trocada de imediato por um título chamativo, e lançada para o esquecimento, é uma arte que se perde na voragem da procura do conhecimento breve, e que no fundo é desconhecida do grande público.
O que é a caricatura? O termo, que provém do italiano caricare, tem como significado "exageração", mas, como alguém dizia no século XIX, a caricatura pode ser "a mais divertida maneira de desenhar". A· caricatura é a êxageração da natureza, é o burlesco do carácter, é uma forma de humor:
E que é o humor? O humor para Pawloski não é senão o "velho método socrático, que consistia em colocar um simples espelho moral diante das ideias humanas e de curar as pessoas apenas pelo espectáculo homeopático de seus males".
No início, a caricatura era simplesmente um confronto com a realidade, como que uma busca do feio. Era seguir as sombras das figuras, ora alargando-as, ora alongando-as, ora espartilhando-as, vincando nas linhas das sombras humanas o próprio riso. Depois a evolução da estética. Da filosofia e do gosto, as normas de beleza foram-se alterando, perdendo esta a sua prioridade no ideal, ao mesmo tempo que a caricatura ia perdendo o monopólio do "não bonito". A caricatura deixou de ser uma simples exageração da realidade, deixou de ser o "retrato do feio", para ser antes de tudo um "estado de espírito". A caricatura transformou-se numa "posição mental" tomada tanto pelo criador como pelo receptor. Ela já não deve ser algo que se "vê", mas algo que se tem de descobrir. Deve ser feita da inteligência para a inteligência, assim como todo o humor. De todas as formas o sorriso, ou o riso pertencem à caricatura, não só como reacção crítica mas também como arte de persuasão.
A sorrir, a rir ou ranger os dentes, a caricatura é uma arte de humor que pode tratar da simples anedota à política. Como arte de política pode utilizar a sátira social, ou a crítica directa aos políticos, e como tal é um dos fundamentais documentos tanto dos estilos artísticos da época, como dos costumes, ideais, Governo e sua oposição.
Devido a esta última faceta, a caricatura ultrapassa a simples expressão estética ou sociológica para ser um risco, ser uma ameaça tanto para os governos como para os artistas. Para os primeiros é a irreverência, a revolta, a crítica contra a sua má política; para os segundos pode ser a censura, a perseguição, as multas, a prisão ou exílio. Uma boa caricatura pode ser mais convincente e mais directa que qualquer discurso da oposição, ou artigo de jornal.
A caricatura, como qualquer desenho de humor é uma arte do quotidiano, vivendo do momento, da actualidade, e como tal efémera. Relembrar a sua existência, ou seus autores, é recordar a história, a política e a visão crítica de uma época.
Este artigo é, a introdução a uma série onde procuraremos redescobrir os mestres da caricatura Portuguesa, os temas que mais preocuparam os caricaturistas e a sociedade.