Saturday, May 08, 2021
ASEAN Human Rights Cartoon Exhibition
Human Rights problems exist in every country in the world. Here's a perspective from various ASEAN countries, in the form of ART!
Welcome to the ASEAN Human Rights Cartoon Exhibition and feast your eyes on 74 hard-hitting cartoons illustrated by 37 cartoonists from Malaysia, Indonesia, The Philippines, Thailand and Myanmar. Themed ‘Human Rights in My Country’, this exhibition is led by Zunar, the recipient of Courage in Editorial Cartooning Award and Cartooning for Peace Award.
This exhibition is prominently fixated on Human Rights issues in ASEAN countries where the focal point of art on display tells you stories of social injustices close to home.
Among the issues canvased are the state of emergency in Malaysia; the royal defamation law in Thailand; the murderous war on drugs in the Philippines; the coup in Myanmar and Papua in Indonesia. Besides that, also don’t miss the Myanmar Solidarity Gallery, an effort by the cartoonists to show support to the people in the military-ruled country.
The Asean Human Rights Cartoon Exhibition takes place from 3rd May to 30th May 2021.
ASEAN Human Rights Gallery
«Ode à fertilidade – O Tempo de (José Manuel Moreira dos Santos) Moreira» por Osvaldo Macedo de sousa in «O Dia« de 23/12/1986
Viver para uns, é calçar as pantufas em frente da
televisão, enquanto para outros é explodir a sua vivência, é transformar a
energia interior, feita de frustrações, sentimentos, em arte.
Uma pessoa de caracter violento é o Moreira, que
dessa força telúrica faz escultura ou gravura. Natural de Sarzeda (Viseu), onde
nasceu em 1953, José Manuel Moreira dos Santos, Moreira para os estetas, fez
passagem pela ESBAL, mas foi nos estúdios, nas pedreiras, na rua, na experiência
que se fez artista. Viajou pela Europa, viu, criou, vendeu ao desbarato para
todo o mundo e voltou para o seu desespero.
Participou em várias exposições colectivas,
nomeadamente na III Exposição de Artes Plásticas da Fund. C. Gulbenkian
(Gravura), tendo também já realizado individualmente, em 1985, uma exposição de
Gravura na Academia dos Açores, de escultura no Museu Grão Vasco de Viseu, e em
1986 de Gravura na Galeria Stuart em Lisboa (da qual eu era o director). Neste
ano foi distinguido com o Prémio do Centro de Cultura de Évora.
Se ser violento é um «handicap» para a gente
enfatuada, para os senhores instalados nos seus gabinetes de cortesias, nas
galerias de comércio ao retalho, nos ministérios… para Moreira é um estar na
vida que se dilui na criação, desse mundo simples de arte: «A arte não tem nada de especial, nada de
divino, é tudo simples, não passa de um elemento orgânico que sai de cada um».
A sua forma orgânica é explosiva e por isso mesmo se fez escultor: «Tenho que encontrar algo que me neutralize e
a pedra é esse elemento, proporciona as situações para eu ser violento, de
gastar a minha energia e, depois viver calmamente».
Não é fácil viver calmo neste mundo de
sobrevivência: A luta por estúdios camarários que, em vez de estarem ao serviço
dos artistas, estão alugados clandestinamente, como armazéns de mercearias; no
regateio com as Galerias que lhe querem explorar o suor e os calos da obra… mas
de toda esta violência contra o mundo padastro surgiu a criação e ela está
patente na Galeria Tempo…..
Observando a exposição, sob o título de «Ode à
Fertilidade», denotamos no catálogo um estranho chorrilho de nomes, como «O
Código Acre-doce», «A Expectativa do verbo», «O Aço do vento», «Homenagem a
Freud, Yung, Reich», «Tanathos», «A Formação do Aparecer»… designações que não
tem nada a ver com o Moreira. Soube então que esta foi mais uma das
prepotências dos galeristas: «As
esculturas não têm títulos, tenho situações que me levaram a criá-las, nada
mais e estas obras foram baptizadas pelos outros».
Esquecendo os títulos ridículos e
intelectualoides, a mulher predomina como forma, abstração ou tema, porque o
que está por detrás de força criadora do Moreira é a genese, a maternidade, a
terra-mãe, o ovo, a fertilidade… e «essa
fertilidade que provem do ovo, o calhau rolado, é que deu nascimento à minha
escultura. O rio dá-me milhares de calhaus rolados e o tempo meu é o esforço de
os encontrar, pois são muito poucos aqueles que me exprime». A pedra ovo é
a origem, é o sentimento de um beirão violentado pela cidade / sociedade , rude
como o granito, mas pronto a criar, tal como uma mulher que pare, com
sofrimento, com luta. «O granito saiu do
rio e fez-se fertilidade, mulher», como simbolo de maternidade, invocação,
consciente ou inconsciente de deusas pré-históricas que, em Moreira, permanecem
nesse misto de ovo e feminilidade, de eros feito pedra.
