Monday, June 18, 2007
A Mulher no Cartoon 3
Por: Osvaldo Macedo de Sousa
QUEM FORAM AS PIONEIRAS ?
A tradição religiosa diz-nos que primeiro nasceu o homem, e depois a mulher, como se nascesse primeio o ovo, e depois a galinha. No humor não sei quem foi o primeiro. Na Biblia diz que Deus tinha humor, mas quem riu primeiro, o homem ou a mulher ? A serpente não foi.
No maior parte dos casos, a mulher só surge no humor gráfico nas últimas décadas, com os movimentos do Maio 68, e consequentes movimentos de liberalização dos costumes. É certo que Olympe de Gouges (1748/1793), aquando da Revolução Francesa escreveu na Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã: "Mulher, acorda: o sino da razão toca a rebate. Reconhece os teus direitos: O poderoso império da natureza já não está envolvido em preconceitos, fanatismos, superstições, metiras...", mas como estava errada.
O caso da América do Norte é diferente, como escreveu Jan Elliot: "Houve mulheres no cartoonismo desde que esta forma de arte surgiu.". Trina Robbins, a historiadora da mulher cartoonistas nos States acrescenta: " A primeira mulher cartoonista que eu encontrei foi Louise Quarles, que fazia uma tira aos domingos chamada "Bun's Puns" (está no meu livro "Um século de Mulheres no Cartoonismo", cerca de 1901). Ela foi rápidamente seguida por outras como Rose O'Neill, Grace Drayton, Kate Carew, Jean Mohr, Marjorie Organ, Margaret Hays, etc-todas antes de 1910."
Contudo, nos EUA confunde-se bastante o cartoon, na concepção francofona de caricatura de intervenção socio-politica, com a tira cómica, e outras formas de uso do desenho de imprensa, da BD (comics) e até animação. Se a Tira Cómica (Comic strip) triunfou, como filho natural do Cartoon editorial, foi nesse campo que a mulher melhor se enquadrou para sobreviver ao longo dos anos. Só muito esporádicamente as mulheres cartoonistas editoriais conseguiram furar o cerco masculino, e ainda hoje elas são uma raridade que contudo vencem tudo, atingindo com todo o mérito o Prémio Pulitzer, como aconteceu com Signe Wilkinson e Ann Telnaes.
Em relação ao resto do mundo a história é outra. Na realidade, os meus conhecimentos não são muito profundos, mas a ignorancia está generalizada, já que os nomes de mulheres pelo menos não aparecem nas Histórias a que eu tenho acesso.
Surgem sim a partir da decada de setenta. Sim Claire Bretecher aparece mais cedo em França. Em relação aos países das cartoonistas que nos responderam podemos transcrever as suas informações: "No meu país – responde a colombiana Nani - a referencia que tenho é Consuelo Lago, tem um personagem que se chama a "negra nieves"; "No meu país, Uruguay, - escreve Raquel Orzuj - não existe uma tradição da arte de humor gráfico da mulher. Alguns especialistas na disciplina, consideram-me uma pioneira da mesma". Na realidade na américa Central e Sul a luta é recente, mas com alguns objectivos conseguidos.
No Irão sabemos que existem 4 cartoonistas, na Turquia igual número, na Croácia cerca de meia dúzia, nos paises de Leste vão surgindo agora, como nos relata a Bulgara Nezhna Filipova – "A caricatura e a banda desenhada já existem na imprensa búlgara há 50 anos. Antes disso, apenas páginas humorísticas em periódicos, Não há testemunhos sobre mulheres-cartoonistas antes deste período.". Neda Gougouchkova acrescenta: "Eu sou uma das primeiras mulheres a trabalhar na área dos cartoons na Bulgária. No início dos anos 70 do século passado, os cartoonistas na Bulgária eram predominantemente homens e alguns dos nomes mais populares são Ilya Beshkov, Alexander Vendov, Stoyan Vendev, e também Todor Tzonev, que foi um aluno bastante talentoso de Iliya Beshkov. Mesmo nos dias de hoje ele é um dos nomes mais celebrados no campo dos cartoons e das artes plásticas satíricas. Como eu sou uma das primeiras mulheres cartoonistas, posso confidenciar que, depois da minha graduação na Academia de Belas Artes (com Placard como nuclear) participei pela 1ª vez numa Bienal do Cartoon intitulada "Motores, Carros e Ambiente" que teve lugar em 1979 nas salas de exposição da União dos Artistas Búlgaros, e ganhei o Prémio Satírico Placard. Logo a seguir, em 1981, ganhei o Prémio de Jovens Artistas na Bienal Knokke Heist na Bélgica, e na Bienal de Artes Satíricas em Gabrovo, Bulgária. Depois participei em muitas exposições de cartoons tanto na Bulgária como no estrangeiro. A partir de 1985-1988 outras mulheres-cartoonistas começaram a expôr mas os seus nomes apareceram só temporáriamente." Creio que existem actualmente meia dezena inscritas na Associação de Cartoonistas Bulgaros.