Uma evocação não ingénua, apesar do artista ser
um «ingénuo» do mundo, mas manifesto contra estruturas, classicismos como
mudança: «São as mulheres que parem, e em
Portugal, nada está a parir e é necessário fazer algo, dar uma volta a isto!».
Nessa inconformidade com as regras, surge a
gravura, o outro lado do artista: «a
gravura é a minha necessidade de cor, que não tenho nas pedras». Nesta
exposição, esta faceta também está presente numa pequena amostra, mas
suficiente para demonstrar a sua arte e engenho.
A cor é de tal forma importante, que o levou a
interpretar a impressão de uma forma diferente, pouco ortodoxa mesmo, fazendo
as tintagens directas e consequentemente cada prova é diferente da anterior,
como provas de autor. «Não posso fazer
séries, porque é um processo muito meu e não poso utilizar mais de sete
impressões, diferentes, da mesma chapa. Poderia fazer a gravura pelo sistema
normal, grandes tiragens, mas não quero».
Inconformismo, violência, «revolta». Tudo provém
do movimento da vida, mas lutar contra a prepotência do comercialismo, da
exploração castra toda a criatividade dos indivíduos. «Prejudicar-me a mim próprio é legitimo, mas os outros, não».
Bramando contra sistemas, opressões, comodismos, o Moreira não deixa de criar
novas formas, obras de uma beleza simples, como é a sua arte vivida
«organicamente».
Poder-se-ia deambular por múltiplas teorias de
interpretação filosófica, que surpreenderiam sempre o artista, por comparações
coma as Vénus pré-historicas, com a maternidade de Gaia a Terra-mãe em terras
viriatas, mas para além das palavras e dos títulos, está a expressão desse
artista jovem, irreverente, mas pleno de força, energia violenta, e porque não,
«genialidade». Uma exposição a ver e se possível a comprar, para não se
lamentar mais tarde, nas homenagens póstumas, nas retrospectivas em que os
inimigos e opressores emendam a mão, tarde demais, para louvar os perseguidos.
(Conheci bem o Moreira, inclusive encomendei-lhe
o troféu para O Prémio Stuart a ser outorgado em Vila Real. Era uma “perna à
moda de Stuart”, ou seja uma escultura com uns 30 cm. El trouxe-me uma perna
com mais de meio metro e pesava cerca de 10 kg. Não conseguia fazer mais
pequeno.
Quando lhe fiz a exposição de gravuras na Galeria
de Stuart, os amigos convenceram-no a comprar um fato para a inauguração, para
não aparecer com aquele ar de vagabundo que tinha normalmente. Quando chegou
vinha com o fato todo sujo de tintas – Tinha medo de não ser reconhecido como o
«artista» no meio de convidados enfatuados.
Outra das suas variantes artísticas foram os
abajures criados com a chapa usada para fazer as gravuras, obras de um design
totalmente inovador. Também se podem encontrar trabalhos seus nas ruas de
Viseu, feitas calçada.
Bebia muito, principalmente absinto e viria a
morrer em consequência disso. Já não me lembro da data.
Friday, May 07, 2021
«Critica das Críticas – O Criticão» por Osvaldo Macedo de Sousa in «O Dia de 4/6/1986
A crítica é o poder fictício na opinião ou o poder real da opressão? No fundo, é um poder ambicionado por todo o mundo, mesmo que o não confesse abertamente.
O crítico é o povo português,
como gosto aldeão de comentar as ousadias da vizinha, as grandiosidades do
vilão, as desgraças do Zé.
O crítico é também a cidade, na
sua frustração de individualidade em fuga do anonimato.
No dicionário da rua, o crítico é
o falhado estético, numa frustração profissional que substitui a criação
própria, pela opinião sobre o outrem triunfador. Uma opinião, que por ser
profissional, tem que ser imposição, pois vivemos no tal país de opiniões,
sentenças proferidas desde a saída de casa, passando pelo transporte, trabalho,
bica até de novo em casa, a missionar os seus mais próximos. Da crítica caseira
à profissional vai apenas um passo. A primeira é dada gratuitamente enquanto a
segunda é a sobrevivência monetária de alguns.
O crítico, no meio crítico, é
também a sobrevivência critica, entre os críticos da sua critica. É um caminhar
inseguro na corda bamba no circo da vida e, por isso mesmo, um processo
defendido por regras de sobrevivência. Em Portugal, onde vivemos e que melhor
conheço, o crítico deve, para sua protecção, seguir as seguintes leis:
1) Dizer sempre bem do que vem do
estrangeiro. Quando algo corre mal, a culpa é da falta de organização dos
nacionais;
2) Dizer sempre bem de quem está
na moda, como diz o povo –opinião, quem está na mó de cima;
3) Dos que são ainda pouco
conhecidos, pode-se falar, mas só quando existe falta de matéria, de
actividades dos consagrados, assim como da Galerias de arte menos conhecida
quando sobre espaço. Nessa altura, deve-se escrever de forma a: se no futuro o
artista triunfar, poder-se encontrar frases proféticas do valor – êxito; se o
futuro for o fracasso, poder-se encontrar a crítica-vaticínio;
4)Daqueles que deixaram de estar
de moda ou de quem ainda ninguém suspeita o futuro, o melhor é não escrever
nada, não vá o diabo tece-las;
5) Na crítica, deve-se escrever
muito, dizer pouco, e demonstrar grande cultura, que se possui muitos livros e
que se conhece muita gente do meio;
6) LEI FUNDAMENTAL – nunca
manifestar o seu gosto pessoal, mas a sensação que paira no «grupo» dos
admiradores da sua crítica;
E o Criticão o que é que deseja
ser?
Vai ser tudo isto: mais um
critico entre os críticos da critica que criticam, ou seja um artista frustrado
a falar dos que não o são, ou lutam para o não serem; elogiar o estrangeiro, o
consagrado, a moda; vai tentar mostrar-se culto e paternalista; sonha ao mesmo
tempo ser o «cão» do crítico, sem no entanto querer parecer a «orquestra do São
Carlos» que tem como intuito primeiro, abafar as belas «vozes» nacionais ou estrangeiras.
O criticão é um burlesco, mas não
é um humorista, antes pelo contrário, um pessimista e se por acaso alguma vez
tiver graça, não é por humor, mas por sátira que calhou bem.
O criticão é um homem sem tempo,
para se passear pelas quase quarenta Galerias da capital, pelo teatros, pelas
salas de concertos… por isso vai ser simplesmente um «parasita» dos outros
críticos, Fazendo a «crítica das críticas» tem a certeza de cumprir as «leis»
protectoras dos profissionais da opinião.
Para terminar esta apresentação
da nova crónica semanal, aconselho-vos neste mês de Junho, em que finalmente a
Televisão Portuguesa deu o justo lugar, na sua programação, à cultura (da bola)
– vão visitar as exposições colectivas que são várias no momento, porque se vê
mais em menos tempo e, entre tantos, sempre pode haver a sorte de se gostar de
alguém.
Atá para a semana, à mesma hora e
local.
O Criticão.
Thursday, May 06, 2021
1st International Cartoon Exhibition, Zagreb 2021, Croatia
INTRODUCTION - ABOUT THE PROJECT
BOOM! CRASH!! BANG!!!
Who will know what is correct?! Does it matter?! ZeGeBOOM! is an international cartoon exhibition that aims to become a regular every year. It is dedicated to current topics that have marked the lives of not only the people of Zagreb, but also people around the world in the past year.
This year's theme is the earthquake (not just the earth shaking!) and the corona virus crisis.
ORGANISER Trešnjevka Cultural Centre, Park Stara Trešnjevka 1, HR-10000 Zagreb, Croatia
Project Manager: Ivan Hromatko, PhD
Exhibition Selector: mr. sc. Branka Hlevnjak, art critic
Expert Associate: Dragutin Dado Kovačević, academic
painter and graphic artist/ ARTour
DEADLINES • Call for submissions/ acceptance of works: 01 May - 01 July 2021.
• Online exhibition / voting and judging: 05 July - 01 September 2021.
• Results / final exhibition: October 2021.
FOR MORE INFO ABOUT THE PROJECT, PLEASE VISIT: https://cekate.hr/program/zegeboom_en/
TOPIC: QUAKE “There are various types of earthquakes, which shake us in addition to when the Earth protests something, gets angry or just stretches its huge back. We are shaken by a lot of things in the city, from traffic to crowds and queues, from new measures and media fears, we are shaken by poverty, lack of money, unemployment, homelessness, we are shaken by bad news, and we are shaken by too much love…” (B.H)
HOW TO PARTICIPATE? The exhibition is open to all authors regardless of nationality, age, gender and profession. You can submit your work(s) via two channels:
• By filling out the application form and submitting the papers online, by clicking here -> APPLICATION FORM ONLINE
• Or by filling the application form at the end of this document and submitting it together with your cartoons via e-mail: ihromatko@cekate.hr
APPLICATION FORM (MS Word)
DEADLINE FOR SUBMISSIONS 1st of July 2021
SUBMISSIONS
• 1 - 3 cartoons WITHOUT WORDS
• Submissions can be previously published, exhibited and awarded at other competitions
• FORMAT: A4 (210x297 mm), RGB, JPEG, 200-300 dpi, high resolution
SELECTION Exhibition selector, art critic mr. sc. Branka Hlevnjak, will select 1 work by each author for the exhibition and judging.
EXPERT JURY The five-member international jury consists of four well-known cartoonists and one representative of the organizers.
Each member of the jury selects 5 cartoons and evaluates them with points 1 - 5.
AUDIENCE JURY The audience has the opportunity to participate in the work of the jury by choosing the best cartoon online.
5 first-placed caricatures receive points 1 - 5, which are added to the marks of the expert jury.
PRIZES • 1st- 3rd place:
- Unique T-shirt (personalized - print of the awarded cartoon, name of the author and the exhibition).
- All awarded authors will receive a Diploma.