Na maioria dos casos apontam a década de setenta para o surgimento de mulheres como profissionais do humor gráfico. Em Portugal, o caso que conheço melhor, encontramos mulheres a participar nos Salões de Humoristas na década de dez, depois na década de vinte. São artistas plásticos que aproveitam as iniciativas irreverentes dos humoristas para se imporem no meio dificil, e masculino que é o das artes plásticas de então. Na realidade não são humoristas, eventualmente usam um tom de ironia, um tom sócio-pitoresco mas nada mais, como é o caso de Maria Adelaide de Lima Cruz. Mamia Roque Gameiro publicará algumas anedotas ilustradas, mas dedicar-se-á fundamentalmente à historieta e ilustração Infantil. Angela Caldas, Guida Roque Gameiro Ottolini, Maria Fernanda, Maria Luisa Pinto Rodrigues, Marinela, Otília são assinaturas que aparecem num ou outro raro desenho humorístico. A primeira mulher a publicar na imprensa portuguesa com continuidade, e de forma interventiva é Maria Almira Medina.
Entretanto algumas mulheres aparecem no campo da ilustração, da tira de histórias infantis... No Humor gráfico seria necessário passarem-se quase meio século para surgir outro expoente das artes da caricatura, de seu nome Joana Campante. Isso na década de noventa, para se ir desvanecendo no ensino e outras vertentes de ilustração, já que o mercado é dificil. Entretanto o retrato-charge de livros de Curso vai apresentando artistas como Mimi, Cesarina Silva, a imprensa regional já publicou cartoon de Amélia Correia e na ilustração Cristina Sampaio trabalha na fronteira do cartoon...
No maior parte dos casos, a mulher só surge no humor gráfico nas últimas décadas, com os movimentos do Maio 68, e consequentes movimentos de liberalização dos costumes. É certo que Olympe de Gouges (1748/1793), aquando da Revolução Francesa escreveu na Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã: "Mulher, acorda: o sino da razão toca a rebate. Reconhece os teus direitos: O poderoso império da natureza já não está envolvido em preconceitos, fanatismos, superstições, metiras...", mas como estava errada.
O caso da América do Norte é diferente, como escreveu Jan Elliot: "Houve mulheres no cartoonismo desde que esta forma de arte surgiu.". Trina Robbins, a historiadora da mulher cartoonistas nos States acrescenta: " A primeira mulher cartoonista que eu encontrei foi Louise Quarles, que fazia uma tira aos domingos chamada "Bun's Puns" (está no meu livro "Um século de Mulheres no Cartoonismo", cerca de 1901). Ela foi rápidamente seguida por outras como Rose O'Neill, Grace Drayton, Kate Carew, Jean Mohr, Marjorie Organ, Margaret Hays, etc-todas antes de 1910."
Contudo, nos EUA confunde-se bastante o cartoon, na concepção francofona de caricatura de intervenção socio-politica, com a tira cómica, e outras formas de uso do desenho de imprensa, da BD (comics) e até animação. Se a Tira Cómica (Comic strip) triunfou, como filho natural do Cartoon editorial, foi nesse campo que a mulher melhor se enquadrou para sobreviver ao longo dos anos. Só muito esporádicamente as mulheres cartoonistas editoriais conseguiram furar o cerco masculino, e ainda hoje elas são uma raridade que contudo vencem tudo, atingindo com todo o mérito o Prémio Pulitzer, como aconteceu com Signe Wilkinson e Ann Telnaes.