- The full list of awards will be updated soon on project’s website…
• Confirmation of participation in the exhibition authors receive on request by e-mail.• All participants:
- Digital catalogue (via e-mail).
- Voting results (expert jury and jury of the audience)
- Free promotion of works and authors in the media and the public through the organizer's website
FINAL EXHIBITION OF WORKS Gallery “Modulor” (Trešnjevka Cultural Center, Stara Trešnjevka 1 Park, Zagreb, Croatia) in October 2021 and / or digital exhibition.
OTHER RULES The exhibited works remain at the disposal of the organizer, who can use them for promotional and other purposes without royalties and further exhibit, stating the name and surname of the author and the name of the exhibition.
«PELAS BARBAS DO PROFETA, RIAM-SE» por Osvaldo Macedo de Sousa in «BDJornal» Março 2006
Todos sabemos que o mundo está em guerra, com várias frentes de batalha que nos projectam um futuro de contornos cinzentos e pessimistas. Há a guerra entre as máquinas e a natureza; entre a economia livre e o humanismo; entre pobres e ricos… e acima de tudo entre muçulmanos e o resto do mundo.
Pode não ser totalmente verdade, mas os factos televisivos levam-nos a pensar que ser Muçulmano é estar ao lado do terrorismo, é não ser tolerante, nem ter sentido de humor e de democracia. Ser muçulmano é estar em guerra com todos os que não pensam como eles, e não saber rir com os outros.
Estudos científicos deram como verdade absoluta que só o Homem tem a inteligência do riso. Ora, se há Homens que não conseguem ter humor, é por que se calhar não são Homens.
Hominídeos pouco sapiens que combatem o humor, sempre existiram. Normalmente estão no poder. Mas nem só de política vive a mesquinhez de espírito. O Cristianismo foi um dos maiores perseguidores do riso em séculos passados, não porque estava na sua génese o anti-riso, mas por questões de pavor, por medo de perder o controle sobre os Homens. É que na cultura do médio oriente, onde germinaram as principais religiões monoteístas existe um espírito humorístico intrínseco à sua filosofia.
Nas terras do Nilo ao Eufrates, do Mar Vermelho ao Mediterrâneo houve sempre a tradição dos provérbios humorísticos que subsistiram no humor judaico, que fizeram rir Maomé e a seus sofistas, e que se mantêm como uma tradição nos Amthal.
A expansão da fé de Maomé foi uma conquista de territórios como poder político logo seguido pela tolerância como forma de governação, integrando na sua sociedade Judeus, Cristãos, hindus… O período de maior harmonia entre povos na Península Ibérica foi durante o domínio islâmico. A tolerância era o lema.
Outros tempos, outras vontades. Depois de uma longa luta, o Cristianismo foi educado, e a liberdade de expressão vingou. De vez em quando ainda resmungam, reclamam, mas aprenderam que, por muito que lhes custe, há Direitos do Homem inquestionáveis.
Um dos sectores que mais lutou pela liberdade de expressão e de pensamento foi a imprensa e o humorismo. O humor ainda hoje não conquistou toda a liberdade de expressão, já que em nome do «politicamente correcto», e em nome de «interesses económicos» continua a existir a censura em todos os países ditos democratas.
Rir-se com Jeová, rir-se com Jesus, rir-se com Maomé sempre foi uma forma de os amar, de os partilhar com a sociedade. Na série de caricaturas com Maomé que agora fizeram explodir os guetos do fundamentalismo muçulmano, não está em causa o Profeta, porque quem garante que é ele que está ali retratado? O que podemos ver são caras de muçulmanos ortodoxos, ou seja barbudos com indumentárias que ficaram paradas no passado. Pode ser qualquer muçulmano que assim se vista e que lute pelo terrorismo.
Estes cartoons não se riem de Maomé, mas com Maomé sobre a barbárie a que o seu povo tem descido. Não satirizam o islamismo, riem-se sim das deturpações que os Ayatolas, que os políticos da religiosidade fizeram das crenças do seu povo. Deturpando os pensamentos do Profeta, ensanguentando o Corão criaram a guerra do terrorismo através da bandeira da intolerância. Eles lutam contra estes cartoons porque eles significam a Liberdade de Pensamento dos “outros”; significam a inteligência do ser humano que não se subjuga a preceitos terrestres; significam o grito contra a selvajaria, contra o terrorismo.
O que está satirizado nos cartoons não é o profeta em si nem a religião, mas o grotesco dos guerrilheiros, dos terroristas que em nome de fundamentalismos nada religiosos se lançaram numa guerra suja contra os “outros”, em prol da estupidificação, em prol da ignorância.
Pelo medo, pelo terrorismo do terror querem demonizar o Ocidente, para poderem ter mais subsídios, mais apoios económicos do Ocidente. Se este escândalo apareceu agora, passados alguns meses após a sua publicação, é porque de repente o Hamas que ganhou a Palestina pode perder os milhões de apoio da Comunidade Europeia. Com esta reacção de medos, a Europa não terá mais medo de lhes cortar os apoios económicos. É tudo uma questão de políticas, não uma questão de religião ou de humores.
O papel do cartoon não é rir-se dos costumes, das profissões de fé, mas sim o de ser a consciência da sociedade. Deve ser o “grilo falante” que serve de consciência dos Pinóquios da política, da religião, da sociedade. Quem tem má consciência do que faz naturalmente reage mal a este incomodo de ser chamado à atenção.
Rir é partilhar. É aceitar-se e aceitar os outros, mesmo que, por vezes, esse esgar nos doa na alma. A liberdade é uma conquista de que em nome da inteligência não toleramos abdicar, nem pelas barbas do profeta.
Wednesday, May 05, 2021
International School Cartoon Festival - ISCF22 - TONDELA / Portugal
«Christiano Cruz do Mito à realidade» por Osvaldo Macedo de Sousa in «Artes Plásticas» nº19, Agosto 1992
A arte portuguesa é, em si, um mito. À sua volta, a história alastrou o esquecimento dos desaparecidos ou a genialidade dos amigos, todos emvoltos em nevoeiro místico-sabastianista.
É certo que os críticos e Galeristas da actualidade, têm vendido muito gato por lebre, têm imposto nas exposições internacionais, efémero artificios de criatividade, mas a história (que também é cega), talves um dia se corrija.
Quanto ao passado, nos últimos tempos, temos vindo a corrigir erros, retirando do esquecimento nomes, descobrindo obras… Como consequência já há «peritos» que se guerreiam, afirmando que este é melhor que A.S.C. ou que J.A.N., que aquele merece uma cotaçao superior na bolsa de valores… e até já há falsificadores. Tudo isto vem a demonstrar que a arte portuguesa e a sua história deixou a letargia, para viver a contemporaneidade.
Um nome esquecido, foi Christiano Shepard Cruz que, envolto nu mito. Dormia no sub-consciente modernista. Um nome e uma obra perdidos mo sótão da historia, de familiares e amigos.
As primeiras noticias que tive dele (á que fui eu que o redescobri e publiquei os primeiros artigos na contemporaneidade cuja investigação me foi roubada e publicada em livro por outro investigador), relatavam a sua existência como um cometa que, vivendo com os primeiros modernistas da decada de dez, se tinha «suicidade» artisticamente em 1920, vivendo posteriormente 31 anos em auto-exílio e castração criativa, nunca mais pegando num pincel ou lápis. Esta era a versão oficial, que enriquecia o mito moernista d morte prematura de Sousa Cardoso e do suicídio e destruição da obra de Snta-Rita Pintor.
Uma sgunda ou terceira versão, nascida dos testemunhos familiares e das investigações já o apresenta como um dos primeiros modernistas, mas tmabém como o primeiro dos primeiros, nõ só por ter sido um dos introdutores desse modernismo, como um dos líderes dessa geração - «a este homem demos nós, sem prévia combinação, o lugar primeiro» (Jorge Barradas).
Apesar desse lugar ímpar, entre os seus pares (alguns deles mais velhos que ele), a sua vida não deixria de ser uma frustração constante. A amargura perante o provincianismo cultural português e a impossibilidade de uma vida «digna», estável como artista, levá-lo-ia à ruptura, e esse afastamento brusco que inspiraria o mito.
Por detrás dessa ruptura, com um real afastamento das artes após a decada d vinte e o triunfo estético nessa decada de ouro de irreverencia, esta o Homem-Artista, um ser que descobrimos num eterno conflito interior ou neurastenia criativa.
Ele próprio nos dá os seus primeiros dados biográficos e diagnostica de imediato a neuraztenia: «como notas biográficas, a mais interessante, a de maior relevo, é a minha certidão de baptismo, a outra, a segunda, pelo caminho que as coisas vão tomando, deverá ser a minha certidão de óbito. Assim, sempre te direi que nasci a 6 de maio de 1892 na cidade de Leiria, tendo-me irrompido simultâneamente com o sarampo, a neurastenia».
Filho de Berta Augier Shepard e de Alfredo Eduardo Cruz, descobrimos na sua infância as «razões» dessa neurastenia, desse conflito que o acompanhará toda a vida. Para mim, ele herdou esse conflito de seu pai, um dilema interior que seria absorvido através da educação e vivencia.
O seu pai era militar da monarquia, como tal um soldado que obedecia cegamente ao rei e ao regime. Seu pai era um republicano por opçao ideológica, como tal um subversivo ao regime e ao rei. A ordem que ele respeitava e impunha como norma de vida, colidia com a irreverenia revolucía do rpublicano. Esste confronto interno, era não só vivido por ele próprio, entre o profissional e o homem, como pela familia, onde por um lado se impunha, como educação, a ordem, a disciplina, por outro a instigação à irreverencia, como tonico da saúde mental das crianças.