Em relação ao resto do mundo a história é outra. Na realidade, os meus conhecimentos não são muito profundos, mas a ignorancia está generalizada, já que os nomes de mulheres pelo menos não aparecem nas Histórias a que eu tenho acesso.
Surgem sim a partir da decada de setenta. Sim Claire Bretecher aparece mais cedo em França. Em relação aos países das cartoonistas que nos responderam podemos transcrever as suas informações: "No meu país – responde a colombiana Nani - a referencia que tenho é Consuelo Lago, tem um personagem que se chama a "negra nieves"; "No meu país, Uruguay, - escreve Raquel Orzuj - não existe uma tradição da arte de humor gráfico da mulher. Alguns especialistas na disciplina, consideram-me uma pioneira da mesma". Na realidade na américa Central e Sul a luta é recente, mas com alguns objectivos conseguidos.
No Irão sabemos que existem 4 cartoonistas, na Turquia igual número, na Croácia cerca de meia dúzia, nos paises de Leste vão surgindo agora, como nos relata a Bulgara Nezhna Filipova – "A caricatura e a banda desenhada já existem na imprensa búlgara há 50 anos. Antes disso, apenas páginas humorísticas em periódicos, Não há testemunhos sobre mulheres-cartoonistas antes deste período.". Neda Gougouchkova acrescenta: "Eu sou uma das primeiras mulheres a trabalhar na área dos cartoons na Bulgária. No início dos anos 70 do século passado, os cartoonistas na Bulgária eram predominantemente homens e alguns dos nomes mais populares são Ilya Beshkov, Alexander Vendov, Stoyan Vendev, e também Todor Tzonev, que foi um aluno bastante talentoso de Iliya Beshkov. Mesmo nos dias de hoje ele é um dos nomes mais celebrados no campo dos cartoons e das artes plásticas satíricas. Como eu sou uma das primeiras mulheres cartoonistas, posso confidenciar que, depois da minha graduação na Academia de Belas Artes (com Placard como nuclear) participei pela 1ª vez numa Bienal do Cartoon intitulada "Motores, Carros e Ambiente" que teve lugar em 1979 nas salas de exposição da União dos Artistas Búlgaros, e ganhei o Prémio Satírico Placard. Logo a seguir, em 1981, ganhei o Prémio de Jovens Artistas na Bienal Knokke Heist na Bélgica, e na Bienal de Artes Satíricas em Gabrovo, Bulgária. Depois participei em muitas exposições de cartoons tanto na Bulgária como no estrangeiro. A partir de 1985-1988 outras mulheres-cartoonistas começaram a expôr mas os seus nomes apareceram só temporáriamente." Creio que existem actualmente meia dezena inscritas na Associação de Cartoonistas Bulgaros.
Na maioria dos casos apontam a década de setenta para o surgimento de mulheres como profissionais do humor gráfico. Em Portugal, o caso que conheço melhor, encontramos mulheres a participar nos Salões de Humoristas na década de dez, depois na década de vinte. São artistas plásticos que aproveitam as iniciativas irreverentes dos humoristas para se imporem no meio dificil, e masculino que é o das artes plásticas de então. Na realidade não são humoristas, eventualmente usam um tom de ironia, um tom sócio-pitoresco mas nada mais, como é o caso de Maria Adelaide de Lima Cruz. Mamia Roque Gameiro publicará algumas anedotas ilustradas, mas dedicar-se-á fundamentalmente à historieta e ilustração Infantil. Angela Caldas, Guida Roque Gameiro Ottolini, Maria Fernanda, Maria Luisa Pinto Rodrigues, Marinela, Otília são assinaturas que aparecem num ou outro raro desenho humorístico. A primeira mulher a publicar na imprensa portuguesa com continuidade, e de forma interventiva é Maria Almira Medina.
Entretanto algumas mulheres aparecem no campo da ilustração, da tira de histórias infantis... No Humor gráfico seria necessário passarem-se quase meio século para surgir outro expoente das artes da caricatura, de seu nome Joana Campante. Isso na década de noventa, para se ir desvanecendo no ensino e outras vertentes de ilustração, já que o mercado é dificil. Entretanto o retrato-charge de livros de Curso vai apresentando artistas como Mimi, Cesarina Silva, a imprensa regional já publicou cartoon de Amélia Correia e na ilustração Cristina Sampaio trabalha na fronteira do cartoon...