Christiano Cruz ficará para sempre marcado por esta dualidade – ordem e irreverência, que se reflecte na vida e na obra. A vida seria dominada pelo ordem, ou seja a obediência quase cega aos pais; ou seja a imposição de dar o equilibrio económico e social à familia criada; ou seja a obediência quase cega aos seus superiores profissionais, que era o Estado, cuja ordem levá-lo-ia à morte. A obra seria dominada pela irreverência que o conduziria ao modernismo, que o levaria a desafiar os mestres, que o instigaria a criar movimentos artisticos, que o faria sonhar em viagens pela europa… A ordem refriaria sempre estes impulsos, impondo decoro no ataque aos mestres, moderação nas iniciativas, entraves nas viagens e para segurança o cumprimento da vontade paternal com a concretização de um curso academico superior.
Tendo iniciado os seus rabiscos sob influencia dos Bordallo Pinheiro 3 outros artistas do inciio do século, em 1908, na compnahia de Fernando Correia Dias e Alvaro Cerveira Pinto (seguindo-se depois Luis Philipe Rodriges com desaparecimento de Cerveira Pinto por morte prematura), em Coimbra, descobrirá a síntese, a irreverência satírica e caustica, levando-o a uma «abstração figurativa», impondo um novo caminho para a arte portuguesa.
Antes dele, já Leal da Câmara e Celso Hermínio haviam explorado o traço caligráfico sintetico, explorado o expressionismo, numa transição do naturalismo para o modernismo. Este trio coimbrão levaria esse experimentalismo à ruptura estética, colocando-se em paralelo às experiencias que já se desenvolviam na Alemanaha e França. Dos três, seria Christiano quem levaria mais longe esse trabalho (Correia Dias prosseguirá esse caminho depois no Brasil) e essa teoria de irreverencia plástica, mudando-se para Lisboa, onde viveria como evangelizador das novas gerações que procuravam uma nova linguagem para a nova republica, para os novos ventos da contemporaneidade.
Em Lisboa, a partir de finais de 1910, não só imporia os seus trabalhos na imprensa, como exemplos do novo caminho, como criaria à sua volta um núcleo de modernismo importante, como é o caso de Almada Negreiros (seu discipulo directo, cuja influenia já se tinha iniciado aquando da breve estadia de Negreiros em Coimbra), Jorge Barradas, António Soares…
Em 1911, com Stuart Carvalhais lança a ideia de uma Sociedade de Humoristas (imitando os franceses que já o tinham feito alguns anos antes), com vários projectos, destacando-se um Salão anual. Aqui, não foram apenas os modernistas que existiram (que inclusive ainda eram poucos), antes foi dominado pela maioria conservadora, contudo, nos seus Salões de Humoristas de 12 e 13, e depois no Porto de 15 e 16, o modernismo possível foi-se impondo.
Não era facil evangelizar o gosto «bota de elástio» do portugues, no ambito do publico, do poder e até do artista, o que desesperaria cada vez mais Christiano Cruz. Os desenhos de imprensa vão desaparecendo, perante o fracasoo dos objectivos, ou sej o espicaçar a sociedade através da sátira. Em sua substituição aparece a pintura, numa busca estética profunda, de técnicas, enquadramentos, perspecivas… trazendo para a arte portuguesa o expressionismo fauvista.
A ordem entretanto tinha-lhe imposto o curso de Veterinária (curso escolhido pelo pai), assim como em 1917 lhe imporá a guerra, na Frente francesa como veterinário miliciano. Essa viagem ao estrangeiro dar-lhe –á uma nova visão da vida (ou da morte), ainda mais neurasténica. Visitará Paris, que sob os escombros o desiludirá. Fará alguns trabalhos de pintura, muitos esboços mas cada vez mais o fascínio pel carreira artística se vai desvanecendo.
De novo em Portugal, em 1918, faz a defesa de tese terminando assim o curso de Veterinária, impondo-se como um caminho seguro de sobrevivencia. Porém, a irreverência puxava-o ainda para a carreira artistica e tudo servia para iludir para um futuro possivel – uma capa de um livro, um concurso para um cartaz… Foi precisamente um destes concursos que o levaria alançar a toalha ao ribgue. Preparando-se para concorrer,mostrou os croquis a um amigo que o desaconselhoua faze-lo, o qual usou essas mesmas ideias e conquistou o prémio. Esta traição, o ambiente de selva, este vale tudo para sobreviver no dificil mundo das ates em Portugal chocaram irremediavelmente com o seu sentido de honra, ordem. Em 1920, mais uma vez aconselhdo pelo pai, partiria para Lourenço Marques para estudar as possibilidades de carreira veterinária, voltando apenas em 1921 para se casar e levar a sua esposa, ficando a viver ai até à morte.
A ordem interior é exigente, gosta de perfeição, do profissionalismo… e o amadorismo é uma concessao intolerável, Por essa razão Christiano Cruz quando resolveu optar pela Veterinária, abandonou definitivamente a ideia de uma carreira artistica, ou seja abandonou a arte.
Do seu lápis, nos 31 anos
restantes, apenas surgiria uma dezena de obras, um retrato da sua primeira
filha, um ou outro desenho, uma pintura (de temática africana) para
participação numa exposição de artistas portugueses em Lourenço Marques na
decada de trinta, um friso decorativo para um quarta das filhas e um
auto-retrato pouco antes da sua morte. A ordem é exigente e mesmo que não
gostasse especialmente da Veterinária, impunha-se que fosse o melhor possivel
na sua profissão e dessa forma se viria a distinguir, não só como médico, mas
tambem como investigador.
Em 1951, a ordem «castigou-o» pla irreverencia de não ser filiado ao Partido, por não defender publicamente o poder… e transferiu-o para Angola, provincia do Bié, afastando-o da familia. Apesar do médico de familia o desaconselhar, já que como gaseado da primeira grande guerra não resistiria a humidade e altitude do planalto do Bié, caminhou para a morte, porque a ordem mandava. Apenas sobreviveu seis meses em Angola, morrendo em novembro de 1951.
A sua presença e obra ficaram para sempre marcadas na memória dos seus companheiros, que por várias vezes deram testemunho do apreço e admiração que tinham por Christiano Cruz. Depois do ento desaparecimento destes, o silêncio foi empoeirando a memoria.
A ordem foi finalmente subvertida e a obra está de novo a mostrar a sua irreverência, trazendo à luz dos historiedores da actualidade, a magnitude dessas +inceladas, a originalidade da sua concepção estética, a subtileza do seu traço.
Tuesday, May 04, 2021
«História da Arte da Caricatura de Imprensa em Portugal - 1942 » Por Osvaldo Macedo de Sousa
1942
Este ano de 42 ficará marcado pelo desaparecimento de uma grande figura do mundo do jornalismo e do humor-gráfico - Pedro Bordallo Pinheiro, o director-fundador do "Sempre Fixe", que a 12/2/42 nos notícia a sua morte :
"Sempre Fixe" cobre-se hoje de
crepes para chorar sentidamente a morte daquele que foi seu fundador e seu
director durante toda a sua longa vida de 16 anos.
Desaparece desta casa aquele que, sem ser
um humorista, tinha como ninguém o sentido das oportunidades e vislumbrava, num
relâmpago de inteligência, o momento propício de atacar um facto, de fazer uma
crítica, de preparar uma charge.
Foi assim que Pedro Bordallo conseguiu
fazer de «Sempre Fixe» um dos mais duradores hebdomadários portugueses, sem
favor nenhum, o mais querido de todos os semanários de caricaturas que se tem
publicado no nosso país. Sob a sua sabia e prudente direcção «Sempre Fixe» só
grangeou amigos e, sendo um jornal de caricaturas, nunca melindrou quem quer
que fosse, porque Pedro Bordallo sabia como ninguém confinar-se dentro das
fronteiras do humorismo sem atingir nunca o campo das ofensas pessoais.
Todos quantos aqui trabalham tiveram
ocasião de apreciar os fulgores da sua inteligência e os primores da sua
educação, que faziam de Pedro Bordallo um chefe respeitado e um amigo
sinceramente querido.
Era um dirigente na verdadeira acepção da
palavra, mas era, a cima de tudo um homem de coração que o sabia ser sem
alardes, discretamente, dando por vezes a impressão, de que, quando fazia o
bem, quasi que pedia desculpa de que alguém precisasse dos seus favores, porque
os fazia, e muitos, quantas vezes até sem esperar que lhos pedissem.
Junto do seu leito de morte reuniram-se
milhares de pessoas de todas as categorias sociais, mais no cumprimento dum
dever de amizade e gratidão do que por esta obrigação protocolar a que obrigam
as relações de sociedade, e bem raros eram os olhos em que não se via saltar
uma lágrima. /…/ Pedro Bordallo morreu, mas fica a lembrá-lo, pelo tempo fora,
como o melhor padrão da sua glória, este jornal que ele fundou e a quem
dedicava uma amizade e um carinho verdadeiramente paternais…
O jornal
"República" (7/2/1942), por seu lado recorda-o desta forma: /…/ Oriundo de uma família distintíssima de
artistas, Pedro Bordallo aliava aos primores da sua alma bondosa os dons de uma
verdadeira fidalguia de maneiras que o seu «aplomb» de verdadeiro «gentleman»
ainda mais valorizava. Dele se pode dizer com exactidão que tinha uma alma sã
num corpo são…
/…/ Desde a sua estada no Rio de Janeiro,
onde esteve dirigindo a livraria Aillaud, passando pela fundação da grande
revista "Atlântida", cuja direcção entregou a João de Barros, até à
fundação do "Diário de Lisboa", e do semanário "Sempre
Fixe", de que era director, toda a vida de Pedro Bordallo é constituída
por um admirável sentido de valorização editorial em que a técnica e o bom
gosto se reuniam em feliz aliança.
A Direcção do "Sempre Fixe" foi então entregue a Alfredo Vieira Pinto.
Neste mesmo "Sempre Fixe" sobrevive a obra de um dos mestres que se impõem nestes anos na arte nacional, através do surrealismo. Falo de Cândido Costa Pinto, que assinou a sua obra satírica como Cândido, Pintuf, Pin, Xapin, didinho, Tapin… e que a par de uma obra mediana, de anedota comentada, realizou das melhores caricaturas e sátiras de então, seja na "Acção", seja na "Vida Mundial Ilustrada"…
Na realidade o seu humor, assim como a técnica da maior parte dos seus trabalhos humorísticos ficam aquém dos seu valor como artista plástico, variando o traço segundo o pseudónimo, viajando do naturalismo amadorístico, ao modernismo academizado, como se fossem trabalhos feitos sem brilho gráfico, apenas para ganhar uns tostões extras. Porém, na caricatura, e nalgumas sátiras à política internacional, de cunho anti-nazi e anti-Staline, todo o esplendor da sua irreverência estética salta com agressividade e beleza. Num momento em que brilham novas correntes de hiper-realismo caricatural como Pacheco, Rosa… Cândido para além de algum surrealismo onírico, dá à caricatura uma forte carga expressionista.
Falando em surrealismo, e apesar de não ser este o lugar para tratar das correntes que entretanto vencem nos outros géneros das artes plásticas em Portugal, gostaria de chamar a atenção para o lado humorístico do surrealismo de Cândido Costa Pinto. Principalmente nas obras ligadas a Lisboa, ao fado (como "Lisboeta", "Anti-fadismo", "Lisrismo Fadista"…), denota-se uma visão satírica, irónica da Lisboa que não o soube amar. Para mim, todo o surrealismo tem um espírito humorístico intrínseco, de visão grotesca da fantasia, e estas são as suas melhores obras.
Cândido Costa Pinto, com trabalhos como "Hitler - O Inferno na Terra", "Perplexidade", "Franco", "Salazar"… impõe a caricatura de novo na vanguarda das artes nacionais, ao lado de uma ou outra abstração caricatural que Teixeira Cabral, D. Fuas, Vascó… iam apresentando. Mas se após o Surrealismo, proveio o Neo-realismo, não podemos deixar de aceitar que, sendo a caricatura por natureza filosófica denunciadora dos problemas sociais, o desenho satírico estava desde logo incluída nesse movimento, sem necessitar de o declarar.
Teixeira Cabral, que já tínhamos apresentado, como o mestre da caricatura síntese, nem sempre brilha no seu esplendor estético, mais preocupado na sobrevivência, na resposta rápida às encomendas, e com o tempo vai perdendo a força plástica que nas suas origens os críticos lhe apontavam.
O Humor não pára, sobrevive por diversos meios, apesar de a sociedade sentir a falta de uma outra dinâmica. Por essa razão encontramos ma revista Vida Mundial Ilustrada de 12/3/41, o seguinte apontamento na página de Luís de Oliveira Guimarães: Perguntaram-nos há dias se o Grupo dos Humoristas Portugueses tinha emmudecido. Não pertencemos à sua direcção para podermos responder, mas afigura-se-nos que o humorismo, embora doloroso, que lavra pelo mundo, não deixa espaço para qualquer outro. Palavras de um dos activistas da formação do Grupo que denota as questiúnculas que dispersaram o grupo. Mais tarde tomaremos conhecimento que a dissolução oficial do grupo, mas de forma recatada, deu-se em 1943. Entretanto L.O.G., com Zéco, mantêm uma página na referida revista, onde vai semanalmente homenageando os humoristas portugueses.
Temos falado
sempre dos humorístas gráficos, e passam-nos ao lado uma série de artistas, que
pela escrita também enriqueceram não só a imprensa como o nosso quotidiano, com
o seu humor. Um deles foi Armando Ferreira, uma dos mais profícuos autores da nossa
literatura humorística. Luíz d' Oliveira Guimarães (in Vida Mundial Ilustrada
de 19/3/1942) descreve-o desta forma: Já
uma vez escrevemos que Armando Ferreira lembrava aquele risonho personagem
conhecido pelo nome de Mark Tapley que Dickens criou no seu célebre «Martin
Chuzzlewit» e cujo fim na existência dir-se-ia ser apenas isto: manter, mesmo
nas mais penosas circunstâncias, um imperturbável bom-humor. Na verdade o autor
da «Lisboa sem camisa» assemelha-se na sua filosofia ao personagem de Dickens.
Tendo concluído uma bela manhã, depois de ler o «Diário de Notícias», que a
humanidade não podia resgatar-se dos seus erros senão pela boa chalaça, cedo se
converteu num intérprete literário da sua própria doutrina. Com pouco mais de
20 anos e algumas centenas de meses escreveu até agora quase trinta volumes; e
se é certo que, de volume para volume, a sua observação se compraz em apurar-se
num sentido cada vez mais irónico, os seus processos de realização conservam,
de certo modo, as suas características pessoais. /…/ Há quem diga muito mal de
armando Ferreira. Evidentemente ninguém é perfeito neste mundo, mas temos de
reconhecer que este homem conseguiu fazer dos defeitos que porventura muitos
lhe encontram, algumas qualidades para os seus triunfos no campo das letras.